A usina hidrelétrica de Belo Monte é uma novela antiga, que vem sendo esticada, a essa altura, para mais de mil e um capítulos, há mais de 30 anos. Nas mudanças de cenas, personagens e cenário, o projeto original foi refeito e, depois de reelaborado, recebeu novas adequações. Em sua origem, preservava resquícios daquela fase em que construir grandes barragens significava extraordinárias movimentações de terra. Alterado, procurou considerar os valores da chamada sustentabilidade ambiental, recolocando as estruturas de concreto em sítios diversos, de modo a mexer o mínimo possível no santuário ecológico local. De qualquer modo, a natureza, ali, irá para o sacrifício: a área do reservatório, que antes era de 1.225 km², com as readequações no projeto, encolhe para 516 km².
Os capítulos da novela apresentaram, nesses dias, os personagens que se mexeram para a aprovação da formação do consórcio Norte Energia, que é liderado pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco e integrado pela Eletrobrás, Eletronorte e várias empresas de engenharia, dentre elas a Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, Serveng e Contern. Seria de imaginar-se que a essa altura as coisas pudessem caminhar com tranqüilidade. Mas, conforme escrevi há algum tempo, construir Belo Monte é nadar contra a correnteza. Porque não se trata apenas de construir uma obra, mas de construir uma condição para fazê-lo. E, construir essa condição, é algo mais complexo do que elaborar o projeto, estruturar as equipes e tentar avançar, com máquinas, para montar o canteiro. Pelo caminho, governo e empresas vão encontrar as questões sociais, as exigências para resolver o saneamento, a manutenção da navegabilidade pelo rio Xingu durante a fase da construção e da operação da usina e a elaboração e cumprimento de um plano para a conservação dos ecossistemas aquáticos e terrestres na região. Construir essa usina não será tão-somente um ato de vontade de governo, mas um exercício de convencimento a partir da apresentação de argumentos lógicos e constatáveis. Talvez o erro inicial primário tenha sido a megalomania de se construir ali a terceira maior hidrelétrica do mundo.
Aeroportos brasileiros
Está aí a posição de Giovanni Bisignani, presidente da The Air Transport Association (Iata) -, expressa em fórum da entidade, no Panamá: "Dos 20 maiores aeroportos domésticos do Brasil, 13 não conseguem acomodar as demandas em seus terminais e a situação em São Paulo é crítica". Para um país que vai sediar a Copa e a Olimpíada, a crítica é um soco no estômago.
Fonte: Estadão