A desindustrialização e a mobilidade urbana

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José A. F. Martins*

Uma das maiores preocupações que vem atingindo as indústrias de transformação no País chama-se desindustrialização.
Esse impacto crescente vem ocorrendo em função da perda de competitividade da nossa indústria, com relação aos produtos provenientes das empresas do Extremo Oriente, principalmente da China. Para se ter uma ideia da magnitude do dano causado, o desequilíbrio entre importações e exportações de manufaturados e semimanufaturados atingiu em 2011 um déficit de US$ 92 bi.
Enquanto o PIB em 2011 cresceu 2,7%, a indústria em geral cresceu 1,6% e a indústria de transformação mostrou um crescimento microscópico de apenas 0,7%. Se levarmos em conta que o varejo (comércio) cresceu 6%, pode-se ter uma ideia da nefasta penetração dos produtos chineses no nosso mercado.
Então, perguntamos: e o nosso poder de competição? A competitividade brasileira vem sendo destruída ano a ano, em função da própria estrutura econômica, financeira e fiscal do País. Vejamos o seguinte:
– Carga tributária +/- 40% do faturamento;
– Energia mais cara do mundo;
– Carga de leis sociais absurda: 102%;
– Taxa de juros: uma das mais altas do mundo, 8%;
– Câmbio: moeda real muito valorizada;
– Logística: cara e precária com uma infraestrutura irracional.
Todos esses fatores e ainda outros de menor importância abriram o cenário para que as indústrias asiáticas fizessem do Brasil um mercado de grande atratividade. Tudo isso forma o nosso chamado “custo Brasil”.
Entre os itens que mais danificam nossa competitividade destaca-se a logística. Qual é a nossa situação atual? Vale ressaltar:
– Infraestrutura viária urbana, rodoviária e metroferroviária inadequada e não planejada;
– Vias segregadas insuficientes – corredores;
– Centros urbanos carecem de Sistemas Integrados de Transporte;
– Sistemas de sinalização obsoletos;
– Congestionamentos absurdos, reduzindo velocidade comercial dos veículos de transporte coletivo (ônibus) para menos de 10 km/h;
– Gratuidades irracionais (aumentam as tarifas);
– Transporte clandestino não regulamentado – vans, kombis, mototáxis etc. (reduzem receita do transporte regular e impactam no aumento de tarifa);
– Responsabilidade civil – acidentes sem cobertura de seguro;
– Prioridade para transporte individual sobre o coletivo;
– Combustível sem subsídio para o transporte coletivo;
– Infraestrutura aeroviária e portuária fora da modernidade;
– Infraestrutura ferroviária para transporte de carga ainda muito inadequada – reduz velocidade de operação e encarece fretes;
– Sistemas de trânsito nas cidades – disputa entre automóveis, ônibus, caminhões, motos – congestionamentos.
Todos esses problemas ainda sem solução impactam fortemente o “custo Brasil”, liquidam com a mobilidade do País e arrasam com o nosso poder de competição.
Um dos maiores obstáculos para uma performance competitiva da nossa indústria é a perda crescente da mobilidade que o País vem sofrendo constantemente.
Esperamos que o PAC Mobilidade, programa do Ministério das Cidades, que inclui um investimento de R$ 32,6 bilhões, possa ser um grande impulso na melhoria e ampliação dos nossos sistemas de transporte, por ônibus, metrô, VLTs, monorail etc. dentro de uma infraestrutura moderna e funcional.

*José A. F. Martins é presidente do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre).

Fonte: Padrão


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