É evidente que há uma corrida, nos bastidores, para sepultar de vez qualquer possibilidade de tornar o Morumbi viável às exigências da Fifa para a abertura da Copa de 2014. Somente a reforma não bastaria. Ela implicaria custos da ordem de R$ 600 milhões, quando a gastança, para atendimento das exigências previstas, teria de ser bem maior. Menos, não teria graça.
De nada adiantou, portanto, a elaboração do projeto do arquiteto Ruy Ohtake, apresentado em diversos seminários e em outros encontros do gênero para tornar o Morumbi moderno, seguro e confortável. O que os cartolas queriam mesmo era encontrar o momento certo para colocar as cartas na mesa.
Para eles, a solução é um novo estádio. A propalada ideia de um centro de convenções anexo ao Piritubão seria um argumento a mais para justificar um conjunto que pode devorar, numa conta ainda imprecisa, possivelmente mais de R$ 1 bilhão. Essa, para eles, seria a jogada correta.
Mas, e a cidade, como fica? O importante para a cidade não é um novo estádio. A menos que um novo estádio signifique um bem para a cidade e os seus cidadãos. Um equipamento de uso comum e coletivo amplo e irrestrito. Que traga benefícios para a comunidade do entorno onde ele eventualmente seja construído, do ponto de vista de infraestrutura – transporte melhor, habitação melhor, saneamento minimamente aceitável.
Construir um estádio apenas para satisfazer o apetite de gastança dos cartolas e para atendimento de interesses que ainda se encornam no limbo, seria uma insensatez, numa cidade que precisa de tudo, menos da improvisação e da exploração do dinheiro do contribuinte.
A FSP de hoje dá conta, em seu editorial, de que arenas esportivas da África do Sul, com problemas semelhantes aos que são apontados no Morumbi, foram reformadas e estão atendendo satisfatoriamente aos jogos e ao afluxo das multidões que eles atraem nesta Copa do Mundo.
Por maior que seja a paixão brasileira pelo futebol, nada justifica a sangria desatada do dinheiro público -ou privado – só porque os cartolas querem. E eles querem o infinito.
Fonte: Estadão