Há muito não me sinto dono de mim. Possivelmente esteja mais esquartejado do que Tiradentes. E não se pode sentir dono de si quem está com a vida toda previamente comprometida por todo tipo de impostos, taxas e contribuições municipais, estaduais e federais, precisando trabalhar de três a quatro meses do ano para deixar um pedaço de sua vida no saco sem fundo do Tesouro, a fim de que conhecidos donos do poder continuem na esbórnia.
Mas, não falemos de impostos. O assunto que me chama a atenção é a decisão da Caixa Econômica Federal que acaba de ampliar para até 35 anos o prazo de financiamento para a compra de imóveis. Trata-se, se imaginarmos o que significa 35 anos numa vida que a rigor vai até os 60 ou 65 anos, com as exceções naturais de quem chega aos 70 ou 80, de um financiamento eterno.
Ou seja: para adquirir um bem, que é considerado um dos direitos humanos inalienáveis, o sujeito financia a existência. E, a isto se dá o nome de “ampliação da capacidade de compra”.
Aos poucos, a pessoa, para existir, vai se deixando cair nas armadilhas do governo ou do mercado. Torna-se refém dos compromissos e, para cumpri-los, anula-se, com o risco de colocar a corda, também, no pescoço da família. O pior de tudo é que, apesar de vivermos um novo e mais apertado ciclo da derrama, não temos nenhum inconfidente acenando com a possibilidade de uma rebelião.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira