Uma vez, instigado a fazer uma crítica sobre uma obra de arquitetura e engenharia, um arquiteto me afirmou: “O melhor crítico é o usuário.” E o usuário, o público, falou claro e sem meias palavras no caso da estreia do Estádio “Governador Magalhães Pinto”, o Mineirão, em BH. Ele criticou as dificuldades de acesso, falta de água, falta de iluminação nos banheiros e enumerou outras deficiências.
Era sabido de todos que o jogo inaugural da reforma do estádio, no qual o Cruzeiro venceu o Atlético-MG por 2 a 1, atrairia bom público. E, a maioria estava evidentemente ansiosa para conhecer as novas instalações, as condições não apenas do gramado, das arquibancadas e da visibilidade, mas do conjunto, em especial os acessos, as eventuais facilidades para chegar ao estacionamento e poder privar do conforto do restaurante, lanchonetes, banheiros e dos serviços gerais de apoio.
Mas não foi isso o que aconteceu. Pode-se até argumentar que, a rigor, o desconforto não chegou a provocar manifestações críticas mais veementes à arquitetura e às obras de engenharia. Mas, convenhamos, uma obra, quando é entregue ao público, jamais deve ser entregue com deficiências operacionais. O argumento de que a estreia fora um ensaio para testar as condições gerais da arena não se sustenta. Veja-se que a reforma do Mineirão durou dois anos e alguns meses e absorveu nada menos que mais de R$ 660 milhões. E ali estiveram envolvidas, na construção, empresas de peso: Construcap, Egesa, Hap e outras.
Além do que, o consórcio gestor, Minas Arena, vinha difundindo em seus prospectos: o novo Mineirão terá 98 camarotes, 2.024 assentos, restaurante panorâmico para 370 pessoas, 58 bares e lanchonetes e 54 banheiros etc. O usuário se queixa de que ali não conseguiu comprar sequer um copo d´água. É por causa disso que o consórcio recebeu uma multa de R$ 1 milhão. Falou o público.
Fonte: Estadão