Um desafio às concessionárias que assumirem Galeão e Confins

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Nildo Carlos Oliveira

A primeira impressão é a que fica. Por isso, os aeroportos precisam ter uma arquitetura que impressione. Mas a arquitetura não é tudo. Se ela não casar estética com funcionalidade, a primeira impressão que fica não será aquela provocada pela beleza, que estará correndo o risco de virar pó.

Por isso, está sendo colocado um desafio aos consórcios que vierem a conquistar os leilões para as concessões dos aeroportos de Confins e Galeão: a modernização projetada deve ter em vista transformá-los em ícones tanto da arquitetura quanto da funcionalidade.

O Brasil já teve experiências importantes na concepção de aeroportos. Congonhas, na interventoria de Armando de Salles Oliveira, lá em meados dos anos 1930, resultou de projeto que lhe conferiu uma feição urbana simpática. E o mesmo ocorreu com o Santos Dumont, até recentemente considerado um dos mais bonitos do mundo.

Inicialmente chamado de Aeroporto do Calabouço, ele só viria a ser batizado com o nome do pioneiro da aviação a partir de outubro de 1936, ao ser inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas. O projeto, que tinha em vista, em sua origem, uma estação para hidroaviões, teve a participação dos arquitetos Atílio Corrêa Lima e dos irmãos Roberto, Marcelo e Milton Roberto. Hoje, com as reformas para ampliá-lo, ele perdeu um pouco do glamour do passado, mas continua com o selo de um dos mais bem localizados do mundo. Segue, no caso, o modelo do Aeroporto de Orly, cantado em prosa e verso pela beleza, simplicidade e pela facilidade de comunicação visual proporcionada aos usuários.

Cobra-se dos aeroportos a condição de ícones de uma arquitetura que mexa com o nosso imaginário. Não uma arquitetura insossa, que canse pela monotonia da linearidade e da falta de colorido, conforme se observa em grande parte dos aeroportos brasileiros e cuja funcionalidade lembra a das rodoviárias entupidas.

Há exceções, considerando a escala e o tempo, pois vários aeroportos, que antes poderiam estar na categoria de bonitos e confortáveis, hoje não oferecem mais aqueles atrativos. E estes têm sido alguns dos motivos de estar sendo entregues à concessão privada, na expectativa de que sejam renovados para atender ao aumento da demanda e agregar os avanços da tecnologia, do conforto e dos novos conceitos de sustentabilidade.

Difícil imaginar aeroportos com arquitetura despojada do conteúdo estético e de funcionalidade, quando os usuários têm como estabelecer comparações entre eles e obras como o Museu da Música, projetado pelo francês Christian de Portzamparc, ou o Museu do Amanhã, do espanhol Santiago Calatrava, o mesmo arquiteto que projetou o surpreendente terminal intermodal de Lisboa, a Gare do Oriente, construída em 1998 e até hoje motivo de admiração do povo local e do povo que passa.

No Brasil, a tradição dos belos aeroportos pode e deve ser resgatada, como acontece com o Aeroporto Internacional Gilberto Freyre, mais conhecido como Aeroporto dos Guararapes, no Recife, e cuja modernização teve projeto arquitetônico do escritório Moretti Arquitetura e projeto básico da projetista Maia Melo.

Outros exemplos de aeroportos, cujos projetos buscaram a funcionalidade obtida por conta da tecnologia e do emprego de modernos materiais e sistemas, estão aí pelo mundo. Usuários costumam apontar o Aeroporto de Hong Kong e também o Incheon, da Coreia do Sul; há aqueles que indicam o de Kaflavik, na Islândia; o Princesa Juliana, em Saint Maarten, no Caribe, e até o Aeroporto da Ilha da Madeira, que teve sua pista ampliada pela Andrade Gutierrez e cuja estrutura avança sobre o mar. E por que não nos referirmos ao de Vancouver?

Dentre os mais bonitos se inclui também o novo terminal do Uruguai, projetado pelo arquiteto daquele país Rafael Viñoly. Os exemplos proliferam, mas, conforme disse, há algum tempo, o arquiteto Sérgio Parada, responsável por uma das mais importantes intervenções no Aeroporto de Brasília no começo dos anos 1990, tudo é uma questão de programa e de planejamento, desde a concepção do projeto, até as mínimas coisas, nos cuidados com a eficiência das operações e com a qualidade da obra. A beleza está na simplicidade e no conforto que devem ser proporcionados à vista e ao espírito. O desafio está lançado.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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