Sempre que conversávamos, naquele começo dos anos 1970, fosse numa entrevista ou num simples bate-papo para ver o tempo passar, o tema do qual ele nunca se desviava era invariavelmente o mesmo: a segurança nas pistas. Minucioso nas observações e sem papa na língua para se manifestar, nem mesmo nos livros que escreveu e publicou, procurava enfocar com maior ênfase outro assunto, que não fosse aquele, objeto de sua obsessão: prevenção de acidentes.
Costumávamos nos encontrar na redação da revista ou no Instituto de Engenharia. E, toda vez que isso acontecia, lá vinha ele acenando com a necessidade de cuidados nas obras de engenharia rodoviária e viária. Dizia: “A maior parte dos desastres que acontecem todos os dias por aí pode ser atribuída a falhas nas curvas. A solução para controlar a lei da inércia e evitar esse absurdo é entender que as curvas devem ter uma sobrelevação. A recomendação do manual da American Association of State Highway and Transportation Officials é de que essa sobrelevação seja construída na borda exterior da pista”.
Quando circulava pela cidade — e ele não parava de circular por ela a fim de observar as obras de abertura de novas ruas e avenidas — costumava mostrar as inadequações de projetos, o que deixava construtoras apreensivas e, algumas, até revoltadas com a obsessão dele. Um dos maus exemplos de projeto que ele apontava era o Minhocão.
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“Por ali, em algumas curvas, não tem jeito. Se o sujeito estiver dirigindo a uma velocidade um pouco superior a 60 km/h poderá ser jogado para fora da pista”.
Ele se dizia pasmo com a relutância de administradores públicos em não atentar para os riscos nas pistas.
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Reconhecia que de nada adiantava contar com boas soluções rodoviárias na Castello Branco, Imigrantes, Ayrton Senna e Bandeirantes. “Os bons desenhos devem ser difundidos e executados no País todo”, pregava.
Os amigos leitores certamente já se deram conta de que o personagem da engenharia deste relato não é outro, senão o engenheiro e professor Ardevan Machado, nascido em São Paulo (SP) e formado pela Politécnica da USP, na turma de 1948.
Ele faleceu aos 77 anos e, ao longo de sua trajetória profissional, jamais abandonou o motivo de uma luta contínua, sem trégua, em favor da redução de acidentes nas pistas. Às vezes parecia um D. Quixote de La Mancha, de lança em riste, a lutar contra moinhos de vento.
Em abril de 1997, já aos 70 anos, viu o resultado de seus sonhos: a Câmara Municipal paulistana o homenageou depois da promulgação da Lei 12.321, que obrigava a prefeitura a reparar os locais perigosos da cidade e a indenizar as vítimas de acidentes nas “curvas assassinas”. Naquela oportunidade ele recebeu a Medalha Anchieta, homenagem que silenciou a boca dos que já consideravam a sua obsessão objeto de deboche.
Em outra homenagem, a Câmara conferiu o nome de Ardevan Machado a uma avenida, com as curvas adequadamente projetadas e executadas, na região de Itaquera, Zona Leste.
O engenheiro levou sua obsessão às aulas de engenharia que ministrava.
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E, aos alunos, costumava dizer: “O desenho está para o engenheiro da mesma forma como o bisturi está para a cirurgia. Anotem isso.”
Fonte: Revista O Empreiteiro