Título de uma matéria, no jornal espanhol El Pais, mostra porque o sentimento brasileiro em relação à Copa ainda não se traduziu em explosivo otimismo. Não que não queiramos a Copa. Acredito que o brasileiro quer. Mas ainda não se entusiasmou por ela. E ele não pode ser criticado por isso. O governo, sim. Deve e precisa ser criticado. Afinal, vem usando o Mundial como um biombo. Ou como poeira que vem lançando nos olhos do povo a fim de que ele não veja que a solução para graves problemas prioritários do País continuam a ser postergados.
O título do jornal espanhol é o seguinte: “Um estádio na selva/ para um time fantasma”. E chama a atenção para os gastos, que o jornal calcula superiores a R$ 600 milhões, na arena da Amazônia. Efetivamente é muito dinheiro concretado numa obra para uns poucos torcedores durante a Copa e para quase nenhum depois que ela for embora. Enquanto isso, quanto legado foi prometido: monotrilho, VLT, metrô, saneamento, ampliação de ruas e avenidas, melhoria nos diversos modais de transporte.
Como pouca coisa das promessas pode ser cumprida, o governo vem agora dizer que está tudo bem. Mas não está. E aquele título do jornal espanhol reflete esse sentimento. Houve prioridade para as arenas e nenhuma prioridade para os compromissos assumidos na fase em que o governo brasileiro se empenhou, com pompa e circunstâncias, para sediar o Mundial.
Houve gastos excessivos e interferências da Fifa na vida brasileira. Difícil, portanto, sair por aí como protagonista maior da festa, quando sabemos que todos fomos usados.
A propósito, é bom lembrar que na esteira da Copa está aí o decreto 8.243, da Presidência da República. É bom lê-lo e analisá-lo antes de qualquer eventual euforia nas ruas.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira