Tirar o atraso do transporte de massa sobre trilhos nas cidades

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Trens urbanos e metrôs ganharam importância no País com os projetos de transporte para os grandes eventos esportivos

José Carlos Videira

 

Apesar de muitas obras de mobilidade não terem sido entregues para a Copa do Mundo, boa parte foi concebida sobre trilhos. “Muitos dos investimentos foram propostos em função do megaevento”, lembra o presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores. Segundo ele, talvez o País não tenha aproveitado tudo o que podia dessas oportunidades, mas, pelo menos, 25 projetos estão em andamento.
 
Flores, da ANPTrilhos: Ferrovias voltam a ser consideradas
 

“Representam um total de 331 km, incluindo metrôs, monotrilhos, trens urbanos, Veículos Leves sobre Trilhos e trens regionais”, calcula Joubert. Mesmo que não tenham ficado ou não fiquem prontos agora, “pelo menos, os projetos estão iniciados, e em algum momento vão acabar atendendo à população”, ressalva o dirigente.

O presidente da ANPTrilhos, que representa 99% das empresas que transportam passageiros sobre trilhos no Brasil, participou do Workshop Transporte Urbano, no Connected Cities Summit, “O Futuro da Infraestrutura Brasileira”, evento promovido pelo governo britânico, no Centro Brasileiro Britânico, no início de junho, na capital paulista.

Metrô de Salvador: primeiro trecho de 7 km foi inaugurado no início de junho, depois de 14 anos do início da obra

Joubert ressalta que, além dos empreendimentos ligados aos eventos esportivos, “existem mais outros 20 projetos de ferrovias urbanas”. Segundo ele, são cerca de 1,8 mil km de trilhos que podem duplicar a atual malha existente no País. “Nos últimos dez anos, as ferrovias urbanas no Brasil voltaram a ser levadas em consideração”, ressalta o presidente da ANPTrilhos.

Ele diz que o mais importante é que o conceito mudou, e o próprio governo entende que a mobilidade sobre trilhos é estruturante, necessária e precisa ser incentivada. “Queremos aproveitar essa nova postura.”

O presidente argumenta que é um contrassenso imaginar um país do tamanho do Brasil com tão pouca opção de transporte de massa, como trens. “O Brasil, país com 200 milhões de habitantes, transporta apenas 9,1 milhões de passageiros sobre trilhos por dia. “Só o metrô de Xangai, na China, transporta 7 milhões de pessoas diariamente”, compara.

Obra de monotrilho na Zona Leste de São Paulo, cujo sistema de metrô tem 40 anos e apenas 70 km de linhas

De acordo com a ANPTrilhos, a demanda de passageiros tem subido bastante. De 2010 a 2013, o número de passageiros no sistema metroferroviário subiu 11%, para 2,7 milhões de passageiros por ano. “Nesse mesmo período, só tivemos o crescimento de 3% na rede”, acrescenta Flores.

O Brasil tem 15 operadores de metrô, sendo três privados, que gerenciam 16 sistemas de passageiros, distribuídos em 12 Estados e o Distrito Federal. Ferrovias urbanas estão presentes em menos de 48% dos Estados brasileiros.

Em todo o Brasil, os sistemas metroferroviários urbanos totalizam pouco menos de mil km, em 38 linhas, segundo Joubert, número muito acanhado. “O metrô de Xangai tem 19 anos e 500 km”, ressalta. Ele acrescenta que o metrô de São Paulo, com seus 40 anos de operação, tem somente cerca de 70 km.

A grande defasagem no transporte de passageiros sobre trilhos, segundo Joubert, é decorrente da opção feita pelo governo pelo transporte sobre pneus, há mais de 50 anos. Ele afirma que, quando o governo implantou a indústria automobilística, na década de 1950, optou por concentrar tudo no transporte sobre pneus. “Não é porque temos rodovias que tínhamos de erradicar as ferrovias”, lamenta. Segundo o executivo, nem é só trilhos, nem só pneus. “Tudo depende da integração e da interoperabilidade dos modais”, frisa.

Experiência britânica

O especialista em ferrovias no UK Trade & Investment, Jake Rudham, falou da experiência britânica em ferrovias urbanas. Láa realidade é bem diferente da brasileira. As ferrovias têm um papel preponderante na mobilidade.

As ferrovias na Grã-Bretanha são muito importantes, representam investimentos anuais de £ 12 bilhões, geram 200 mil empregos e representam 40% da cadeia de suprimentos.

Segundo Rudham, a rede de ferrovias britânica tem mais de 32 mil km e 2.500 estações. “Só o metrô de Londres, com 150 anos de existência, possui 11 linhas, 270 estações e 400 km de trilhos”, destaca. Segundo o especialista, são 1,3 bilhão de viagens e 50 bilhões de passageiros na Grã-Bretanha por ano.

Rudham atribui o sucesso britânico à participação da iniciativa privada. “Desde a privatização das ferrovias nos anos 1970, o volume de passageiros por km cresceu 102%”, afirma. Ele acrescenta que a quantidade de viagens também avançou 104% e a demanda por frete, 48%.

O especialista antecipa que, na Grã-Bretanha, a previsão é de o número de passageiros dobrar em 30 anos. Por isso mesmo, os investimentos no setor não param. “Até 2019, deverão ser investidos £ 14 bilhões em melhorias de ferrovias na Grã-Bretanha, incluindo estações e linhas. Segundo Rudham, não é à toa que o nível de satisfação dos usuários de ferrovias na Grã-Bretanha “é um dos maiores em toda a União Europeia, e as ferrovias britânicas estão entre as mais seguras da Europa”.

Rudham ressaltou a verdadeira revolução em curso no setor de ferrovias urbanas na Grã-Bretanha com a construção da Crossrail, uma das maiores obras de infraestrutura da Europa, que deverá ficar pronta em 2018 ao custo de £ 14,5 bilhões. A Crossrail interligará a região metropolitana de Londres, de leste a oeste , de Shenfield a Taplow, com cerca de 100 km de linhas e 40 estações, incluindo dez novas, cortando o centro de Londres por meio de 21 km de túneis gêmeos.

Outro investimento, de £ 6,5 bilhões, está sendo destinado à Thameslink, uma linha de 225 km que corta Londres de norte a sul (de Bedford a Brighton), atravessando o rio Tâmisa. “A linha aumentará a capacidade da seção central de Londres para acomodar trens maiores e com mais frequência”, enfatiza.

Obra do túnel gêmeo de 21 km da Crossrail, que passará sob o centro da cidade de Londres

Sistema Metroferroviário Brasileiro

Sistema de Metrô de Londres

972,5 km

400 km

38 linhas

11 linhas

3.900 carros em operação

501 estações

270 estações

 

 

Fonte: Revista O Empreiteiro


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