A participação do Brasil liderando a Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah, conforme sigla derivada do francês Mission des Nations Unies pour la stabilisation em Haiti) vai muito além da busca pela pacificação do país, que durante muitos anos viveu ciclos de violência interna, tanto por conta de instabilidades políticas, econômicas e administrativas, quanto por causa de gangues urbanas, sobretudo na capital, Porto Príncipe.A Companhia de Engenharia do Exército brasileiro, composta também por fuzileiros navais e integrantes da Força Aérea, tem cuidado de reconstrução de estradas e de ruas e equipamentos urbanos e redes de esgoto. Vem até perfurando poços para que a população possa se abastecer de água potável de melhor qualidade.O alcance social desse trabalho cresce em importância, na medida em que os haitianos passam a viver com mais qualidade de vida e segurança.A recuperação das condições de paz e de melhores índices de qualidade de vida tem garantido à essa nação caribenha a conquista de maior credibilidade institucional e econômica diante da comunidade internacional. A inflação declinou e abriu-se campo para a possibilidade de crescimento, uma vez que está se tornando possível acenar para investimentos no país.O embaixador do Brasil no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, destaca que essa experiência aumentou o prestígio das Forças Armadas brasileiras e do Brasil como um todo: “Isso granjeia respeito e possibilidade de termos uma voz mais forte junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização das Nações Unidas (ONU) e junto a outras instâncias internacionais”.AtuaçãoA Missão das Nações Unidas, através do Exército brasileiro, implementou centenas de frentes de construção e melhorou a infra-estrutura de Porto Príncipe, onde vivem cerca de 3 milhões de pessoas, correspondentes a 43% da população. Foram realizadas limpezas de canais, pavimentação de avenidas e vias urbanas principais, conforme assinala o coronel Antônio César Alves Rocha, comandante da Companhia de Engenharia.As obras incluem terraplenagem, asfaltamento, perfuração de poços artesianos e reformas de prédios públicos destruídos pela ação de grupos armados.Pelos cálculos do Exército, as tropas de engenharia já asfaltaram dezenas de quilômetros de vias urbanas, transportaram quase 100 mil m³ de terra, recuperaram mais de 100 mil m² de pistas e perfuraram dezenas poços para abastecimento d´água. “Esses serviços são muito visíveis. O asfaltamento de uma rua e a recuperação uma avenida, principalmente nas áreas mais pobres, sem assistência, permitem um reflexo muito positivo na imagem da nossa atuação e de toda a ação da missão da ONU”, diz o general Carlos Alberto Santos Cruz, comandante da Força Militar da Minustah.Permanência no paísEm entrevista à publicação institucional da Sotreq (ligada à Caterpillar, que forneceu diversos equipamentos para a missão), o diplomata brasileiro Luiz Carlos da Costa, representante especial adjunto do secretário geral da ONU, afirma que a presença da Minustah no Haiti ainda é muito necessária.Ele acredita que a permanência por mais alguns anos tornará viável a estabilização institucional e a garantia da paz, impedindo que os conflitos urbanos retornem.Situações de perigoNo início da operação da missão da ONU, as gangues que dominavam o país praticavam ali toda sorte de vandalismo, inclusive escavando buracos nas vias urbanas para impedir a circulação das viaturas militares. A solução foi tapar os buracos usando caminhões basculantes e carregadeiras. Durante essas tarefas, os operadores das máquinas ficavam vulneráveis aos ataques das quadrilhas armadas.Esse problema foi solucionado em razão da criatividade do Pelotão de Engenharia, que improvisou a blindagem das máquinas utilizadas naquele serviço. A equipe tratou de cobrir a cabine com bordas de lâmina de trator de esteiras e laminou o vidro original, que ficou com 8 cm de espessura.A inventividade funcionou. Tanto assim, que uma carregadeira foi alvo de vários tiros, mas o operador continuou, ileso, o trabalho, segundo o Exército brasileiro. Fonte: Estadão