Quem disse que construir teleférico é a mesma coisa que fazer urbanismo? Alguns iluminados da política torta, praticada por esse País afora, estão descartando um plano diretor, elaborado há alguns anos, para ser implantado na Rocinha, no Rio de Janeiro, a fim de construir ali um teleférico, como se esse equipamento limitado de transporte constituísse, por si só, a solução geral e irrestrita para todos os males urbanos locais.
Felizmente algumas vozes, dentre elas a do arquiteto Luiz Carlos Toledo, que elaborou o plano diretor socioespacial para aquela favela, hoje ocupada pelas forças de segurança do Estado, começam a denunciar a possível mudança de enfoque prevista para ser ali adotada.
A simples construção de um teleférico vai na contramão de um plano cuidadosamente articulado, estudado junto à comunidade, para atendimento de seus interesses. Pelo estudo que foi feito, o que a comunidade entendeu, como obras prioritárias para a melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos, diziam respeito a cuidados com saneamento, equipamentos urbanos (escolas e postos de saúde, em especial) e moradia decente.
As obras, com essa orientação, teriam em vista adequações viárias e eliminação de barreiras físicas para a mobilidade urbana, obras de drenagem, para evitar deslizamentos nos morros e a construção de cinco planos inclinados para superar os desníveis que os estudos apontaram como os mais críticos.
Ocorre que teleférico fica lá no alto, dá na vista e o impacto midiático que ele provoca acaba dissimulando a falta de senso político e urbanístico. Só com o passar dos dias o equívoco acaba sendo, na prática, desmistificado. Mas, aí, o teleférico estará em operação e aquilo que seria o essencial, para ser feito, acaba empurrado para as calendas, com a barriga. A conta pelo erro será inapelavelmente paga pelo contribuinte e jamais pelos administradores de plantão, responsáveis pela tolice cometida.