Juan Arias, esse competente correspondente de El Pais (Espanha) no Rio de Janeiro, lembra peça humorística em que o papa argentino, Jorge Mario Bergoglio, e o papa emérito, o alemão Joseph Ratzinger, se encontram ajoelhados um ao lado do outro. O papa alemão, que havia pedido demissão, diz ao papa Francisco, depois da célebre goleada contra a seleção brasileira no Mineirão: “Eu já fiz o meu trabalho; agora é a sua vez”.
Humorismo à parte, agora não é mais vez de seleção nenhuma, por estas terras cabralinas. A vez, agora, é do povo, que está retornando à realidade diária, considerando que a ele, e somente a ele, cabe a tarefa de trabalhar duro pelo país. O resto é conversa fiada.
O problema é que não será fácil enfrentar o dia a dia. O zé-povinho tem de lidar com promessas não cumpridas em praticamente todas as áreas, especialmente a da infraestrutura. O governo prometeu mundos e fundos em mobilidade urbana, saneamento e por aí em diante. O legado seria a grande contrapartida aos gastos extraordinários feitos com a construção das propaladas arenas esportivas, a maior parte das quais ficará, daqui em diante, como enormes elefantes brancos imobilizados em áreas urbanas.
A expectativa do governo seria o título. O hexa seria a tábua de salvação para todos os seus pecados, o maior deles, o imenso volume de recursos públicos drenados em favor dos organizadores do evento e das empresas que cuidariam da construção das arenas.
E, me vem, agora, à lembrança, a observação de Jorge Zepeda Patterson, colunista daquele mesmo jornal: “Investir politicamente em futebol, equivale a colocar as economias em um empreendimento imobiliário: pode-se multiplicar seu capital em grandes proporções ou esfumaçá-las em um instante –, por exemplo, o tempo levado pela Alemanha para marcar os quatro primeiros gols: 26 minutos exatamente”.
O retorno à realidade se dá em cima de condições angustiantes. Tudo era aposta na Copa. E, isso, em um ano em que as projeções para o Produto Interno Bruto não eram das melhores: elas previam crescimento de 2,5%, índice que foi recuando, recuando e, hoje, é da ordem de 1%.
No campo que aqui nos interessa, o de obras públicas, a situação é aflitiva, pois 2014 está comprometido e sem perspectivas de melhorias. As empresas que operam nesse meio tentam respirar, o que leva o presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas, a Apeop, a dizer, no informa da entidade: “No curto prazo, o que nos cabe é exigir o cumprimento dos modestos programas federais, estaduais e municipais em curso e o respeito aos contratos correspondentes, inclusive quanto aos prazos de quitação dos serviços executados”. Pelo menos.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira