A busca da perfeição

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O homem superando os seus limites. Nunca esse desafio, que há milênios é a razão dos Jogos Olímpicos, estarão tão presente quanto nas Olimpíadas de 2008, a serem realizadas em Beijing, China. Quando as competições começarem, às 8 horas do dia 8 de agosto próximo, praticamente o mundo inteiro estará assistindo aos mais caros Jogos Olímpicos da era moderna, com custos estimados em mais de US$ 40 bilhões. Esse é o volume de recursos que a China estará investido, àquela altura, em um grande conjunto de obras e intervenções na infra-estrutura urbana, que incluem 11 instalações esportivas de nível internacional, um teatro de ópera, um novo aeroporto e um sistema de trem de alta velocidade ligando o centro da cidade ao aeroporto internacional. O conjunto inclui ainda um novo sistema de metrô e uma torre de televisão projetada pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas.

Todas essas obras arquitetônicas e da engenharia moderna se somarão à paisagem de Beijing e poderão melhorar a qualidade de vida da população depois das Olimpíadas.

Para as autoridades chinesas, essa é, portanto, a grande oportunidade para que o país exiba ao mundo as mudanças que ali vêm ocorrendo, como resultado do seu modelo econômico e político
Dentre os projetos desenvolvidos para os jogos, merece destaque o Estádio Nacional, a ser inaugurado em abril, a um custo total de US$ 423 milhões, cujo desenho se assemelha a um ninho de passarinhos. A semelhança se deve às vigas de aço e ferro que se entrelaçam em seu exterior.

Projetado pela empresa de arquitetura suiça Herzog & De Meuron Architekten AG, o estádio se destaca não só pelo seu design inusitado como também pelas suas dimensões.

Futuro palco das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de 2008, das provas de atletismo e da final do futebol, o Ninho de Pássaros, como está sendo chamado, mede 220 m x 330 m, uma altura de 68 m, possui uma área construída de 250.000 m2 e capacidade para 91.000 espectadores. Segundo Michael Kwok, diretor da Consultoria Arup, de Londres, responsável pelo cálculo estrutural do projeto, o maior desafio foi lidar com a geometria e a instalação dos elementos metálicos da treliça espacial. O arquiteto Herzog De Meuron, da Suíça, revela que sua idéia, ao projetar a fachada, foi criar uma impressão de caos com o emaranhado de treliças, distribuídas supostamente de forma aleatória.

Na prática, porém, a concepção da fachada do estádio atende a necessidades bem objetivas: o prédio está localizado em uma das regiões de maior atividade sísmica do mundo. A treliça tridimensional, formada por 24 arcos principais espaçados igualmente, e por estruturas metálicas secundárias curvas, soldados ou aparafusados aos arcos principais, foi projetada para resistir a fortes terremotos.

Cada parte da estrutura, dividida em oito zonas, funcionaria como uma construção independente, no caso de um abalo sísmico. Arcos e vigas secundárias têm ainda a função de distribuir e transmitir as cargas diretamente para a fundação. Toda essa estrutura foi projetada com a ajuda de um programa de computador específico. Os elementos metalicos formam caixas retangulares com seção de 1,2 m x 1,2 m, e comprimentos variáveis. A espessura dos elementos de aço varia de 10 a 40 mm, podendo chegar a 100 mm de espessura em placas localizadas em pontos de grande solicitação, como nas colunas principais.

O Cubo D’Água

Ao lado do Ninho de Pássaros está outra obra da arquitetura moderna, inaugurada no início de janeiro deste ano. Trata-se do Centro de Natação, um prédio fechado que ganhou o apelido de Cubo D”Água pela aparência das suas paredes, que imitam as estruturas de bolhas de sabão.

Projetado pelo escritório australiano PTW Architects, o edifício, que será a sede para as competições de natação, mergulho, nado sincronizado e pólo aquático, possui esse aspecto graças a uma membrana opaca de filme plástico que envolve todo o prédio, em duas camadas sobrepostas e dividida em pequenas câmaras isoladas. Para essas câmaras foi bombeado gás, permitindo a formação de mais de 3 mil bolhas de ar, que para muitos, lembram ainda a organização das células dos seres vivos.

Esse será o mais ecológico de todos os edifícios do conjunto olímpico. As bolsas de ar são revestidas de um material parecido com teflon, o ETFE (etileno-tetrafluoroetileno), que permitem a entrada de mais luz e calor que o vidro, ajudando a aquecer a água das piscinas e a reduzir em 30% o consumo energético.

“É um dos estádios do mundo que possui maior claridade. Foi também um trabalho muito difícil, devido às tecnologias empregadas na construção e ao curto tempo de execução. Mas conseguimos um excelente resultado”, afirma Yi Jun, diretor-geral da China Construction Shareholding, empresa responsável pela obra.

O prédio tem 6 mil lugares permanentes e 11 mil temporários. Custou mais de US$ 200 milhões, metade como resultado de doações de cidadãos chineses de Macau, Hong Kong e Taiwan.

“O complexo é construído inteiramente dentro dos padrões internacionais. A profundidade das piscinas, de três metros é a mais adequada para as competições. Poucas são as piscinas permanentes no mundo que têm essa profundidade. Este complexo aquático deve ajudar os nadadores a obter novos recordes”, declarou recentemente à imprensa o chefe da delegação brasileira de natação dos Jogos Olímpicos, Ricardo de Moura.

O edifício foi concebido ainda para ser utilizado depois dos Jogos como um complexo que incluirá centro comercial e de lazer, com quadras de tênis, restaurantes, lojas, bares e discotecas.

Derrotando a poluição

Na disputa para sediar estes Jogos Olímpicos, Beijing teve que concorrer com cidades como Toronto (Canadá), Paris (França) e Istambul (Turquia). Mas o desafio mais difícil foi convencer o Comitê Olímpico Internacional de que ela poderia, além de melhorar sua infra-estrutura para receber um grande número de visitantes e delegações dos países participantes dos jogos, reduzir seus altos índices de poluição.

A cidade prometeu Olimpíadas Verdes” e se comprometeu a investiu US$ 13 bilhões na descontaminação do seu meio ambiente, no aumento do consumo de energia limpa e na plantação de 28 milhões de árvores. Beijing também terá que reorganizar seus sistemas de transporte e trânsito. Preocupados com a fumaça que cobre a cidade de forma permanente, as autoridades municipais determinaram que um milhão de automóveis deixassem as ruas e fixaram normas de controle do trânsito e da fumaça. Quase todas as centrais de energia foram retiradas do centro da cida

de, assim como todos os fornos à carvão. A maior geradora de poluição da capital – Shougang Corp, a terceira maior siderúrgica do país – foi deslocada para uma ilha na vizinha província de Hebei.

O ar limpo e o céu azul é importante não apenas para a cerimônia de abertura dos Jogos, mas também para os atletas e os moradores locais, destacou Wang Wei, vice-presidente-executivo do Comitê Organizador de Beijing para os Jogos Olímpicos. A nossa prioridade é a saúde dos atletas e das pessoas, incluindo os visitantes, durante os jogos, acrescentou.

Mera retórica política ou preocupação real? O fato é que a China já é responsável hoje por cerca de 80% da água aquecida por energia solar no mundo. E graças aos Jogos Olímpicos, pode estar empreendendo uma caminhada para melhorar seu desempenho na proteção do meio ambiente que ainda é questionado por muitos.

Fonte: Estadão


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