Potencial Engenharia desmontou o conjunto em Pojuca (BA) e o remontou na Província Petrolífera de Urucu da Petrobras, numa extraordinária operação de logística
Augusto Diniz
Pojuca é um município da região metropolitana de Salvador onde a Petrobras explora a produção de petróleo e gás natural. Lá, funcionava uma Unidade de Refrigeração de Gás Natural (URGN3) que deveria ser transportada para Urucu e sofrer atualizações e adaptações na nova planta.
No final de 2012, a Potencial Engenharia, depois de contratada pela estatal, deu início ao trabalho de desmontagem da unidade, condicionamento, transferência, construção, montagem, pré-operação e operação assistida na planta da Amazônia da petrolífera. Este mês (maio), depois de um bem executado projeto, a empresa de engenharia realizou o comissionamento da UPGN4 — a entrada em operação dela amplia a produção de gás local de 4,5 milhões m³ para 6 milhões m³.
Em linha reta, Pojuca e Urucu distam cerca de 3 mil km. Mas foi preciso percorrer cerca de 5 mil km para transpor as barreiras naturais até o local. Primeiro, mais de 2 mil km de rodovias, entre Pojuca e Belém (PA), utilizando veículos de transporte de cargas especiais. Em seguida, os conjuntos desmontados e equipamentos foram embarcados em balsas para subir o rio Amazonas. Em seguida, a parte mais desafiante do trajeto: o percurso por um dos rios mais sinuosos do mundo, o Urucu, que é afluente do Amazonas, até o porto Evandro, na Província Petrolífera de Urucu, no município de Coari (AM).
Rio Urucu
Entre as principais peças e equipamentos transportados da unidade, incluem-se peneira molecular, torre, skid, forno, eletrocentro e tubulações diversas. Para montar o cronograma de logística, respeitou-se as condições de navegabilidade do rio Urucu.
“O rio fica seco ou enche muito, dependendo do período e isso precisa ser muito bem observado”, explica o engenheiro Roberto Bernardes, gerente de contrato da Potencial Engenharia e que apresentou o projeto recentemente no II Workshop de Gestão de Obras, promovido pela revista O Empreiteiro.
No Porto Evandro, em Urucu, ainda foi preciso transportar por meio de veículos especiais, em um percurso de aproximadamente 50 km, os componentes até o local de montagem da unidade, no Polo Arara, dentro da Província Petrolífera. Os profissionais envolvidos na montagem da unidade no sítio chegaram ao local de avião comercial, pelo aeroporto que atende a base da Petrobras em Urucu. Uma embarcação com alojamentos foi utilizada para hospedar parte da equipe envolvida no projeto.
Para que a transferência ocorresse com menor risco e interferências, a Potencial realizou o “escaneamento” a laser em 3D da unidade ainda montada no complexo na Bahia, nas suas condições originais, e transpôs virtualmente para a planta de Urucu visando replicar essas mesmas condições, no local onde ficaria instalada. Essa medida ajudou no desenvolvimento do projeto executivo. “Isso foi essencial para vermos as condições de como desenvolveria o trabalho”, conta Roberto Bernardes.
De acordo com o engenheiro, não se podia modificar a unidade e ela deveria ser montada nas exatas condições originais no Amazonas, o que fez do “escaneamento” a laser em 3D um importante aliado nessa tarefa.
Outro desafio
A adaptação em Urucu foi também um desafio. “Tivemos que reunir fornecedores brasileiros e estrangeiros para os trabalhos de adequação”, lembra o engenheiro. A ação envolvia introdução de sistemas de ar comprimido, geração de energia, combate a incêndio e interligações diversas. Cerca de 900 pessoas foram envolvidas nos trabalhos no empreendimento da Petrobras. Antes disso, na planta da Bahia, a Potencial já havia realizado adequações de continuidade das operação por conta da desmontagem da URGN3.
A execução dos serviços de fundação de estacas-raiz se iniciou em maio de 2013 no Polo Arara. Em setembro, peças e equipamentos começaram a ser posicionados para montagem. Já em outubro, foi instalado o primeiro pipe rack da unidade, dos seis a ser posicionados.
O Potencial lembra que a transferência ocorreu a partir de uma área altamente urbanizada e densamente ocupada, que é Pojuca, para uma região absolutamente inóspita e isolada no Amazonas cujo único acesso é pelo rio. “A troca de um pneu, a necessidade de um parafuso, tudo precisa ser posto no local (Urucu), exigindo uma gestão extensa e detalhada do projeto”, relata o gerente da Potencial. “O celular não pega e ele é lacrado quando se chega na planta por conta de regras da Petrobras.” A cidade mais próxima fica a 300 km de Urucu.
“A instalação da unidade nesse prazo curto foi um feito fantástico”, avalia o engenheiro. O valor do projeto desenvolvido pela Potencial foi de R$ 217 milhões.
Transporte foi feito em módulos
De acordo com a Potencial Engenharia, a URGN3, que foi desmontada em Pojuca, foi concebida em sistema modular, acrescidos de utilidades e interligações. Dos módulos que compunham a URGN3, 26 foram transferidos para Urucu. Para completar a UPGN4, foram projetados, co
nstruídos, transportados e montados mais 18 módulos, que integravam a adequação e novas áreas de utilidades.
Dos novos módulos, seis formavam o eletrocentro/sala de controle da UPGN4, dos quais quatro módulos possuem as dimensões individuais de 23 m de comprimento por 5 m de largura — reunidos em campo, ocupam área de 460 m².
A carga, transporte e descarga dos quatro módulos de maior dimensão do eletrocentro, bem como das duas torres de processo (cerca de 36 m comprimento x 3,5 m de diâmetro, cada uma) foram as atividades logísticas de maior complexidade, requerendo veículos específicos, como linhas de eixo e balsas adaptadas às necessidades, sinalização e interrupção de tráfego em estradas e complexas operações de movimentação de cargas.
Para a logística de carga, transporte e descarga, foram utilizados guindastes com capacidades diversas, variando de 70 t a 500 t. Operações de maior dificuldade envolveram o uso simultâneo de dois guindastes de 500 t e 320 t.
Fonte: Revista O Empreiteiro