PPP leva mais água tratada ao sertão de Alagoas

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Um dos municípios mais importantes do agreste, vítima dos problemas crônicos da seca, encontra em moderno instrumento de contratação de obras o meio para se beneficiar das águas do rio São Francisco e criar condições para melhorar sua infraestrutura em favor do desenvolvimento local

Nara Faria – Arapiraca (AL)

Importantes empreendimentos devem melhorar e movimentar a vida econômica da região de Arapiraca, em Alagoas. Dentre eles inclui-se um polo agroalimentar, que está prestes a ser inaugurado, além do primeiro shopping center local, o Pátio Arapiraca Garden Shopping. Ambos devem entrar em operação no segundo semestre deste ano. O centro comercial, sob administração do grupo Tenco, deve gerar cerca de 3,5 mil empregos.

No entanto, o projeto mais importante foi fechado em junho do ano passado, na modalidade Parceria Público-Privada (PPP), entre a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) e a CAB Águas do Agreste, da Galvão Engenharia. O objetivo da iniciativa é duplicar a capacidade de abastecimento de Arapiraca e municípios vizinhos, passando de 1.500 m³/h para 3.000 m³/h até 2014, a partir das águas do rio São Francisco.

“Apesar de não ser o maior da CAB Ambiental, o projeto em Arapiraca representa um grande desafio: viabilizar o processo de investimento dentro das características da região, que sofre secularmente com falta de água e é muito carente”, explica o presidente da CAB Ambiental, Mario Galvão.

Com investimento previsto de R$ 175 milhões, a iniciativa, originalmente com prazo para entrar em operação em setembro de 2014, terá sua conclusão antecipada para junho daquele ano, de acordo com o presidente da CAB Ambiental.

Serão atendidos os municípios de Arapiraca, Campo Grande, Coité do Noia,Craíbas, Feira Grande, Girau do Ponciano, Igaci, Lagoa da Canoa, Olho D’água Grande e São Brás, compreendendo uma população de 220 mil pessoas.

Além de abastecer os dez municípios, o sistema levará água para outro empreendimento que avança na região: o da exploração de minérios de ferro, cobre e ouro. Será construída uma derivação que abastecerá a mineradora Vale Verde, que deve entrar em operação até 2015. O empreendimento, localizado entre Arapiraca e Craíbas e de responsabilidade da Aura Minerals, é orçado em R$ 840 milhões. Prevê a geração de 1.250 postos de trabalho diretos e 5 mil indiretos na fase da construção. Já na operação, 385 pessoas serão empregadas diretamente e 1.540 indiretamente.

Sistema existente

Atualmente, Arapiraca é abastecida por uma adutora implantada em 1970. O sistema capta água do rio São Francisco no morro do Gaia, município de São Brás. Nesta estação, a estrutura de captação é composta de dois conjuntos de bombas em operação de 300 cv de potência e um conjunto de reserva. A água bruta é bombeada até uma estação de tratamento do tipo convencional completa, com duas unidades distintas. A primeira, com capacidade instalada de 1.080 m³/h de água, e a segunda, com 1.170 m³/h, garantem o fornecimento contínuo de água para o sistema.

Após o tratamento, a água é direcionada para as duas estações elevatórias — a primeira possui bombas de 400 cv e a segunda trabalha com bombas de 850 cv. As estações elevatórias bombeiam a água tratada através de duas adutoras. A mais antiga, em ferro fundido, com 400 mm de diâmetro e a segunda, de aço-carbono, com 600 mm de diâmetro, que seguem até uma caixa de passagem, localizada a 11 km de distância.

Depois segue por gravidade por 11 km, até a estação elevatória de Campo Grande. A elevatória de Campo Grande é responsável por bombear água por quase 29 km de distância, até uma segunda caixa de passagem nas imediações da cidade de Arapiraca. Nos trechos existem ramais para o atendimento da cidade de Lagoa da Canoa, Girau de Ponciano, São Brás, olha d’Água Grande, Feira Grande e Campo Grande. Após a caixa de passagem, a água segue novamente por gravidade por mais 3 km até o centro de reserva da Casal, de onde é distribuída à população de Arapiraca, Igraci, Craíbas e Coité do Noia.

