Vamos falar de metrô, de olho nos metrôs de outros países

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Andar pelo mundo e mergulhar em alguns metrôs significa aprender algumas lições da história e verificar o porquê do atraso do Brasil nessas obras. Tal meio de transporte resolve o problema da mobilidade urbana sem que o usuário seja atropelado pela multidão, na superfície, ou sofra a solidão compulsória da individualidade egoísta dos automóveis imobilizados nos engarrafamentos.

Uma simples consulta cronológica nos leva à época de ouro dos metrôs europeus. O de Paris foi inaugurado em 1900, ainda nos tempos em que Proust começava a saga da burguesia francesa, atirando-se de corpo e alma Em busca do tempo perdido. O metrô de Londres veio antes. Imagino que Charles Dickens, nascido em Portsmouth, ainda tenha tido a oportunidade de uma viagem sob o subsolo londrino, uma vez que faleceu em 1870, sete anos depois da inauguração do metrô de lá.

O metrô de Berlim seguiu a rotina de inauguração dos metrôs da época. Começou a funcionar em fevereiro de 1902. Portanto, é possível que, nesse ano, ao passar um semestre de estudos ali, Stefan Zweig, que aqui no Brasil, então fugindo do nazismo, escreveria O País do Futuro, haja, ao menos por curiosidade, experimentado uma viagem pelo subsolo da capital alemã.

O de Moscou veio mais tarde e foi construído para ser o exemplo do “novo homem”, na concepção de Stálin: foi inaugurado em 1935.

Mas, antes disso, falemos do metrô de Buenos Aires, que está ao nosso lado. O metrô argentino foi construído em 1913 – um exemplo de que a influência europeia tinha um impacto muito forte entre “los hermanos”.

E, o metrô de São Paulo? Bem, este seria inaugurado em 1974, no mesmo ano em que era inaugurado o metrô da Cidade do México, com uma diferença: o metrô dos homens de sombrero tem hoje 176,7 km de extensão, enquanto o metrô paulistano, precocemente envelhecido e sem condições para atendimento da demanda, vai para 74,3 km. – Somente.

O registro desses dados e datas históricas é apenas para dizer que o Brasil poderia ter construído o seu primeiro metrô – e os demais, em diversas de suas capitais – há muitos anos. A essa altura, estaria apenas cuidando de atualizá-los. Pode-se até alegar que nos anos 1970 não se imaginava que a população rural diminuísse e a urbana explodisse, com as cidades absorvendo, depois dos anos 1990, mais de 80% da população nacional. Também, quem mandou os governantes da época não tomarem juízo e reciclarem a política agrária, com decência, para a fixação de tantos trabalhadores em seus sítios de origem?

Mas, sem mudar de assunto, é necessário reconhecer que tivemos administradores de visão, nas primeiras décadas do século passado, que já previam e projetavam sonhos de metrô. O engenheiro Norman Wilson, por exemplo, que integrava os quadros técnicos da São Paulo Tramway, Light and Power Company, apareceu um dia no gabinete do prefeito José Pires do Rio e apresentou-lhe um plano de transporte prevendo a construção de um sistema de metrô. Teria dito ao prefeito: “Veja os trilhos do bonde. Será semelhante. E, a exemplo de várias capitais europeias, construiremos um meio de transporte que liberará a superfície somente para os pedestres. Vamos nessa?” – José Pires não foi.

A nossa primeira oportunidade de contar com um metrô deu em nada. São Paulo teria mais tarde várias outras oportunidades de construir o metrô: houve o projeto de Prestes Maia; o trabalho posterior de Mário Lopes Leão, discutido no Instituto de Engenharia; o projeto do engenheiro Antônio Carlos Cardoso e até o plano do engenheiro norte-americano Robert Moses. Nada servia. Até que, tardiamente, quando o brigadeiro Faria Lima assumiu a prefeitura em 1965, bateu na mesa e disse: “Teremos metrô”.

Um ano depois era formado o consórcio HMD, formado pelas empresas alemãs Hochtief e DeConsult, e pela brasileira Montreal, que elaborou o projeto da linha Norte-Sul (Santana-Jabaquara). Este escriba foi testemunha, ao lado do geólogo José Nivaldo Chiossi, da instalação do primeiro piezômetro para sondagem, das obras do metrô, na avenida Prestes Maia.

(Texto reproduzido de artigo publicado há algum tem na revista O Empreiteiro).

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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