Um novo Niemayer em MG 70 anos depois de Pampulha

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Nova sede do governo, em fase de acabamento,
destaca o
edifício com vão livre de 147 m

"O problema dos espaços vazios, das áreas livres e arborizadas, tão esquecidas e desprezadas por toda a parte, cresceu em meu coração, e com tanta força que, acredito, vai influir, se tempo para isso houver, nos meus trabalhos futuros". A mensagem de Oscar Niemeyer sintetiza a linha adotada para o projeto da Cidade Administrativa, apontando para um novo tratamento às áreas abertas, sempre presentes em seus projeto, mas desta vez com maior enfoque para o verde. Mais do que criar monumentos que tenham também a função de abrigar diversos serviços do governo estadual, o complexo permitirá a recuperação de área ambientalmente degradada, a partir da criação do Parque Estadual Serra Verde, que deverá ser o segundo maior da cidade, e do Parque Linear Floresta, e preservará uma região rica em nascentes, animais e espécies vegetais.
Grande parte dos serviços públicos que hoje concentram-se na região central serão transferidos para a cidade administrativa, distribuída em dois edifícios de 15 andares, que deverão abrigar 18 secretarias e 25 órgãos públicos, e em mais três edifícios e a sede de governo. Estimase uma população de 16 mil servidores estaduais, e outros 10 mil/dia distribuídos ao longo de 265 mil m2 de área construída em terreno de 804 mil m2.
Idealizado pelo governador Aécio Neves, o complexo implementa um ciclo de relacionamento entre o arquiteto e o estado de Minas Gerais, em relação iniciada por Juscelino Kubitscheck, ainda na década de 1940, com o conjunto da Pampulha. Novamente, a arquitetura de Niemeyer tem a missão de oferecer à capital mineira um novo ícone arquitetônico, capaz de atrair investimentos e reinseri-la no roteiro turístico nacional, depois de 70 anos de ostracismo. Pretende ainda solidificar o caminho para uma modernização da capital mineira, já sonhando com os milhares de turistas por conta da Copa do Mundo, o que também exigirá novos investimentos em instalações hoteleiras e transportes.
A Cidade Administrativa deverá direcionar tais investimentos para a região Norte da capital e região metropolitana. Sua implantação associa-se a outras iniciativas como a revitalização do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, melhorias no aeroporto industrial, a construção da via expressa Linha Verde e a duplicação da avenida Antônio Carlos, todos ampliando o acesso para a região Norte. A etapa final será a construção de um ramal do metrô. Belo Horizonte sofre hoje os reflexos de um crescimento desordenado das áreas centrais, assim como outras grandes capitais do País, com áreas saturadas para novas ocupações, enquanto a região Norte possui amplas áreas livres aptas à expansão imobiliária. A iniciativa pode trazer significativa mudança para população, acostumada ao contato diário com os órgãos governamentais acondicionados na área central da cidade. E com certeza irá ser pago um preço político por isso.
Há quem se pergunte porque a mudança para local tão afastado. A resposta do governo é a seguinte: em que local a Cidade Administrativa seria mais útil? Ela significa novas oportunidades de investimentos privados, geração de emprego e renda, além da expansão mais ágial e ordenada do vetor norte". Outra justificativa é a redução de gastos com aluguéis, telefonia, trasporte, manutenção de prédios e demais custeio, que, segundo levantamento da Secretaria de Estado do Planejamento e Gestão (Seplag), chega a R$ 80,9 milhões a partir do ano que vem.
A obra favorecerá ainda as vizinhanças de comunidades carentes, como Serra Verde, Jardim dos Comerciários, Minascaixa, Nova Pampulha/Morro Alto, Canaã e São Benedito. Estão sendo aplicados R$ 20 milhões em obras de melhoria do entorno da Cidade, em reformas em escolas, postos de saúde e praças, construção de campos de futebol, quadras e iluminação, além de outras melhorias ambientais visando a implantação do Parque Estadual Serra Verde e do Parque Linear Floresta, ambos no bairro Serra Verde.
Na área do Saneamento, a Copasa tem feito intervenções para melhorar a qualidade da água do Ribeirão da Mata, que abrange os municípios de Capim Branco, Confins, Esmeraldas, Lagoa Santa, Matozinhos,Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, São José da Lapa e Vespasiano. A sub-bacia do Ribeirão da Mata, junto com a do Arrudas e do Onça, ocupa 10% da Bacia do Rio das Velhas, o que a torna fundamental dentro da meta da empresa para 2010, uma vez que está prevista a recuperação do Rio das Velhas com a finalidade de navegação, nado e pesca. Além das 11 estações de tratamento (ETE) em operação nestes municípios, outras duas entrarão em operação até o final do ano, em Nova Pampulha e São José da Lapa.

