Há tempos não para de circular pela cidade de Goiânia (GO) e pelos órgãos públicos da administração municipal e estadual, a ideia da construção de um museu destinado a preservar a memória do criador daquela capital. Até se cogitou da instalação do acervo do arquiteto Attilio Corrêa Lima, autor do plano urbanístico da cidade, no prédio da antiga estação ferroviária. Mas a ideia não prosperou.
Há quem defenda a elaboração de um projeto para um prédio específico. E outros acham que a antiga estação ferroviária tem espaço amplo e apropriado para tal finalidade. Mas, seja qual venha a ser a solução encontrada, um fato é inconteste: Attilio tem história, acervo e sua memória é um patrimônio de Goiânia.
O criador daquela capital, fundada em 1933, graduou-se engenheiro-arquiteto em 1925 pela antiga Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Depois, a convite de Lúcio Costa, ministrou aulas de planejamento urbano naquele mesmo estabelecimento. E foi por conta da necessidade de ampliar seus conhecimentos nessa área, que decidiu complementar estudos no Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris, tornando-se o primeiro profissional formado especificamente em urbanismo, no Brasil.
Homem organizado e com os pés no chão, foi responsável, em 1930, por um plano diretor para Niterói (RJ). E, dadas as influências da época, esse trabalho, intitulado Avant-projet d´aménagement etc d´extesion: de La ville de Niterói au Brésil, foi todo redigido em francês.
Mas seus trabalhos não se limitaram à área urbanística. Attilio Corrêa Lima, que nasceu em Roma, em 1901, era de espírito sensível e afeito à arte do paisagismo, campo em que buscou integrar e equilibrar a utilização de plantas tropicais e subtropicais em jardins públicos e privados.
Afinado com essa tendência, ele projetou os jardins da mansão da família Matarazzo, em São Paulo, e também os jardins da Granja Comary, em Teresópolis (RJ). Contudo, foi no plano urbanístico de Goiânia que ele deixou uma marca indelével.
No começo dos anos 1930, o interventor Pedro Ludovico Teixeira teve a ideia de mudar a capital de Goiás, que funcionava na cidade de Goiás, para outra região do estado. Ele estava convencido de que a mudança estimularia a Marcha para Oeste, movimento destinado a direcionar os excedentes populacionais goianos para os espaços demográficos ainda vazios do Estado.
O arquiteto e urbanista Atíllio Lima, contratado para projetar a nova capital, desenvolveu seu trabalho inspirado pela escola francesa de urbanismo daquele começo de século. Contudo, quando a cidade estava em processo de construção, ele rompeu com o governo estadual.
Para concluir o trabalho, foi convocado o engenheiro e urbanista Armando de Godói, que possuía uma visão urbanística diferente daquela de Attílio. O modelo de Godói era o das cidades-jardim da Inglaterra. Apesar disso, o legado de Attílio permaneceu e, a ele, historicamente, cabe o título de pioneiro no planejamento de Goiânia. Daí o esforço, em algumas áreas, para homenageá-lo com um museu.
Attílio faleceu em agosto de 1943, aos 42 anos, no mesmo acidente aéreo ocorrido no Aeroporto Santos Dumont, que provocou a morte do jornalista Cásper Líbero, proprietário e diretor do jornal A Gazeta.
Fonte: Revista O Empreiteiro