As dificuldades para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, não se encerraram com a vitória do consórcio Norte Energia, integrado pela Chesf, Queiroz Galvão e J. Malucelli. Elas começaram há mais de 20 anos, quando Belo Monte ainda era chamado Kararaó e prosseguem. Alguns até acham que as dificuldades maiores sequer começaram.
As dissensões envolvem tribos indígenas, ambientalistas daqui e alhures, complexas questões logísticas e, ainda, em algumas áreas, a precariedade de entendimento do que seja aquele mundo amazônico.
Uma coisa é imaginar a usina a partir de um gabinete no Sul ou Sudeste, ou em qualquer outra região. Outra, é pisar no chão da Amazônia para testar, na prática, os caminhos e as obras previstas, sabendo-se que haverá pela frente o problema de um entendimento inconcluso, que a promessa de um progresso, capaz de sacrificar o meio ambiente, não consegue resolver. Politicamente, Belo Monte ainda é uma borduna. Ou faca afiada.
Mas, pelo lado do governo, foram dados alguns passos. O consórcio Norte Energia ofereceu R$ 78 pelo megawatt/hora, valor 6,02% abaixo do teto originalmente fixado, que era de R$ 83,00, e assumiu a responsabilidade pela construção de uma usina que deverá gerar 11.200 MW.
Há alguns fatos concretos que pesarão na balança de dificuldades: o consórcio vencedor terá de buscar recursos junto a fundos de pensão e estabelecer vínculos de sociedade com autoprodutores de energia (CSN e Gerdau, por exemplo). E, se a Queiroz Galvão insistir em se retirar do grupo, os problemas aumentarão.
Outro dado importante: aquelas empresas, que em momento crucial para a realização do leilão, decidiram cair fora – a Camargo Corrêa e a Odebrecht – são as que mais participaram e estudaram, em profundidade, do projeto da hidrelétrica. E, não só dessa obra, mas de outras previstas para a região. A Camargo Corrêa detém os estudos para aproveitamento do Complexo Tapajós.
O consórcio, que não tem empresas com o poder de fogo daquelas que na 25ª hora desistiram do leilão, poderá, no entanto, reduzir o peso das dificuldades que enfrentará, se tiver jogo de cintura para tanto. Ele contará, para isso, com a experiência da Chesf e da Queiroz Galvão, que não poossui a tradição da Camargo ou da Odebrecht na execução de obras daquele porte. Contudo, ele poderá subcontratar alguma daquelas grandes empreiteiras, para ajudá-lo a tocar as obras. Seria a saída mais prática.
Fonte: Estadão