Edifício sustentado por tirantes
O principal eixo condutor do projeto para a Cidade Administrativa está no edifício de governo, com cinco pavimentos previstos, na dimensão de 147,5 x 26,60 m, suspenso apenas por tirantes protendidos. A obra foi construída sobre 30 pilares metálicos provisórios, permitindo a execução do edifício na ordem natural, que seriam retirados posteriormente, ficando sustentado por 30 tirantes formados por conjuntos de 36 cabos de aço. Os 1.080 cabos ficaram presos em 15 vigas de concreto de 20 m de comprimento e 3,4 m de altura, localizadas na parte superior e apoiadas em dois grandes pórticos paralelos de concreto armado. A estrutura do prédio foi concebida para suportar cargas em torno de 34 mil t.
Segundo José Carlos Sussekind, responsável pelo cálculo estrutural das obras da Cidade Administrativa e de outras obras do arquiteto, o projeto do edifício tem como principal virtude exibir a total transparência da estrutura, permitida pelo uso dos tirantes. A laje de cobertura – um prisma de vidro com quatro pavimentos, 146 m de comprimento e 18 m de largura – está inteiramente solta no ar. Laje e coberturas ficam suspensas por duas linhas de tirantes, finos, colocados a cada 10 metros e que se apóiam sobre pórticos nas duas fachadas, de maneira a ficar fora da projeção do edifício, com apenas duas colunas, vencendo vãos 80 m e criando balanços livres de 35 m. "Era este o desejo do arquiteto: o prédio sereno, suspenso, audacioso. Ele quis traduzir em concreto a visão que sempre teve de Minas Gerais. Ele pretendeu ainda atingir um nível conclusivo de sua arquitetura, 70 anos depois de ter concebido a Pampulha", observa o engenheiro.
A execução da área suspensa, considerada uma das maiores já executadas em todo o mundo, só foi possível

