A Racional Engenharia ultima os detalhes da construção do novo Centro Tecnológico e Administrativo da Mahle Metal Leve no Brasil, idealizado para promover soluções integradas para os desafios tecnológicos dos clientes da empresa. A Mahle é especializada na fabricação de autopeças, como pistões, anéis, bronzinas, bielas e componentes de motores. Os laboratórios que lá funcionarão permitirão testar e desenvolver projetos para todas as linhas de produtos da fabricante, tornando-a responsável mundialmente pelo desenvolvimento de produtos, materiais e processos da chamada linha PL2. Os serviços de terraplenagem foram iniciados pela Mahle em novembro de 2006 e finalizados em abril do ano seguinte. A Racional entrou na obra em março de 2007, com a execução das fundações.
Situado em Jundiaí, interior de São Paulo, no km 48 da Rodovia dos Bandeirantes, o novo edifício tem 18 mil m² de área e ocupa um terço de um terrreno na Serra dos Cristais, área de preservação permanente. Para poder ser construído no local, teve estudo de impacto ambiental aprovado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, recebendo licença de instalação.
Por essas características, para os engenheiros da Racional, a tecnologia construtiva foi apenas um dos desafios da obra, mas não o principal. “O grande desafio está relacionado aos cuidados para a preservação da vegetação nativa, o restauro da mata ciliar das duas lagoas do terreno, assim como a convivência harmoniosa com animais silvestres de diferentes portes”, explica o engenheiro Ruy Ulhôa Guimarães, gestor do projeto. Para encaminhar o assunto, a Racional implantou um programa de gestão, que identificou os riscos, impactos, perigos e todos os aspectos referentes aos processos e às atividades de construção, tido como determinante para a aplicação de controles operacionais e planos de emergência. Foram executadas cercas em todo o perímetro da obra, separando-a da área de preservação permanente. “Para não machucar os animais e permitir seu livre acesso, as cercas foram construídas com arame liso e mourões de eucalipto, apresentando aberturas de 1 m a cada 30 m”, informa o engenheiro Waldemar Marotta Júnior, diretor do núcleo de Gestão de Contratos da Racional.
Sistema de captação de água, inexistente no local, foi implantado por poço artesiano. Os esgotos sanitários foram coletados e acondicionados em tanques esvaziados periodicamente e transferidos para a estação de tratamento construída para operar desde a obra. A água tratada será reutilizada em atividades de jardinagem e lavagem de áreas externas. Os sistemas de abastecimento de água e coleta de esgoto atenderão aos futuros funcionários do empreendimento.
Para que a preservação do meio ambiente envolvesse todos os funcionários e terceirizados, o programa de integração e treinamento das equipes incluiu procedimentos a serem adotados com animais silvestres dentro do canteiro, e o programa “Educar é Crescer” da Racional, para alfabetização de trabalhadores em seus canteiros, foi adaptado, abordando questões de ecologia e de responsabilidade na implantação de uma obra em área de preservação.
Três semi-anéis
Sui-generis por suas características plásticas, o projeto arquitetônico pode ser considerado outro desafio para a engenharia de construção. Idealizado pelo escritório Roberto Loeb e Associados, o prédio é composto por três semi-anéis, cada um com dois pavimentos e desníveis de quase 10 m entre eles.”As marquises metálicas com brises ou cobertura são os elementos que mais se destacam nas fachadas. As vigas redondas de borda que as compõem foram calandradas para acompanhar os vários raios de curvatura de cada anel”, diz Marotta Júnior. Para ele, a geometria dos prédios, em forma de semi-anéis, foi o principal aspecto de dificuldade, exigindo intenso uso de serviços topográficos. “Em uma obra onde os eixos são radiais e convergentes, não existe um alinhamento de estrutura que permita uma conferência visual. Até simples divisórias tiveram de ser locadas topograficamente, pois os elementos estruturais, como pilares, não serviam de referência”, conta.
Segundo ele, internamente uma das principais características arquitetônicas dos semi-anéis é o aproveitamento dos taludes executados com terra, que ficam aparentes, separados por vidros, criando um visual diferente em ambientes como restaurante, biblioteca e recepção, situados no primeiro semi-anel, no nível zero. Outras características idealizadas pela arquitetura: pilares e vigas em concreto aparente, assim como boa parte da laje alveolar. No hall central foi utilizado piso de madeira tauari, seguindo a imagem corporativa mundial da Mahle.