Com mais de 40 anos de existência, a estação de tratamento possui problemas de conservação, vazamento e, com o desenvolvimento da região, não é mais suficiente para abastecer 24 horas a região. As instalações são prejudicadas pela falta de manutenção, que, somadas às ações de vandalismos, tornam o atendimento deficitário, com desperdício de água e dinheiro.

Novo sistema adutor

Com a parceria, a adutora já existente deve passar por reformas e substituir equipamentos obsoletos. Outros 58 km de adutoras estão sendo construídos, ampliando o sistema produtor de água do agreste alagoano para 3.000 m³/h. Uma nova estação de tratamento de água será construída na cidade e terá capacidade de tratamento máxima de 1.250 m³/h. A ETA será implantada no mesmo terreno em que será construída a sede da CAB Águas do Agreste.

O novo sistema adutor integrado de Arapiraca prevê a captação das águas junto às margens do rio São Francisco, no município de Traipu, em um local próximo ao povoado de Lagoa Grande, através de um canal de aproximação.

O gerente de contratos da Galvão Engenharia, Carlos Eduardo F. Simões, informa que o novo canal permitirá que toda a construção seja realizada em terra firme, o que reduzirá os impactos ambientais no rio São Francisco.

Para tratar a água, será implantada uma estação elevatória com gradeamento grosso e fino, unidades de desarenação e o poço de sucção das bombas. A água bombeada seguirá paralela às estradas vicinais através de tubulações de aço até uma segunda estação elevatória, responsável pelo bombeamento até o cume da serra dos Manões, vencendo um desnível de 390 m de altura em relação ao rio São Francisco e seguirá por um trecho de recalque de cerca de 9 km de extensão.

No alto da serra a água será lançada em uma caixa de passagem e seguirá por gravidade o restante do percurso, com 47,1 km de extensão em direção ao povoado Canaã. Após atravessar a rodovia estadual AL- 220, a adutora terá uma derivação de menor diâmetro, com 6 km de extensão, que será construída pela mineradora e atenderá a sua unidade de produção no município de Craíbas. Serão fornecidos 500 m³ por hora de água bruta.

A adutora principal seguirá até a nova estação de tratamento de água de Arapiraca, fornecendo à cidade 1.000 mde água por hora. A estação de tratamento de água de Arapiraca foi projetada do tipo convencional de ciclo completo.

Aproximadamente 4,5 km de tubos da nova adutora já foram assentados e as obras seguem por três trechos subdivididos. Para que as obras avancem e atinjam os 58 km, a companhia aguarda pela liberação para a intervenção em trechos que soma 18 km.

De acordo com o engenheiro responsável pela área de planejamento e gestão da CAB do Agreste, Fábio Florentino de Carvalho, dos 58 km projetados, 26 km passam dentro de propriedades privadas.

Ele explica que destes 26 km já foram obtidos os decretos de utilidade pública e todo o laudo foi levantado. “O que nos cabia no contrato foi feito, que era a identificação das áreas, a identificação dos terrenos e a identificação do proprietário. O Estado já aprovou o laudo com o valor da indenização de cada área que está sendo afetada. Todas somam R$ 145 mil e já foram depositadas em juízo”, explica Carvalho. Segundo ele, são 80 propriedades afetadas e por se tratar de áreas rurais, praticamente não há desapropriação de famílias.

Vencendo barreiras

A região rochosa e a agricultura basicamente desenvolvida pela plantação da cana-de-açúcar trouxeram para o projeto necessidades específicas. Por conta dessas condições, optou-se por incluir no projeto conceitual o uso de 100% da tubulação de aço-carbono, em substituição ao RPVC e ferro fundido.

