Vem sendo difundida, por aí, explícita ou discretamente, a cultura da desindustrialização. Argumenta-se que o País vive outro processo de seu desenvolvimento, impulsionado pela cadeia de serviços. Isso seria reflexo dos extraordinários avanços tecnológicos. O desenvolvimento, agora, seria feito com punhos de renda, não mais com mãos enluvadas ou treinadas para a confecção de peças, máquinas e outros bens duráveis produzidos nas linhas de montagem.
Embora as indústrias, hoje, tenham perfil diferente daquelas de meados do século passado, mesmo assim são indústrias e pressupõem uma série de inconvenientes em um mundo que se transforma: a mão de obra especializada é muito cara e o cenário ambiental, complexo. O saída para driblar esses obstáculos seria, portanto, a desindustrialização, mandando as fábricas nativas para os confins da Ásia, preferencialmente para a China.
Inverteu-se a lógica desenvolvimentista dos tempos de JK, quando o correto seria atrair indústrias de fora ou criar as próprias, se possível, até com polpudos subsídios, como aquelas que emergiram no Nordeste, na fase áurea da Sudene. A política de então era ditada pelo raciocínio: país forte é aquele que possui indústria forte. Hoje, chegamos às raias da maior subversão desse raciocínio: país forte é aquele que consegue colocar suas indústrias no fim do mundo.
Por esses dias li até, de um economista que pontifica sabedoria catedrática, lição segundo a qual não tem nenhum sentido, mais, o medo da desindustrialização. Para que temê-la quando, para um país que está se desenvolvendo, é melhor possuir uma economia mais intelectual do que industrial? Partamos, portanto, para uma economia intelectual, que não bota a mão na massa.
Nessa caminhada, vamos chegar aos disparates. E, a mão de obra especializada aqui, nos mais diversos segmentos de atividade, vai acabar migrando, em debandada, para onde há indústria. Resumindo: ela fugirá, em marcha batida, para fora do país. De qualquer modo, em contraponto à cultura da desindustrialização, é bom observar o que está acontecendo nos Estados Unidos. Espelhemo-nos na tragédia de seu exemplo.
Fonte: Estadão