, diz Sussekiind, devido ao uso atual do concreto de alta resistência, além de cordoalhas de alta resistência. O engenheiro Mário Terra Cunha, responsável pelo projeto, destaca o uso de concreto com fck≥35 MPA, obtido com a adição de sílica ativa e também a adição de fibras de polipropileno multifilamentos nas vigas principais dos pavimentos, protendidas, melhorando a resistência ao fogo. Foram usadas ainda estruturas metálicas dos tirantes, previstas em aço estrutural SAC-350, com resistência à corrosão atmosférica. Nos pilares provisórios foram utilizados perfis em aço ASTM A-36.
Os outros dois prédios de 15 andares, destinados a abrigar secretarias e órgãos estaduais, também apresentaram grandes dimensões a serem vencidas, cada um com 240 m de comprimento, além do fomato curvo. A solução foi erguer os edifícios em cinco setores separados uns dos outros por juntas de dilatação de dois centímetros. A construção de cada edifício foi iniciada a partir do centro até as extremidades, em forma de pirâmide.
As obras foram divididas em três consórcios formados por nove empresas. O lote 1, que engloba a construção da sede do governo, auditório, praça cívica e serviços de infraestrutura (terraplenagem, drenagem, pavimentação), a cargo do consórcio formado pelas construtoras Camargo Corrêa, Santa Bárbara Engenharia e Mendes Júnior Trading e Engenharia. Para atender ao prazo de conclusão das obras, previsto para fevereiro de 2010 e da infraestrutura para março, o gerente do lote 1, Carlos Adriano Meira de Souza, explica que as obras são monitoradas diariamente. Ele destaca a combinação de soluções criativas, que tem facilitado o andamento dos trabalhos, como o emprego de formas deslizantes e a protensão das vigas do pórtico.
No lote 2, a cargo do consórcio formado pela Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão, as obras englobam a construção do prédio 1 das secretarias da Cidade Administrativa, com 116.240 m² de área construída. São 17 pavimentos, com um subsolo, um de pilotis, 13 pavimentos de trabalho, pavimento intermediário e um pavimento técnico, com 6.614 m de área útil por andar. Segundo Júlio de Souza, da Odebrecht, dentre as soluções aplicadas neste lote, destacam-se o uso de fachadas de alumínio e vidro, com painéis pré-fabricados. Nesse processo, a fachada consiste em painel de vidro duplo insulado com persiana embutida, tendo a função de ampliar o conforto térmico e acústico do edifício.
No lote 3, a cargo das empresas Andrade Gutierrez, Via Engenharia e Construtora Barbosa Mello, as obras consistem na execução do segundo edifício das secretarias e do centro de convivência. Esse setor está sendo implantado em área degradada ambientalmente, segundo informa o presidente da Codemig, Oswaldo Borges, contratante do empreendimento. O complexo irá incorporar a área de preservação e lazer Parque Estadual Serra Verde, o segundo maior da cidade, localizado em área rica em nascentes, animais e espécies vegetais. O parque terá a gestão do Instituto Estadual de Florestas (IEF).
O programa de obras inseriu solicitações ambientais, dentro do conceito de sustentabilidade. Por exemplo, sensores fotossensíveis controlam o atendimento de luzes de acordo com a presença de pessoas no ambiente. Elevadores inteligentes permitirão o uso racional dos equipamentos, reduzindo o consumo de energia. O sistema de água e esgoto será a vácuo permitindo uma redução do consumode água em 90% em relação á descarga convencional, seguindo para a Estação de Tratamento do Córrego do Onça, distante 15 km. Interceptores nas áreas vizinhas à cidade administrativa ajudarão a despoluir o córrego Floresta, que pertence a bacia do rio das Velhas.
Com a estimativa do acesso de 30 mil pessoas, também está sendo construída uma via de acesso ao empreendimento pela rodovia MG-010. Essa via tem 640 metros de extensão e inclui uma avenida marginal e um túnel de 152 m de comprimento, com três faixas para veículos de passeio, uma faixa de ônibus, ciclovia, passeio lateral e faixa de segurança. O investimento chega a R$ 65 milhões, com prazo de entrega em março.
Gerenciamento e fiscalização
Responsável pela fiscalização e gerenciamento das obras, a Leme Engenharia, segundo o seu superintendente de infraestrutura, engenheiro Luiz Carlos de Souza Rodrigues, optou por definir procedimentos para orientar as ações de sua equipe de fiscalização, de forma que pudesse assegurar, de forma eficiente, os acompanhamentos qualitativo e quantitativo do serviço, tendo diariamente a totalização e o avanço real das obras.
"Com a contribuição efetiva da Gerência Geral das Obras na rápida solução de problemas diários, o trabalho de fiscalização tem apresentado ótimos resultados, com uma contribuição efetiva no controle da qualidade, dos custos e dos prazos previstos", afirma Rodrigues.
Ele destaca que outro ponto fundamental para o sucesso nesse trabalho está sendo conhecer bem os projetos e a logística de execução das obras para estabelecer a melhor forma de acompanhamento dos serviços e para definir as equipes de fiscalização.
Nas ações técnicas desenvolvidas, Rodrigues cita como uma atividade especial e de grande responsabilidade a coordenação e a concatenação dos serviços inerentes ao controle geométrico e à qualidade das edificações no tempo necessário. "A locação das estruturas foi integralmente verificada e todo o material empregado passa por controle de qualidade, através de ensaios e testes realizados em laboratório. Essa atividade qualitativa tem exigido cuidados especiais por parte dos técnicos envolvidos".
Mesmo com uma vasta experiência em grandes empreendimentos no País e no exterior, Rodrigues afirma que a implantação da Cidade Administrativa tem um significado especial para a Leme, pela grandiosidade do projeto, a modernidade e o arrojo da arquitetura de Oscar Niemeyer. O desafio é fazer o acompanhamento diário devido ao grande número de frentes de serviços, o que exige uma logística própria. "Os resultados têm sido altamente satisfatórios e significativos, ampliando ainda mais o know how da empresa na área de engenharia do proprietário".
Essa experiência tem sido fundamental para enfrentar, atualmente, uma das fases mais difíceis das obras, com os serviços de instalações em geral e acabamentos, que requerem extremo cuidado. "Com isso, foi ampliada a atividade de controle de qualidade dos materiais empregados, das instalações e montagens para, na sequência, executar os testes de pré-operação", explica o engenheiro Luiz Carlos de Souza Rodrigues, da Leme Engenharia.

Concretagem usa sistema de autobombas inédito no Pa&i

acute;s

Uma autobomba para concreto Schwing Stetter, modelo P 2023 S 42 SX, considerada a maior autobomba com mastro existente no Brasil, foi utilizada pela empresa fabricante e pela sua parceira a Wanmix, de serviços de concretagem, na construção da Cidade Administrativa de Minas Gerais.
O equipamento, inédito no País, com mastro de alcance vertical de 42 m e produção de 160 m3/h de concreto, possibilita o bombeamento e distribuição do concreto nas fundações, primeiras lajes e estruturas bases da obra. Na sequência da obra, foram utilizadas também as autobombas para concreto modelo S 32 X – Detchable, equipamentos inéditos e de última geração, com mastros desmontáveis, que podem ser separados da autobomba para concreto e montados diretamente nas lajes para a distribuição do concreto, facilitando o trabalho e liberando as gruas para a movimentação exclusiva de cargas.
Essas novas tecnologias, do grupo Schwing Stetter Brasil, aplicadas no bombeamento e distribuição de concreto na Cidade Administrativa, estão presentes nas maiores e principais obras de construção civil no mundo e agora se tornam disponíveis também no Brasil. A empresa, que já está no País há mais de 30 anos, participou de obras importantes como as hidrelétricas de Estreito e Santo Antônio, a Usina Nuclear de Angra, Rodoanel de São Paulo, entre outras.

Redenção de Pampulha

Projetado por Niemeyer entre 1942 e 1944, o conjunto arquitetônico da Pampulha, foi uma encomenda do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, com uma série de edifícios junto ao lago artificial da Pampulha. O complexo, com o projeto estrutural de Joaquim Cardozo, incluiria um cassino, um clube de lazer de alto padrão para esportes náuticos, um salão de danças, uma igreja e um hotel, além do acréscimo de uma residência de veraneio para o prefeito.
Mas o anseio de Kubitschek foi duramente criticado por sua elitização, e o complexo arquitetônico nunca foi muito compreendido pela sociedade mineira. Com a proibição ao jogo, o cassino se transformaria em museu, o salão de danças nunca chegou a funcionar, a interdição do lago impediu a prática de esportes náuticos, o hotel não foi construído, e a igreja esperou mais de 10 anos para ser consagrada, com forte rejeição por parte das autoridades da igreja às formas ali contidas. A igreja permaneceu durante catorze anos proibida ao culto. Aos olhos do arcebispo Dom Antônio dos Santos Cabral a igrejinha era apenas um galpão.
Do ponto de vista arquitetônico, no entanto, o conjunto antecipou a série de experiências e ousadias que Niemeyer empregaria na construção da nova capital, Brasília. A Igreja de São Francisco tornou-se ícone da arquitetura moderna por seu formato de abóbada parabólica em concreto, até então só utilizada em hangares. A abóbada na capela da Pampulha seria ao mesmo estrutura e fechamento, eliminando a necessidade de alvenarias. Em seu interior, a Via Sacra constituída por catorze painéis de Cândido Portinari. Tombada como monumento histórico, hoje a Igreja de São Francisco é um dos principais cartões postais da cidade. E o conjunto da Pampulha, ao lado da futura Cidade Administrativa, colocam Minas Gerais na rota do caminho arquitetônico traçado por Oscar Niemeyer ao longo de sua vida.

Vão livre: beleza e funcionalidade

Ao projetar a Cidade Administrativa com o vão livre de 147 m, Oscar Niemeyer buscou não só a beleza e funcionalidade das formas mas permitiu que a Engenharia e a construção civil dessem um passo à frente das idéias modernistas. O desafio do arquiteto no novo projeto foi dar vida ao vão livre suspenso, ressaltando a leveza do conjunto. No Brasil o arquiteto idealizara projetos semelhantes, como os prédios da Procuradoria-Geral da República, em Brasília, com uma cúpula de 80 m. Até então, o maior vão livre construído no País foi do prédio do Museu de Arte de São Paulo (Masp), projetado por Lina Bo Bardi, com 74 m.

