Nem mesmo a turbulência na economia mundial está conseguindo inibir o comércio milionário de terrenos para instalação de indústrias e comércio na Região Central de Minas Gerais. Aproveitando a escassez de áreas nos distritos industriais e da incapacidade financeira das prefeituras de incentivar o setor produtivo com doação de terra e infraestrutura, os donos de terrenos estão fazendo a festa. As ofertas nas principais saídas de Belo Horizonte chegam a R$ 20 por metro quadrado (em terrenos menos valorizados), o dobro do que se pedia às empresas há dois anos. Nas zonas urbanas mais valorizadas, que ainda têm espaço para abrigar novos empreendimentos, os preços podem atingir R$ 2 mil por metro quadrado. Em geral, pequenas indústrias necessitam de imóveis a partir de 5 mil m2 – o que joga o terreno para a proibitiva zona do milhão.
Essas verdadeiras fortunas são pedidas nos eixos de ligação da capital mineira às cidades mais industrializadas das regiões Metropolitana e Central do estado, como Betim, Sabará, Nova Lima e Sete Lagoas, e em municípios a exemplo de Jeceaba, sede da nova fábrica de tubos de aço da VSB, empresa resultante da parceira entre os grupos Vallourec Mannesmann e Sumitomo Metals, que vai consumir investimentos de US$ 1,6 bilhão. Em Betim, cerca de 100 empresas com pretensões de investir estão na fila aguardando por um terreno legalizado como área pública destinada a projetos de desenvolvimento econômico, conforme levantamento da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária local.
Susto
A notícia da venda por R$ 5 milhões no fim do ano passado – quando a crise já havia mostrado seu fôlego – de 50 mil m2 em área valorizada da cidade, próxima do pátio da Fiat Automóveis e seu cinturão de fornecedores, assustou as empresas com planos de expansão. Afinal, cada metro quadrado foi avaliado em R$ 100. Os mais prejudicados são, principalmente, os pequenos e médios empreendedores, conta Helvécio Siqueira Braga, presidente da associação.
“Se a empresa sair fora das áreas públicas destinadas às indústrias, esbarra na supervalorização provocada nos últimos anos. Só as grandes têm poder de barganha nessa hora”, afirma Braga, dono da Padaria Castelinho. Trabalho feito pela Prefeitura de Betim indica que, até o fim do ano, devem estar em andamento os projetos de criação de dois distritos industriais, um deles em Citrolândia e outro às margens da BR-262, além de um terceiro, na fase de projeto, batizado de Bandeirinhas II.
Sindicatos filiados à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) têm tentado fazer espécies de pacotes para viabilizar distritos dedicados a setores específicos, como a recente criação de um pólo de empresas do setor de gemas e jóias em Nova Lima, numa área que abrigou a antiga Mineração Morro Velho, sucedida pela AngloGold Ashanti.
Outra opção buscada pelas empresas são terrenos a custos mais razoáveis e adequados à relocação de empresas, informa Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Industrial da Fiemg. “Endividadas, as prefeituras não têm condições de doar infraestrutura para investimentos industriais e não temos novas áreas públicas. Se em 2010 o país retomar o crescimento econômico, nossa preocupação é como ficará a oferta de áreas para abrigar novos projetos do setor produtivo”, afirma.
Novos projetos
O secretário de estado de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Barroso, diz que a pasta está trabalhando para evitar que a alta especulação imobiliária inviabilize a expansão de empresas. Além de apoiar os investidores nas negociações, a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas (Codemig) está construindo três distritos industriais e tem outros sete em fase de projeto. As áreas que serão oferecidas mais rápido vão atender grandes empreendimentos em andamento nas cidades de Jeceaba, Congonhas e Extrema, esta última no Sul de Minas, informa o presidente da Codemig, Oswaldo Borges da Costa Filho.
Fonte: Estadão