O governo, nos três níveis, e os políticos, no geral, retomam a rotina como se os protestos de rua não tivessem acontecido
Joseph Young
O governador Eduardo Campos (PSB-PE), virtual candidato à Presidência da República, tem comentado que falta “traquejo político” à presidente Dilma Rousseff. O que, no caso, significaria traquejo político? A capacidade camaleônica de atender aos vendilhões do templo e de negociar apoio para aprovar cada projeto de lei ou cada MP (medida provisória)? E a paciência da ex-guerrilheira seria suficiente para suportar o desgaste dessas barganhas?
Talvez ela nem tenha digerido a metamorfose do PT, que, ao chegar ao poder, mudou de comportamento, converteu-se em mais um partido político e atirou no lixo as aspirações de “criar uma nova ordem política e econômica no País”. Pois quem são os seus aliados, senão os mesmos caciques mastodônticos da ex-Arena e que tais?
Bem no velho estilo terceiro-mundista, o PT atual vem tratando as “crises” diplomáticas com o Paraguai no âmbito do Mercosul. E, agora, da mesma forma, vem tratando o problema criado com a chegada ao Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina, que, com a ajuda do diplomata Eduardo Saboia, conseguiu fugir da embaixada brasileira em La Paz.
Há analistas conservadores para os quais o Mercosul nunca serviu para outra finalidade, senão para ajudar a conservar um bloco regional. Estaria aí a possibilidade da conversa recorrente sobre a renegociação do tratado que permitiu a construção da usina hidrelétrica de Itaipu, uma vez que o Paraguai insiste na pretensão de receber mais pela energia que vende ao Brasil. E quais os interesses estratégicos do Brasil com relação à Bolívia? Um deles seria a convivência amistosa dos brasileiros que se formam em Medicina, naquele país, com os bolivianos.
Mas, voltando ao Congresso Nacional, falemos dos parlamentares, inclusive os da base aliada, que comemoram a aprovação do chamado Orçamento Impositivo, pelo qual o governo é obrigado a pagar as emendas apresentadas por deputados e senadores. Eles comemoram sua vitória como se fossem os donos do País, dando a entender que carências históricas, até seculares, seriam solucionadas por suas emendas. A rigor, os recursos das emendas acabam investidos (em parte) em obras de utilidade duvidosa. Tanto assim, que as cidades brasileiras continuam convivendo com problemas de toda ordem, sem perspectivas de solução.
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, considera normal levantar dois empréstimos de R$ 1,4 milhão no Banco Mercantil do Brasil, réu de um processo que ele mesmo relata. Os seus pares, ocupados com as tarefas para encerramento do julgamento do mensalão, ainda não se manifestaram.
Enquanto isso, o deputado Natan Donadon (sem partido-RO), condenado pela Justiça e recolhido à Penitenciária da Papuda, conseguiu livrarse provisoriamente da cassação do mandato no plenário da Câmara dos Deputados. Com essas e outras, como é que o Congresso quer resgatar a imagem dos políticos se eles próprios se encarregam da jogá-la na lama?
É uma pena que os políticos e governantes apostem na exaustão dos manifestantes de rua nas principais cidades brasileiras. Por que eles não aproveitam essa trégua involuntária para propor medidas concretas que ao menos amenizem as carências da população no médio prazo? Porque essa calmaria aparente pode ser rompida de um momento para outro nos próximos meses.
Daqui a pouco, já na eleição de 2014, talvez uma boa parte desses políticos seja apeada do poder por um movimento de massa do eleitorado. Não podemos nos esquecer de que somos hoje 200 milhões. É tempo de faxina.
Fonte: Revista O Empreiteiro