Uma longa trajetória de sete anos, percorrida com pontualidade britânica

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A revitalização da região de

East London será possível porque houve rigor no planejamento que manteve as obras dentro do prazo

Joseph Young

Aagência Olympic Delivery Authority (ODA) contratou de saída um consórcio de empresas gerenciadoras, que dedicou dois anos para planejar o conjunto extenso de programas para implantação do parque olímpico, alocou quatro anos para as obras, que estão em dia no cronograma, e reservou o ano de 2011 para comissionar as principais instalações, que receberão eventos a título de ensaio.

É a terceira edição de Olimpíada que a capital britânica realiza. A primeira foi em 1908 e a segunda em 1948 no imediato pós II Guerra Mundial, quando o governo britânico restaurou o Estádio de Wembley e foi possível contar com a participação de 4.104 atletas, a maioria alojada em escolas.

A proposta vencedora de Londres para a Olimpíada de 2012 partiu de uma ideia ousada de revitalizar a região de East London, uma área decadente onde residem imigrantes pobres e cujo índice de desemprego é visivelmente superior à média da região metropolitana da capital britânica.

East London precisava romper seu ciclo vicioso como espaço para moradias dos imigrantes pobres que chegam à Inglaterra e que se mudam quando melhoram de vida, ao invés de permanecer na região e contribuir para seu fortalecimento. A construção do Parque Olímpico está criando uma infraestrutura urbana na região e atrairá novos negócios, como shows e eventos esportivos, iniciando um novo ciclo de crescimento.

A região compreende os buroughs de Hackney , Newham, Tower Hamlets , Waltham Forst e Greenwith, ao sul do rio Tâmisa, com os piores índices sócio-econômicos e de criminalidade daquela região metropolitana. Dois terços da população são de etnias dominantes entre imigrantes; quase metade vive abaixo da linha de pobreza; os proprietários residentes representam apenas metade da media nacional e mais de 40% da população local é desempregada.

A atividade dominante na região são pequenas empresas que trabalham para projetos de produção de estúdios em Hollywood, nos EUA, e serviços correlatos à propaganda e indústria gráfica. A expectativa é de que os centros de transmissão e jornalismo do Parque Olímpico criem uma nova base de crescimento para essas empresas, configurando um novo pólo de negócios.

A Olimpíada de 2012 foi ainda o principal catalisador de um empreendimento comercial perto da estação de metrô de Stratford, formado por um complexo de shopping, escritórios e hotel. O chamado Stratford City vai oferecer, na abertura, 8.500 postos de trabalho, principalmente em lojas e serviços, já em 2011, podendo chegar ao dobro disso ao cabo das expansões posteriores. Uma escola foi montada para treinar a mão de obra local. É o maior empreendimento de varejo da Europa Ocidental e a principal esperança de uma retomada econômica para os residentes de East London.

A Vila Olímpica, projetada dentro do parque para alojar os atletas, desempenhará papel vital na transformação da região. Ao mesclar apartamentos para classe média com habitação social, de padrão britânico, o objetivo é formar uma população residente que se fixe na região, aproveitando as facilidades de lazer oferecidas pelo Parque Olímpico, que vai sediar eventos regulares esportivos e shows. As obras de transporte em metrô e rodovias vão facilitar o acesso de visitantes das regiões vizinhas. Aliás, o trem de alta velocidade britânico terá uma estação especial em Stratford, possibilitando ligações com o restante do país e os países da Europa através do túnel no Canal da Mancha. Por conta disso, a Deutch Bahn alemã está em pé de guerra com a SNTP francesa que tinha exclusividade na ferrovia rápida entre França e Inglaterra, ao oferecer o mesmo serviço a partir da Alemanha já em 2012, na Olimpíada.

Prioridade para o legado permanente

Desde a fase conceitual, o projeto concentrou-se no legado pós-jogos, de modo que o Parque Olímpico servisse de âncora para um novo polo residencial e de lazer, atraindo novos negócios e atividades. Essa preocupação se manifesta no Est&a

acute;dio Olímpico, que terá a sua estrutura e capacidade reduzida para se adequar ao uso da população, assim como o Centro Aquático, que terá suas arquibancadas provisórias removidas, e o ginásio de basquete, construído com estrutura removível, que deixará de existir após a Olimpíada. A Vila Olímpica que vai alojar os 17. 000 atletas será remodelada para comportar 3.000 apartamentos residenciais permanentes.

Do orçamento de US$ 11,5 bilhões, 75% foram destinados às obras que ficarão como legado dos jogos olímpicos, programados para 27 de julho a 12 de agosto de 2012. Isso inclui a recuperação de toda a área de 2,5 milhões de m² que recebeu rejeitos industriais ao longo de mais de 100 anos, incluindo a descontaminação do solo e entulhos que datam da II Guerra Mundial, cuja maior parte foi reaproveitada no paisagismo e terraplenagem do Parque Olímpico e nas obras.

Os arquitetos conceberam o projeto para criar uma comunidade onde as atividades são acessíveis a pé, com caminhos para pedestres e 22 pontes sobre diversos cursos d’água que atravessam o parque e o rio Lee, além de amplos espaços verdes.