O primeiro e o segundo semi-anel estão interligados por escadas na área central e um elevador. O segundo está ligado ao terceiro por passarela coberta e escada. O primeiro anel tem 6.100 m² de área e inclui recepção, vestiários, restaurante, cozinha, biblioteca, salas de múltiplo uso, ambulatórios, portaria e cabine de entrada de energia no piso térreo. No seu mezanino estão as áreas de diretoria, vendas, marketing e engenharia de aplicação, restaurante e espaço VIP. O segundo anel, com 6.500 m², acomoda no nível inferior laboratórios e subestação; no mezanino estão os setores de Recursos Humanos, data center, engenharia avançada e técnico de ar condicionado. O terceiro semi-anel tem 3.200 m² e no seu nível inferior estão localizados sala de controles, áreas de testes de motores composta por 10 salas de dinamômetros, testes de emissões e câmara semi-anecóica. No seu mezanino estão as áreas técnicas de ar condicionado, ventilação e exaustão das salas de testes de motores e subestação. Outras áreas externas acomodam central de combustíveis e sistema de arrefecimento e as estações de tratamento de esgotos sanitários e industriais.
Coração
A Racional integrou o design team que atuou na busca do aprimoramento das soluções construtivas adotadas. Em sua maioria, as fundações foram executadas com estacas escavadas mecanicamente, por questões de agilidade e segurança, mesmo sendo esta solução um pouco mais onerosa do que o uso de tubulões. Estes, com fustes escavados manualmente, foram utilizados apenas nas fundações em meio aos taludes, devido à dificuldade de acesso de equipamentos.
Por terem seção circular, os pilares de concreto foram moldados in loco. “As vigas, em concreto armado ou protendido, foram pré-moldadas em canteiro na própria obra, tendo em vista que o acesso provisório, com subida íngreme e sinuosa, inviabilizaria a chegada de peças pré-fabricadas com até 16 m de comprimento. Além disso, mostraram-se ma
is econômicas do que a solução original metálica”, afirma Marotta Júnior. As lajes, com menores pesos e vãos, foram pré-fabricadas, sendo do tipo alveolar ou pré-laje treliçada. “A solução com vigas moldadas in loco só foi adotada em locais muito peculiares, como áreas sob base plates (bases de concreto armado de 11 t) das salas de dinamômetros, ou para atender premissas arquitetônicas, como caixas das escadas externas”, esclarece. A escolha das soluções pré-fabricadas considerou a logística de execução, devido às características topográficas do terreno, com taludes sob áreas construídas.
Para os pisos, foi utilizado concreto com fibra de aço e fibra de vidro para áreas com acabamento de granilite, pintura epóxi ou manta vinílica. Os fechamentos dos semi-anéis foram em alvenaria e vidros. O primeiro e o segundo semi-anel receberam coberturas em laje impermeabilizada, com espelhos d´água, considerados úteis para redução da carga térmica dos ambientes. “Esta solução teve por objetivo aproveitar, também, parte dos efluentes tratados na Estação de Tratamento de Esgoto que não podem ser descartados na área de preservação ambiental”, informa Marotta Júnior. No terceiro semi-anel e nas marquises foram usadas telhas zipadas ou trapezoidais.
Consideradas o coração do Centro de Tecnologia da Mahle, as 10 salas de dinamômetros incluem complexos sistemas para seu funcionamento. Elas receberam paredes e tetos com tratamento acústico em lã de rocha com 2” de espessura. As alvenarias foram preenchidas com areia, para atingir atenuação acústica de 40 dB. As base plates foram apoiadas sobre antivibradores, sobre os quais são colocados os dinamômetros e os motores para testes. O piso elevado metálico possui um porão de 1,20 m para acesso aos antivibradores. As salas contam com sistema de alimentação de ar comprimido e combustíveis, de água de arrefecimento, de ventilação sobre os motores e dinamômetros, de exaustão e de escape de gases.
Fonte: Estadão