Sonho realizado: O depoimento de Niemayer

Ao completar 102 anos de idade, em dezembro deste ano, o arquiteto Oscar Niemeyer vê mais um de seus sonhos realizado, com a conclusão das obras da Cidade Administrativa, encerrando o ciclo iniciado com a construção de Pampulha, há 70 anos.

O depoimento na íntegra

"Vou aproveitar a apresentação deste projeto – a Cidade Administrativa – para demonstrar como a adoção de uma arquitetura de escala maior se impõe em certos casos. E para evitar as críticas tão comuns e apressadas, sirvo-me, como exemplo, do projeto que elaborei (e foi construído) para a Universidade de Constantine na Argélia.
O programa que nos apresentaram para essa Universidade previa mais de 20 edifícios. E construímos apenas seis edifícios de grande porte – o de Classes e o de Ciências, com 300 metros de comprimento (pilotis e dois pavimentos).
No primeiro localizamos salas de aula e auditórios. No segundo, todos os laboratórios
que uma universidade requer. Desses prédios, do grande auditório e da biblioteca servem-se as faculdades, completando-se o conjunto com o Edifício da Administração e o restaurante.
Com essa solução evitamos a construção dos edifícios destinados às faculdades. E com isso o terreno – belíssimo – não foi dividido em pequenas áreas. A obra fi cou muito mais econômica, e a idéia da universidade aberta que Darcy Ribeiro defendia tornou-se realidade com a nossa arquitetura. Os alunos das diversas faculdades a se servirem dos mesmos edifícios – dos de Classes e de Ciências -, e com isso, o diálogo, a troca de experiências, que a universidade aberta do nosso amigo reclamava. As fotografi as que apresentamos mostram a força da sua arquitetura maior, monumental, que aos mais tímidos parece amedrontar. Quando o governador do Estado de Minas Gerais, Aécio Neves, veio ver o projeto da Cidade Administrativa, esperava, como a grande maioria, que o Palácio Governamental estaria cercado de 15 ou mais edifícios para atender o programa
fixado, e o terreno tão bem escolhido, dividido em pequenas áreas que aqueles prédios criariam.
E o seu espanto se transformou logo num grande entusiasmo quando lhe falei: "O projeto que elaboramos prevê apenas três edifícios: o Palácio Governamental e dois grandes blocos curvos com 200 metros de comprimento e 20 pavimentos". Neles seriam instaladas todas as secretarias.
Essa solução, continuei, vai facilitar e baratear muito a construção. Em vez de o governo ter de construir um conjunto com cerca de 20 edifícios, transformando o terreno em pequenos lotes, em princípio ter&aacu

te; apenas de construir três.
As ligações indispensáveis entre o palácio e as 17 secretaria fi carão reduzidas a uma rua subterrânea, onde seriam, com uma distância apenas de 200 metros, localizados os serviços telefônicos, telégrafos, postos de saúde, pequenas lojas, etc. Até as circulações de pedestres e veículos seriam independentes, a primeira ligada diretamente aos três edifícios e aos estacionamentos.
Senti que o governador se entusiasmava com o estudo apresentado e, sem falsa modéstia, acrescentei: ‘Acho que este conjunto vai fi car tão bonito, tão imponente, que diante dele criei uma larga rua de passeio – só pedestres – onde o povo, satisfeito, possa também apreciar a beleza desta obra que, a meu ver, vai marcar o início dessa arquitetura monumental que, em certos casos, se faz monumental’.
Releio este texto, e a importância das soluções de maior vulto que pesou mais fundo no meu pensamento de arquiteto. E oproblema dos espaços vazios, das áreas livres e arborizadas, tão esquecidas e desprezadas por toda a parte, cresceu em meu coração, e com tanta força que, acredito, vai influir, se tempo para isso houver, nos meus trabalhos futuros.
P.S: Até para o acesso particular do governador procuramos uma solução diferente: o mesmo elevador que vai levá-lo do seu estacionamento ao gabinete servirá ao heliponto."

Fonte: Estadão


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