O novo e massivo ciclo de aproveitamento energético do Rio Madeira, com a construção das Usinas Hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, coloca a capital Porto Velho (RO) – que completa um século de fundação – no centro dos grandes interesses industriais do País. As duas usinas, que somam investimentos entre R$ 20 bilhões e R$ 28 bilhões, acrescentarão 6.450 MW à capacidade energética nacional.
O Rio Madeira e os Desafios Históricos e Ambientais
A história de Porto Velho e do Rio Madeira é marcada por ciclos intensos de exploração, desde a Ferrovia do Diabo (Madeira-Mamoré) até as épocas da cassiterita e do ouro. Essa experiência histórica justifica a preocupação de pesquisadores e ambientalistas quanto à adoção de medidas de proteção ambiental robustas.
Leia também: Pará promove na China ferrovia ligando Santana do Araguaia a Barcarena
Os pesquisadores destacam dois problemas ambientais críticos impostos pelas hidrelétricas:
- Migração de Peixes: As barragens podem impedir a migração dos grandes bagres, que percorrem o rio da foz até as cabeceiras. O EIA-Rima exige a construção de um corredor para garantir a continuidade do caminho dos peixes.
- Sedimentação: O Rio Madeira carrega ininterruptamente sedimentos da bacia amazônica. A acumulação destes nos reservatórios pode ensejar inundações das áreas do entorno, um desafio próprio da região.
A construção da Ferrovia Madeira-Mamoré serve como um alerta social: a necessidade de cuidados infraestruturais de saúde rigorosos para o contingente de 20 mil operários previsto para as novas obras.
Escopo e Impacto Energético do Complexo
As Usinas Hidrelétricas Santo Antônio e Jirau são consideradas obras convencionais em termos de engenharia de barragens, mas abrem uma fase nova para os projetos na região amazônica.
- Geração de Energia: Santo Antônio contribuirá com 3.150 MW e Jirau com 3.300 MW.
- Logística de Energia: A confirmação da capacidade instalada exige a construção de uma linha de transmissão de 2.450 km, ligando Porto Velho (RO) a Araraquara (SP), para distribuir a energia ao Centro-Oeste e Sudeste.
Engenharia e Estrutura das Usinas
O acesso e a montagem do canteiro foram planejados em função da logística regional. Porto Velho possui logística satisfatória, sendo servida por aeroporto, pelas rodovias BR-364 e BR-319, e crucialmente, pela Hidrovia do Rio Madeira, que possibilita o transporte de equipamentos e materiais de grande porte a um custo reduzido.
As estruturas de concreto são convencionais, mas adaptadas às peculiaridades da região:
Santo Antônio (Próximo à Ilha do Presídio)
- Vertedouro na margem direita.
- Casa de Força e Tomada de Água na margem esquerda, com 44 unidades geradoras.
- Barragem de enrocamento com núcleo argiloso na calha do rio.
Jirau (Cachoeira Homônima)
- Casa de Força e Tomada de Água na margem direita, com 44 unidades geradoras.
- Vertedouro na margem esquerda, com 21 vãos.
- Barragem de enrocamento com núcleo argiloso na calha do rio.
Processo Construtivo e Equipamentos
O processo de escavação é tradicional, mas exige equipamentos de grande porte devido ao volume e ao prazo. O concreto será produzido em central e transportado por caminhões dumpcrete ou betoneira, lançado por guindastes torre ou bombas. Nas estruturas, serão instaladas turbinas bulbo e geradores, além de toda a estrutura de subestações e transformadores.




