“O homem precisa aprender que ele é agente do seu próprio destino. Ao adquirir conhecimento, tem que adquirir competência para torná-los produtivos. Todo mundotem que ser um portador de serviços”.
De Norberto Odebrecht, fundador da construtora
Várias décadas depois dessa declaração acima, o fio condutor do pensamento do homem que criou a construtora que tem o seu nome – matriz da Organização Odebrecht – se entrelaça com o pensamento do neto, Marcelo Odebrecht, atual presidente da holding: “Nosso maior desafio continua a ser o mesmo exposto pelo meu avô: identificar, promover o desenvolvimento e integrar os empresários, conscientes das suas responsabilidade perante os seus clientes, sócios, acionistas e comunidades onde trabalhamos”. Resumidamente: “Todo mundo tem que ser um portador de serviços”.
O nome do fundador tem raízes seculares e remete aos antecedentes da família, na antiga Prússia. Seu pai se chamava Emílio Odebrecht e, a mãe, Hertha Odebrecht. Emílio pai viveu inicialmente em Santa Catarina, onde chegou até a ajudar o pai (avô de Roberto), em serviços de cartografia para montagem de linhas telegráficas e construção de ferrovias.
Em 1914, então com 20 anos, Emílio se mudaria para o Rio de Janeiro. Ali encontrou o primo Emílio Baumgart que estudava na Escola Politécnica e trabalhava na Companhia Construtora em Cimento Armado, fundada pelo Alemão Lambert Riedlinger. Com o primo e Riedlinger, Emílio participaria, segundo dados da época, da fase inicial da chamada “era do concreto armado” no Brasil.
Jovem, ele viu o desdobramento dessa “era do concreto armado”: a construtora de Riedlinger viria a participar de obras memoráveis, tias como a construção do edifício do jornal A noite, no Rio de Janeiro, e a da Ponte Maurício de Nassau, no Recife. Com 180 m de comprimento, essa obra constitui um recorde da engenharia estrutural brasileira naquele começo de século. Emílio, que participara dessa obra, mudou-se de vez do Rio para Recife, onde se casou com Hertha Hinsch. Então com 24 anos, ele revelou-se disposto a cuidar dos seus próprio negócio e fundou uma pequena construtora. Contudo, em 1925 ele se mudaria, com a família, para Salvador. Norberto Odebrecht havia nascido no Recife cinco anos antes.
Norberto seguiu os passos do pai. Em 1944, formado engenheiro, fundou a construtora que preserva o seu nome. Era uma empresa pequena, que se limitava a realizar serviços locais. Só mais tarde ousaria avançar para outras regiões do Estado. Mas foi crescendo e se tornando conhecia. Atravessou os limites da Bahia e, nos anos 1960, já atuava em todo o Nordeste.
Em fins daquela década, ela começou a prospectar obras no Sul e no Sudeste. No começo dos anos 70 estava construindo a sede da Petrobras, no Rio de Janeiro e conquistava as concorrências para construir a Aeroporto do Galeão e a usina nuclear de Angra dos Reis. Foi ali, no Galeão, hoje Aeroporto Internacional “Tom Jobim”, que a empresa sobressaiu-se do ponto de vista de pioneirismo técnico, ao utilizar, pela primeira vez no País, concreto protendido pelo processo Dywidag na pavimentação das pistas de rolamento.
Nos anos 1980, na expectativa de dar maior impulso às iniciativas voltadas para a participação de grande porte na área da infraestrutura, ela adquiriu o controle acionário da Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), empresa fundada em São Paulo em 1931 e com a qual criou a Holding Odebrecht S.A.
Homens de Construção do Ano
A Construtora Norberto Odebrecht lançou-se a outras iniciativas. Havia construindo a hidrelétrica de Charcani, no Peru, e dava andamento às obras da hidrelétrica de Capanda, em Angola, obra visitada pela revista O Empreiteiro em 1985 e que seria objeto de matéria na edição em que Emílio Odebrecht, filho de Norberto, sagrava-se Homens da Construção do Ano. Manteve a tradição do pai, que antes recebera título semelhante da revista.
Emílio fora reconhecido como pioneiro nos anos 1980, quando conseguiu promover a grande abertura da empresa para o exterior. Simultaneamente às obras que construía em outros países, a Odebrecht veio a expandir sua atuação no ramo petroquímico, com a aquisição de novas participação acionária. Ao mesmo tempo, a Técnica Nacional de Engenharia S. A., a Tenenge, foi incorporada ao grupo. A aquisição constituiu o grande salto da empresa no segmento de montagem industrial.
Com obras na América Latina e África, a holding se voltou para os mercados da Inglaterra e dos Estados Unidos. Enquanto costurava uma ampla rede de negócios em vários continentes, aproveitou a abertura brasileira para a política das concessões e privatizações. Em meados dos anos 1990 integrava a Companhia de Concessões Rodoviária (CCR), responsável pela administração das rodovias Dutra, Bandeirante, Anhanguera, Via Lagos e Ponte Rio-Niterói. Depois, já associada ao Grupo Mariani, adquiriu o controle da Petroquímica do Nordeste (Capene), que seria a matriz da Brasken.
A terceira geração
Emílio Odebrecht, que sucedeu ao pai na presidência da holding, na década de 1980, passou a direção do Grupo a Pedro Novis, que integrara os quadros diretivos da CBPO. A partir de 2008, esse ciclo tomaria outro rumo. É que chegara a vez do neto Marcelo Odebrecht. Ele assumiu a presidência da organização. Era a terceira geração à frente dos negócios da família. A essa altura a Odebrecht já estava com o seu processo de internacionalização fortemente consolidado.
Os empreendimentos mais recentes, dos quais a Norberto Odebrecht está participando, são usina hidrelétrica de Santo Antonio, no rio Madeira, em Rondônia; expansão do Aeroporto de Miami, nos Estados Unidos; Trem de Alta Velocidade Lisboa-Madri; o metrô e a terceira ponte sobre o rio Orinoco, na Venezuela; Rodovia Transoceânica e outras. Ela acaba de vencer a concorrência para construir o metrô do Panamá.
Ela fecha o ano de 2010 como um conglomerado de doze empresas, com 120 mil integrante (60% no Brasil e 40% em outros países) e uma média de mil a 3 mil contratações/mês. A Engenharia & Construção da Odebrecht engloba seis empresas: Odebrecht Industrial, Infraestrutura, América Latina e Angola, Venezuela e Internacional.
A empresa, a primeira do Ranking da Engenharia Brasileira deste ano (2010), da resista O Empreiteiro, mantém-se fiel aos postulados de origem, expressos no titulo do livro do fundador; “Sobreviver, crescer, perpetuar”.
3 gerações na mesma empresa: Norbeto, Emilio e Marcelo Odebrecht
*Arquivo Norberto Odebrecht
Fonte: Padrão