A receita de sucesso da TKK Engenharia pode ser resumida com ingredientes como capacitação técnica e profissional, valorização da qualidade e cautela para não participar de mais obras do que sua capacidade de atendimento comporta
Joás Ferreira — São José dos Campos (SP)
“Evitar que se dê o passo maior que a perna” é uma das preocupações do diretor presidente da TKK Engenharia, Samuel Fernando Scalise Miranda. “Pretendemos crescer, nos próximos anos, em torno de 20% a 25% ao ano, que é um índice que nos dá condições de manter, adequadamente, o controle e a qualidade das nossas atividades”. |
Hoje, a empresa paulista está posicionada entre as 20 maiores do setor em que atua, segundo o Ranking da Engenharia Brasileira, da revista O Empreiteiro, referente ao ano de 2010. No quesito variação de receitas, a TKK foi a terceira colocada e a que mais cresceu de 2009 para 2010, registrando o expressivo índice de 92%. “Acreditamos que o mercado vai continuar crescendo, embora com menor exuberância. Parte dos investimentos deverá migrar do refino para a exploração e produção de petróleo. Prevemos espaço para evoluir nos próximos cinco anos. Menos pelo crescimento do mercado e mais pelo incremento da nossa participação nesse mercado, atingindo a um faturamento anual perto dos R$ 500 milhões, até 2016”, projeta Samuel.
O objetivo da empresa é atuar na execução simultânea de um número limitado de empreendimentos, onde estejam presentes os pressupostos de parceria, adotando ações que permitam o desenvolvimento tecnológico, humano e financeiro da empresa e das comunidades em que atuamos, de acordo com o diretor presidente da TKK.
Dentro dessa filosofia, a empresa demonstra segurança e consciência do que quer, almejando uma evolução de forma sustentada, sem precipitações e desrespeito aos seus limites e capacidades. Essa postura de moderação empresarial, entretanto, não impediu que a TKK viesse a participar, de forma direta ou sob o regime de consórcio e parceria com importantes empresas do setor, de obras de grande porte e de sofisticação tecnológica.
O resultado disso tudo é que a vem se destacando de tal forma, em especial no segmento de óleo e gás, que foi eleita Empresa de Engenharia do Ano no segmento Montagem Industrial, pela revista O Empreiteiro.
Evolução
A TKK foi fundada em 1982 para atuar no setor de construção civil e, por cerca de 20 anos, reconhece que teve desempenho discreto. “Entretanto, no início da década de 2000, o controle da empresa foi adquirido por empreendedores com histórico de atuação em construção e montagem industrial, possibilitando que os seus esforços, a partir daí, fossem dirigidos para a prestação de serviços, predominantemente, na área de óleo e gás”, de acordo com Rodrigo Kifer Amorim, diretor de gestão e processos.
Os novos acionistas, segundo Kifer, chegaram com o objetivo de preparar a empresa para acompanhar a grande demanda de serviços e obras de engenharia que os planos de negócios do setor (notadamente o da Petrobras) projetavam.
“As oportunidades iniciais vieram na forma de subcontratos junto a empresas líderes do setor de construção e montagem. Uma das primeiras surgiu na condição de subcontratada da UTC Engenharia para a instalação da estação de entrega Gemini IV e execução da interligação com linha-tronco do Gasbol em Paulínia (SP)”, informa o diretor da empresa.
Segundo ele, o plano era ter estrutura de negócios extremamente leve e descentralizada, apoiada por uma estrutura operacional montada on site, para cada obra, a partir de núcleos de pessoas comprometidas e ambientadas com a cultura e os valores da empresa.
“Os desafios foram cumpridos a contento e o passo seguinte foi a qualificação no Cadastro de Fornecedores de Materiais e/ou Serviços da Petrobras (Certificado de Registro e Classificação Cadastral – CRCC). Esse cadastramento viabilizou a participação direta da TKK em processos licitatórios da companhia estatal, originando os primeiros contratos, com as obras complementares de construção, montagem e adequação à norma N-505 das cabeças de dutos, das Refinarias de Paulínia (Replan), Terminal de Guarulhos e da Refinaria Henrique Lage (Revap) em São José dos Campos”, aponta Kifer.
Tirando proveito da experiência de seus quadros e se valendo de um momento em que havia carência de construtoras capacitadas para operar em regime de contratos de EPC, a TKK conseguiu ocupar um espaço especial nesse que “talvez seja o nicho mais nobre das obras de engenharia, mas sem jamais esquecer sua essência de empresa montadora”.
O passo seguinte foi a consolidação de parcerias estratégicas, buscando complementaridade especialmente com construtoras que tinham porte e eram conceituadas, mas, não possuíam tradição em projetos de óleo e gás.
Estratégia em parcerias
“Amadurecemos vendo empresas competentes enfrentarem dificuldades, ou mesmo desaparecerem, por conta de insucessos operacionais, às vezes, em decorrência de operações mal sucedidas, e, em outras ocasiões, por movimentos contrários de mercado, ou refluxo, para os quais é muito difícil qualquer empresa se preparar”, explica Samuel, que fez carreira como gerente da Petrobras na área de obras da companhia, até se retirar em 1995.
Samuel conta que a diretoria da empresa percebeu, então, que teria de investir num modelo de TKK diferente do que era comumente usado: “Abrimos espaço para a descentralização das operações, buscando aliar sofisticados sistemas de controle, favorecer o desenvolvimento dos colaboradores, criar um bom ambiente de trabalho interno e externo, selecionar criteriosamente as oportunidades a serem perseguidas e, principalmente, concretizar a consecução de parcerias estratégicas e duradouras”.
De acordo com o diretor presidente, as empresas de engenharia, em especial as que operam em setores sensíveis, exigentes e sofisticados como é o do óleo e gás, carregam no seu bojo vultosos custos fixos: “Configura-se aí uma espécie de dicotomia em que, se a empresa não investir no fortalecimento da sua estrutura própria, não terá equipes compromissadas para fazer frente às enormes demandas atreladas aos empreendimentos, e, se fizer o contrário, ficará dependente de fluxos permanentes de negócios para manter sua estrutura”.
A celebração de parcerias, principalmente na modalidade de consórcios, segundo Samuel, trouxe a solução para esse problema: “Além da
menor demanda por investimentos que se consegue ao fazer o compartilhamento de recursos, no momento em que surgem as dificuldades, o fato de não estar sozinha faz com que a empresa mantenha a moral em alta e busque a solução para os problemas”.
Qualificação
A TKK sempre buscou melhorar sua qualificação técnica e suas práticas de gestão e, com a obtenção de resultados positivos nas obras realizadas, hoje ela pode ostentar a classificação da Petrobras no Grau “A”, como executante de projetos Engineering Procurement Construction (EPC).
Um dos primeiros grandes contratos em regime de EPC, de que tomou parte, foi a obra dos sistemas do turbo expansor e de cogeração de energia da Revap, realizada em consórcio com a Potencial Engenharia. “Nós, TKK e Potencial, sabíamos que estávamos diante de um grande desafio, que serviria como ‘divisor de águas’ para ambas as empresas, podendo consolidar nossa posição no seleto grupo de EPCistas da Petrobras. Trabalhamos duro, desenvolvemos parcerias, monitoramos cada etapa do empreendimento, resolvemos todas as interfaces com o cliente, fornecedores e prestadores de serviços. O resultado final, foi a entrega da obra em operação e a satisfação do cliente”, afirma Rodrigo Kifer Amorim, da TKK Engenharia.
De acordo com Samuel, “até hoje, esse é considerado o melhor turbo expansor, em desempenho, da Petrobras. Um dos destaques desse primeiro equipamento é que ele no teste já girou na carga nominal. Hoje, a estatal já tem cinco turbos expansores, em funcionamento, e está construindo o sexto, na Replan”.
A partir de 2009, outros projetos expressivos foram incorporados à carteira de negócios da TKK. Muitos deles tiveram um viés ambiental, como a ampliação da capacidade de escoamento de álcool da Replan, em Paulínia (SP), as unidades de secagem de lodo e borra oleosa da Revap, a implantação da Estação de Tratamento de Despejos Industriais (ETDI) e das torres de resfriamento TR-52001, TR-52001 e TR-53001, realizada em conjunto com a Egesa Engenharia, para a Refinaria do Nordeste ou Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca (PE), a implantação da unidade de recuperação de enxofre e unidades auxiliares e, finalmente, a unidade de hidrotratamento de nafta. As duas últimas estão sendo realizadas em conjunto com a Delta Construções e a Projectus Consultoria, no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí.
Com o crescimento da empresa, além dos consórcios, foi necessário desenvolver e consolidar outras parcerias estratégicas, envolvendo fornecedores e prestadores de serviço especializados, entre os quais empresas projetistas, fabricantes de estruturas metálicas, pré-moldados de concreto, spools, laboratórios de ensaios especializados, serviços especiais de engenharia, etc. “Hoje, usufruímos de benefícios de atendimento e custos com os nossos parceiros, o que nos permite praticar preços finais mais competitivos”, constata Rodrigo.
A empresa projeta para 2011 um crescimento de 35% em relação ao período anterior e, para isso, conta com um backlog superior a R$ 600 milhões, decorrente de contratos próprios e participações em consórcios. Com esse perfil, a empresa afirma que tem assegurado fôlego superior a dois anos e perspectivas de desenvolvimento para seus mais de 3.500 colaboradores diretos.
Dentro desse universo, a TKK ostenta com orgulho a conquista de um segundo lugar entre as empresas contratadas que participaram do Prêmio Petrobras de Engenharia de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde – Edição 2010, com a obra da ampliação da capacidade de escoamento de álcool da Replan.
Controles sofisticados
A empresa também é considerada uma referência na área de controle de produtividade da mão de obra. Nesse campo, destaca-se o desenvolvimento do programa Mapa de Rendimento de Mão de Obra (MRM), que permite acompanhar a atuação mensal de suas frentes de produção, o desempenho econômico de cada atividade e a dimensão do impacto dos desvios no contrato como um todo.
Esta ferramenta possibilita, diante da avaliação mensal do desempenho das atividades, a tomada imediata de ações de melhoria para as frentes de trabalho com baixo rendimento. “Como o rendimento da mão de obra sempre foi o gargalo da engenharia brasileira, nós damos uma atenção muito especial para esse monitoramento. A partir dele, temos conseguido melhorar mês a mês a eficiência da nossa produção. Empresas que não possuem esse valioso instrumento de controle, quando precisam intensificar a produtividade, normalmente optam por aumentar seu efetivo. No entanto, essa medida só faz aumentar o custo e diminuir ou até anular a lucratividade. Antes de aumentar o número de colaboradores, é preciso ter certeza de que o efetivo do momento está sendo o mais eficaz possível. Além disto, segmentamos nossas operações em diversas suboperações, analisando o desempenho de cada uma, e procurando antecipar medidas corretivas, antes da ocorrência dos problemas”, finaliza.
Fonte: Estadão