Todo dia é dia de falar de enchentes

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Notícia de jornal, sobre obras de combate a enchentes, me estimula a pensar que todo dia é dia de falar e, se possível, até de trombetear esse problema. E que, por mais que ele seja colocado e recolocado como prioridade, sempre é mantido, na memória burocrática oficial, como alguma coisa a ser esquecida. Pelo menos, até as próximas chuvas.

Quando as águas tomam conta das ruas, roncam nas bocas-de-lobo, exibem a precariedade das galerias e se espalham pelas marginais, voltando a ocupar tradicionais pontos de alagamento e criando outros, o prefeito e sua entourage saem do gabinete e divulgam mil e uma obras em andamento ou em projetos. E, mostram o volume de recursos alocados ou em perspectiva, para as obras contra enchentes. Quando as águas refluem, o cenário muda e o que se vê, em relação aos serviços com aquele fim, é o retorno à mesmice e à expectativa de que a memória das enchentes se disperse e desapareça com a chegada do sol.

No fundo, sabe-se que as obras jamais deixarão de ser soluções insatisfatórias e pontuais. A cidade de São Paulo expandiu-se demais a partir de uma estrutura física que continua a mesma. E, ao longo dos anos, as diversas administrações que vieram se sucedendo não tiveram imaginação ou vontade política para resolver a questão da impermeabilidade extrema do solo urbano. Com os rios, ou simulacros dos rios, apodrecidos, e sem condição de se conferir alguma velocidade à vazão das águas que, com as enchentes, vêm de córregos ou galerias, a população fica refém das cheias.

A notícia de jornal, elaborada com base em dados da própria prefeitura, diz que até julho último, somente 15,8% dos recursos previstos para obras de drenagem e saneamento, correspondentes a R$ 32,5 milhões, tinham sido empenhados.

Ao lado dessa informação alarmante, vem outra: o governo estadual ainda não concluiu um novo sistema de alerta de chuvas para reduzir os impactos das próximas cheias. Se mesmo essas coisas tão necessárias não são realizadas, o que a população deve esperar das próximas chuvas? – Possivelmente mais tragédias, mais Jardim Pantanal. E, novamente, o governo estadual ou municipal vai aguardar que a memória coletiva, no esforço diário pela sobrevivência, esqueça o que não foi feito a fim de que nada venha a ser feito até as próximas enchentes.

Fonte: Estadão


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