Os cerca de R$ 3,16 bilhões obtidos pelo governo do Paraná com a privatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel) serão aplicados em infraestrutura, habitação, educação, desenvolvimento urbano e sustentabilidade. Os investimentos já estão previstos no Plano Plurianual (PPA) 2024-2027 e começam a ser liberados no próximo ano. Copel também usará novos recursos para ampliar negócios.
A maior parte dos recursos será aplicada em obras de infraestrutura ao redor do Estado. A previsão é destinar R$ 1,4 bilhão para dar continuidade ao cronograma do Banco de Projetos. No pacote estão incluídos investimentos em novas duplicações, pavimentações e melhorias de rodovias e vias urbanas, construção de pontes e viadutos, modernização de estradas rurais e novas estruturas portuárias para potencializar a logística estadual.
Em habitação, por exemplo, o governo paranaense pretende investir mais de R$ 500 milhões na segunda fase do programa de moradia popular Casa Fácil, que passará a auxiliar famílias a comprar a casa própria com R$ 20 mil para quitar parte ou totalidade da entrada do imóvel.
Outros R$ 500 milhões serão aplicados em educação. Eles custearão a reforma de 400 colégios da rede estadual e a continuidade de um programa voltado à construção de Escolas de Educação Especial em diversas regiões em parceria com as prefeituras e as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes).
Somados aos investimentos estatais, outros R$ 2,04 bilhões que foram para o caixa da Copel serão destinados a investimentos e para o pagamento de outorgas à União pela renovação de concessões. Em nota, o presidente da Copel, Daniel Slaviero, afirmou que a nova natureza jurídica da empresa, agora considerada uma corporação – ainda que o Estado se mantenha como acionista relevante da companhia, sendo o único com direito a uma Golden Share – vai permitir acelerar melhorias.
“Ao se tirar amarras de uma estatal, entre elas, os processos licitatórios e a dificuldade de contratação de talentos, a companhia vai se tornar mais ágil, moderna e eficiente”, disse Slaviero. “Sem licitações públicas, não será mais preciso esperar de seis a oito meses para contratar uma empresa fornecedora, por exemplo”, salientou.
Utilizado em países economicamente avançados, o modelo de corporação visa garantir transparência e eficiência de governança, com uma gestão focada no lucro da operação e no interesse da população que utiliza os serviços. É um modelo que é adotado por empresas líderes em seus setores, como Embraer, Vale e mais recentemente Eletrobras.
Além disso, segundo o governo do Paraná, se continuasse como uma estatal, a Copel não teria mais a possibilidade, de acordo com a legislação federal, de renovar em 100% a concessão da sua maior usina hidrelétrica, a de Foz do Areia, que vence em 2024. Com a transformação em corporação, porém, a Copel pode manter o ativo mediante o pagamento de uma outorga à União, o que também deve ocorrer com as usinas de Segredo e Salto Caxias.
A nova configuração vai permitir ainda atrair, reter e desenvolver novos talentos, sem a necessidade de concurso público, destaca o presidente da Copel. A privatização permitiu renovar a força de trabalho da companhia e incluiu um plano de demissão voluntário (PDV) que teve 1.437 adesões, ou 24% do total de trabalhadores. “A grande vantagem de um programa dessa magnitude é abrir inúmeras possibilidades em promoções internas. Pretendemos aproveitar os talentos internos, toda essa experiência, para funções estratégicas, gerenciais ou técnicas, ou com novos profissionais”, frisou Slaviero.
Copel vai investir em hidrogênio verde
No caminho da reestruturação interna, a Copel busca novas alternativas de investimento. Entre elas, está uma planta piloto para produção combinada de hidrogênio e fertilizantes. A empresa pretende aplicar mais de R$ 3 milhões na construção de uma unidade para a produção de hidrogênio de baixo carbono oriundo de biomassa – resíduos orgânicos, dejetos, bagaço de cana, entre outros. O hidrogênio servirá como insumo para fabricar amônia e ureia usados em fertilizantes.
Segundo a empresa, o projeto conta com recursos do Programa de P&D Aneel e parceria da Associação dos Pesquisadores da Região Norte do Brasil (Apreno). Ao longo dos próximos dois anos, o foco do trabalho será desenvolver tecnologia que promova a sustentabilidade do mercado do hidrogênio no Paraná. O local para instalação da planta combinada para produção de hidrogênio, amônia e ureia ainda está em estudo.
“Este é um modelo de negócios interessante, pois poderá aproximar diferentes ciclos: o aproveitamento da biomassa gerada em uma propriedade para produzir hidrogênio e a aplicação deste na fabricação de fertilizantes que servem como insumo ao agronegócio – tudo acontecendo na mesma localidade”, afirmou, em comunicado, o gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Copel GT, Leandro Foltran.
Ele destacou ainda outro diferencial dessa iniciativa na empresa. “Nosso objetivo é desenvolver equipamentos compactos e modulares que possam ser usados em pequenas e médias propriedades, permitindo essa produção distribuída do hidrogênio, amônia e ureia”, revelou.