Os arrastões, que começaram a ocorrer nas praias cariocas e, depois, derivaram também para edifícios residenciais em São Paulo, SP, estão acontecendo, com fúria crescente, em restaurantes desta capital. Contudo, conforme artigo do presidente emérito do Instituto Ethos, Oded Grajew, eles coinstituem apenas um dos problemas paulistanos.
Entendo, à margem de artigo de Grajew, publicado na FSP deste domingo, 24 de junho, que mesmo que não houvesse outros problemas de igual ou menor gravidade, este já seria suficiente para deixar qualquer autoridade da segurança e qualquer administrador público, de cabelos em pé.
Mas, há outros obstáculos e todos de difícil transposição. Quando um parece estar prestes a ser equacionado, outro se agrava. E, quando um se agrava, os demais seguem pelo mesmo caminho. O articulista enumera várias dessas dificuldades, mas quero me concentrar em uma que tem sido, ao longo do tempo, o calcanhar de aquiles das administrações que vão se sucedendo: o problema da saúde: “A população que utiliza os serviços públicos de saúde espera, em média, 52 dias pela consulta, 65 dias para a realização de exames e 146 dias para intervenções mais complexas”.
Ative-me a essa observação porque estive há alguns dias no pronto socorro do Hospital do Servidor Público. Era um domingo e chovia. E a chuva não se manifestava apenas no lado externo do hospital. Chovia dentro.
Talvez seja exagero dizer chovia dentro. Mas a chuva caía ao longo do corredor, aos pingos, de forma contínua e exasperante. A tal ponto, que funcionários colocaram vasos em diversos pontos para evitar que as goteiras deixassem o piso encharcado. Além disso, havia banheiros sem papel e consultórios sem papel carbono, o que obrigava alguns médicos a escrever a receita duas vezes, para o paciente. Cito este exemplo como poderia citar outros. E isto mostra aquele lado escuro da capital mais rica do País.
Se uma cidade como São Paulo não consegue resolver problemas que seriam de singela manutenção, como poderá querer transpor obstáculos mais graves?
Quero concluir este breve comentário com as palavras com as quais o pensador social Oded Grajew terminou o seu artigo: “Todas as cidades que baixaram os índices da violência e melhoraram a qualidade de vida implementaram ações para diminuir a desigualdade e ocupar todo o território com equipamentos e serviços públicos de qualidade.”
Fonte: Nildo Carlos Oliveira