Obras estão dentro do prazo

Lembrando algo da pontualidade britânica, as principais obras – e as complementares também – estão no prazo, para serem “testadas” ao longo deste ano sediando eventos variados. Mas essa pontualidade que reforça a tradição do país tem mais a ver com o planejamento meticuloso realizado por equipes profissionais de empresas especializadas de engenharia, que teve inicio há 7 anos.

A ODA contratou de cara, ciente do tamanho do desafio na implantação do Parque Olímpico, o consórcio CLM, constituído pela CH2M Hill americana, a construtora britânica Laing O’Rourke PLC e a gerenciadora também britânica Mace para a função de gerenciar o dia-a-dia das centenas de contratos. Eles se compõem de diversos programas que agrupam numerosos projetos, mobilizando dezenas de empresas projetistas e de arquitetura, quase uma centena de construtoras, 3 mil subempreiteiras e um contingente que alcançou mais de 12 mil trabalhadores em janeiro de 2011. É o maior canteiro de obras da Europa, com 6 mil veículos chegando ou saindo diariamente, através de apenas dois acessos monitorados por meios eletrônicos e guardas. Os caminhões transportam as cargas que chegam às estações ferroviárias, sendo as ferrovias o sistema de transporte usado preferencialmente pelos organizadores, para reduzir a emissão de carbono.

O consórcio cumpriu suas tarefas à risca, remunerado por fee mais bônus por cumprimento de etapas e prazos. O êxito desse contrato inovador, que divide os riscos e ganhos entre contratante e contratados, foi standard em todos os serviços de projeto, construção e montagem, além dos fornecimentos de equipamentos e materiais, criando uma nova modelagem que deve mudar até a política de contratação de obras públicas pelas agências britânicas daqui para frente. Cooperação e interesses comuns prevaleceram sobre outras questões.

100% dos espectadores virão pelo transporte público

Esta é a ambiciosa proposta da ODA – transporte público, ou de bicicleta ou a pé. Cerca de 80 milhões de libras foram investidos no sistema VLT chamado Docklands, incluindo a compra de 22 vagões novos, passando os trens a circular com três vagões cada, reformas na estação regional de Stratford e uma segunda travessia da linha sob o rio Tâmisa.

A Stratford International Station, destinada ao trem rápido britânico, passou a receber trens domésticos de linhas regulares, além de uma nova ponte de acesso, reduzindo a distância até a estação regional de mesmo nome. Esta recebeu reformas para ampliar as plataformas, novos elevadores e escadas mais largas. O trem rápido Javelin bateu o recorde nos testes, ligando a estação central St. Pancras em Londres ao Parque Olímpico em 6 minutos e 45 segundos. Este serviço vai funcionar apenas durante os jogos.

Outro projeto é a integração total dos sistemas de transporte em Londres, através de um novo Centro de Coordenação de Transportes-TCC, que foi testado pela primeira vez no Ano Novo em dezembro de 2010.

Cerca de 10 milhões de libras foram aplicados para melhorar todas as ciclovias e vias de pedestres, ligando as principais estações aos locais das competições no Parque Olímpico, incluindo nova pavimentação, placas de direção, rampas de acesso etc.

Uma frota de mil ônibus fretados estará operando para interligar estações estratégicas de transporte público aos locais de estacionamento dos espectadores, em toda a Inglaterra.

O metrô de Londres está implementando uma série de melhorias nas estações de maior movimento, além de novos trens climatizados e com acesso para portadores de necessidades especiais.

Geração de negóciosna Olimpíada 2012

+ 10 mil

empresas locais estão contratadas

Business Network no websitewww.london2012.com

“What are we buying?”

Facilidade de cadastramento

Oportunidades atuais e futuras

Fornecedores da ODA – Listagens disponíveis ao público

Website dedicado para editaiswww.competeFor.com

Business e-alerts

Relação com comunidades

Website com webcams operando 24h

Telefone de emergência 24

Visitas de escolas de East London

100 milvisitantes recebidos em visitas guiadas

100 mil pessoas inscritas como voluntaries

80% das obras prontasno Parque Olímpico

As principais instalações e o parque em si estão dentro do cronograma para serem entregues no verão, em junho/julho, um ano antes dos Jogos Olímpicos.

Estádio Olímpico – Concluído em menos de três anos, dentro do orçamento, mobilizou 240 empresas britânicas e 5.250 pessoas. Gramado e assentos colocados, torres de iluminação testadas.

Vila Olímpica – Mais de ¾ dos prédios com estrutura terminada e o 1º deles foi entregue. Paisagismo em fase adiantada.

Velódromo – Foi a 1ª instalação esportiva entregue

Centro Aquático – A já famosa cobertura em forma de onda está pronta. Prossegue a montagem da arquibancada provisória e do forro de madeira. As três piscinas foram testadas e recebem revestimento.

Handball Arena – Está concluído, com piso de madeira e arquibancada permanente.

Parque – 250 hectares de área verde estão em trabalho avançado de paisagismo. 1.500 árvores e milhares de plantas crescem com a chegada da primavera.

Custos da Olimpíada Londres 2012

Proposta original 2003

£ 4 bilhões

Orçamento 2007

£ 9,3 bilhões

Infraestrutura

£ 1,9 bilhões

Obras de transportes

£ 863 milhões

Segurança

£ 600 milhões

Estádio Olímpico

£ 516 milhões

Centro Aquático

£ 257 milhões

Vila Olímpica

£ 700 milhões + recursos privados

Fonte: Estadão


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