Isso porque o projeto conceitual mostrou que o uso do fogo nas lavouras danificavam os tubos de RPVC. No ferro fundido também foram encontrados problemas, por conta do uso da borracha na vedação das juntas.

No caso do aço-carbono, as juntas são soldadas, o que evita o vazamento. Além disso, o aço suporta o esforço da estrutura em regiões que possuem uma maior quantidade de curvas.

O tubo de aço-carbono também contribui para mitigar outro problema na região. É característica da adutora de água bruta criar bolsões de ar nas partes mais altas e acumular sujeiras nas partes mais baixas. Para evitar esses problemas, são implantados dispositivos chamadas ventosas, que permitem a expulsão do ar. Nos pontos mais baixos são instaladas descargas, que possuem operações programadas para limpar esses trechos.

No entanto, essas ventosas e descargas formam pontos vulneráveis de furtos. “Aqui no agreste, a época da seca se arrasta por oito meses do ano. Imagine o gado morrendo e a oportunidade de buscar a água em um ponto como esse. A pessoa vai quebrar a ventosa e utilizar a água”, explica o diretor geral da CAB Águas do Agreste, Antonio Carlos Ribas Dallalana.

Recentemente, em uma operação realizada pela companhia Casal ao longo da adutora do agreste já existente, foram encontrados desvios da água que estavam servindo para irrigar plantações e pastagens. Em um imóvel situado no Distrito Industrial de Arapiraca, havia uma bomba instalada dentro da caixa de descarga da adutora puxando água para abastecer, por meio de uma mangueira, uma caixa de água de 500 litros.

Em um sítio, em Feira Grande, havia sinais de violação da ventosa, enquanto que em outro sítio, a ventosa apresentava vazamento. A água formava, a poucos metros, um açude onde uma bomba de grande potência puxava o líquido para plantações de batata.

O novo projeto permite, em muitos casos, a opção de ser construído escavado e enterrado. Na situação anterior, somando as ventosas e descargas, existiam 150 unidades, aproximadamente. No novo projeto serão 81 pontos. “É uma redução de 46%. Isso apenas no ponto de vista de operação, porque, no operacional, cada ponto é uma área de furto, o que diminui o vandalismo”, afirma Carlos Simões.

A presença de solo rochoso também dificulta e encarece o processo de escavação. Para fugir desses trechos, o projeto contempla a construção de trechos subterrâneos e trechos aéreos, que margeiam as estradas vicinais. Sem a alteração de extensão, foram realizados desvios no projeto original, que previa intervenções na área central de Arapiraca.

Essa mudança possibilitou também a redução da potência instalada nas bombas utilizadas para o bombeamento, considerando que foi reduzida a quantidade de curvas no trajeto. No projeto conceitual, a potência instalada varia em torno de 4.000 cv. O novo projeto permite aproximadamente 3.500 cv. “Consequentemente isso gera economia de energia elétrica e polui menos. Enfim, uma coisa leva a outra”, explica Dalallana.

Além disso, o projeto conceitual previa trabalhar com uma energia fornecida em média tensão, o que aumenta os equipamentos de controle e os custos de implantação da automação. Com a nova proposta, a automação utilizará energia fornecida em baixa tensão, reduzindo assim o consumo.

Adutora na região de Arapiraca (AL)

• Início da operação: 2012
• Estimativa de conclusão: junho de 2014
• Controle acionário: 100% CAB Ambiental
• Prazo de concessão: 30 anos
• População atendida: 220 mil em 10 municípios
• Investimento: R$ 175 milhões
• Extensão total da tubulação implantada: 58
km
• Comprimento por tubo: 12 m cada (Brastubos)
• Diâmetro dos tubos: 700 mm
• Espessura dos tubos: 14 km com espessura 5/16” e 44 km
com espessura de ¼”

Fonte: Revista O Empreiteiro


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