Na nossa história, Getúlio Vargas é reconhecido pela visão ao negociar o financiamento dos EUA na véspera da 2ª Guerra Mundial, para fundar a Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale e depois a Petrobras.
Jucelino Kubischek, o JK, deixou como legado a construção de Brasília que iniciou o movimento de interiorizar o desenvolvimento, antes privilégio na região costeira — mas, dizem seus críticos, plantou a semente da inflação.
Os governos militares — reconhecem até seus detratores —foram os primeiros a ter planejamento estratégico
de médio prazo. Um exemplo foi o Consider, organismo que buscou a autossuficiência na produção de aço e
tornou depois o país exportador.
O lançamento do Real foi um marco na história brasileira, ao introduzir uma inédita moeda estável e liquidar a
inflação, mas ficou órfão de um projeto de país.
Já no século 21, nosso protagonismo ainda está nas exportações de commodities agrícolas e minerais, prejudicado
por um surto recente de irracionalidade na questão de controle do desmatamento na Amazônia, no
relacionamento com nosso maior parceiro comercial — a China, e frente a investidores globais perplexos com nossa política ambiental virada de ponta cabeça.

Mas voltemos para nosso Projeto de País. A pandemia escancarou as carências que já duram décadas em habitação social, água canalizada e esgoto tratado. É hora de elevar esses dois setores ao mesmo patamar das ferrovias, rodovias e portos, além de energia, na destinação de recursos públicos e na captação de investimentos privados via concessões e PPPs.
A aprovação do novo marco legal de saneamento é um passo importante, mas há projetos de lei em tramitação
que precisam caminhar no Congresso para propiciar novos ciclos de investimentos em energia, ferrovias e gás
natural. Esse último tem potencial de iniciar uma revolução industrial ao reduzir seu custo aos padrões internacionais e democratizar sua distribuição.
Investir em educação é outra prioridade absoluta, seguindo o exemplo dos chamados tigres asiáticos. A era do conhecimento e da informação não perdoará os países que são negligentes na educação das novas gerações.
Nem os que deixam emigrar seus talentos em ciências e pesquisas. Outra proposta que sempre aparece e depois some é modernizar a gestão pública — temos na prateleira tecnologias digitais, que permitirão gastar melhor os recursos e atestar em tempo real os resultados. O aumento linear dos quadros funcionais do governo já não se justifica — a não ser por motivação eleitoral. A economia não consegue sustentar o inchaço contínuo da máquina administrativa pública, nos três níveis e nos três poderes.
Em planejamento de infraestrutura, seria estratégico destinar uma verba regular para montar um banco de
projetos, mobilizando a inteligência das empresas projetistas.
O preço de um projeto de qualidade é menos de 5% do valor da obra! Com a difusão da modalidade BIM, os projetos vão ganhar celeridade e precisão, desde a concepção, detalhamento executivo, à construção – no
prazo e orçamento – até na operação e manutenção dos ativos.
Precisamos virar a página e sepultar a cultura das obras paradas — e fazer valer a responsabilidade das
contratadas e contratantes. Com um voo semanal de drone, é impossível esconder os fatos. As entidades de
engenharia têm um papel a desempenhar nesta questão que não quer se calar.
Por fim, planos são sempre lindos. Cabe à sociedade monitorar seus governantes e cobrar resultados. Ela deve pressionar os três poderes a traçar um Projeto de País, com forte contribuição da iniciativa privada, universidades e a sociedade, que possa ter continuidade ao longo das décadas futuras, independente das trocas na administração
pública a cada quatro anos. O dinheiro gasto não volta. Estão aí o Parque Olímpico do Rio de Janeiro e os estádios de futebol de padrão FIFA que não nos deixam mentir.
