Derrotada nas últimas eleições, a ex-prefeita de uma cidade muito conhecida e divulgada, situada nas fraldas da capital, não teve dúvidas: levou para casa, como se fossem objetos particularíssimos, os instrumentos com os quais e nos quais trabalhara durante sua administração.
Mandou que fossem recolhidos e despejados em sua casa o computador, livros, telefone, mesa, cadeiras e outras coisas que julgava fazerem parte do ambiente do seu dia a dia e não da rotina ordinária de sua administração.
Assim, limpou o gabinete, não se sabendo se, nas apropriações indébitas, se apoderara também de algumas lâmpadas. Mas dizem que uma luminária e até um quadro, que havia anos servia de adereço à parede fronteira a sua mesa, foram igualmente de embrulho. Um pequeno cofre, no qual era guardado dinheiro miúdo, para ser usado em caso de emergência, foi esvaziado. Ou melhor, guardava apenas alguns papéis: contas de água e luz, atrasadas havia meses.
O episódio aqui narrado não se restringiu àquela prefeitura. Ele se repetiu, em menor ou maior escala, por diversos municípios Brasil afora. Serve de exemplo o que aconteceu com a prefeitura de João Alfredo, Pernambuco, que estava nas mãos do célebre Severino Cavalcanti.
Editorial da FSP de hoje, sobre eventos dessa natureza, registra cálculo da Confederação Nacional dos Municípios segundo o qual mais de 70% das 5.565 municipalidades não cumpriram a Lei de Responsabilidade Fiscal. Resumindo: praticaram irresponsabilidades.
Adicionalmente a isso, me chegam informações de que o sucateamento se aprofunda quando analisado o caos na saúde. Postos de saúde estão abandonados; ambulâncias se encontram sem pneus e até sem motor. Não há equipamentos mínimos para atendimento. O povo é abandonado à própria sorte. E, até para alguns doentes serem atendidos no SUS, precisam pagar as consultas. Esse é o retrato em branco e preto distante da publicidade oficial, mas que é a face do Brasil em sua realidade. Vergonha municipal.
Fonte: Padrão