Um engenheiro de Itaipu no planejamento de Belo Monte

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Começamos a conversar numa tarde de sol e pó. Ele se fixou numa data: “No dia 20 de setembro de 1977 lancei a primeira caçamba de concreto nas estruturas da usina hidrelétrica de Itaipu”.

Com essa frase, o engenheiro Ruiter Netto Campos, superintendente de Planejamento do Consórcio de Engenharia do Proprietário (EPBM/Norte Energia), avivou o diálogo, quase um monólogo, para desenhar o cenário das obras de Belo Monte e estabelecer comparações entre esta hidrelétrica e aquela construída no último quadriênio do século passado.

Estávamos há um dia e meio no canteiro de Belo Monte, visitando os quatro sítios do empreendimento.  Dispersos, distantes um do outro, eles impunham comparações com o canteiro de outras usinas.


Mas a fixação do engenheiro era mesmo Itaipu, com certeza a obra que marcou sua experiência e ficou-lhe incrustada na lembrança, até a fase enriquecedora da maturidade.

 “Veja”, continuou ele, “Itaipu é uma hidrelétrica com 20 unidades geradoras; aqui são 18.  Mas, no todo e em parte, Itaipu foi uma obra absolutamente concentrada. Num lance de olhar, você poderia enxergar o conjunto. Tínhamos a visão do todo.  Aqui, por mais que você queira, nunca enxergará o conjunto de uma vez. Para você ter ideia da dimensão das obras aqui em andamento, precisará circular um dia inteiro nada menos que 200 quilômetros”.

Ruiter Campos tem larga quilometragem pelos caminhos da engenharia, em especial pelos caminhos do planejamento de obras.


Fala calmo, soltando as palavras como se calculasse o peso de cada uma.  E nenhuma me parecia fora de contexto.  É um profissional que conhece os pormenores do que faz e sabe avaliar as impressões que o seu método, didático, de comunicação, pode provocar.

“Muitas experiências, que depois viraram rotina, foram iniciadas lá, em Itaipu.
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Lembro que, diferentemente do que acontece aqui, onde predomina rocha boa, sã, a rocha, naquela região da antiga Sete Quedas, era ruim. Houve até um problema de falha geológica, que foi solucionado.


E foi lá que começou essa história do famigerado CCR. “CCR?” – “Sim, Concreto Compactado a Rolo.

Essa técnica de concretagem começou lá e se difundiu por outras barragens, tornando-se convencional. Hoje, podemos dizer que ao CCR não cabe mais o adjetivo famigerado”.

Ele fez outras comparações. Disse que o tempo passou e que as técnicas de construir barragens avançaram. Os equipamentos evoluíram e  Belo Monte é uma obra predominantemente mecanizada. 

Instiguei-o a prosseguir: “Que outras técnicas, utilizadas em Itaipu, passaram a ser comuns também nessas obras?”- “Fôrmas deslizantes. Essa técnica, posso afirmar, começou a ser usada, como recurso para apressar o cronograma, nas estruturas de Itaipu. Obviamente as fôrmas  que usávamos lá, se comparadas hoje com as que depois passaram a ser utilizadas aqui ou em outras hidrelétricas,  lembram  coisas pré-históricas.




Elas evoluíram e são decisivas na produção.  Itaipu foi uma obra de muita produção. Chegamos a lançar, lá, cerca de 340 mil m³/mês de concreto; aqui, já lançamos cerca de 70 mil m³/mês.”

Finalmente voltei à frase inicial: “A sua primeira caçamba de concreto foi lançada no dia 20 de setembro de 1977. E a última, quando foi?”  A resposta inusitada: “Foi no dia 20 de setembro de 1982, exatamente cinco anos depois do lançamento da primeira”. 

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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