Belo Monte deu, hoje, mais um passo para consolidar-se. O consórcio IE Belo Monte venceu o leilão para construir a linha de transmissão necessária para distribuir a energia que ali será gerada. O empreendimento foi e continua ser resultado de um processo que vem de longe, desde começo dos anos 70 do século passado. Seus passos (basta ver as matérias publicadas aqui em O Empreiteiro) têm sido obstados desde a insinuação de que a idéia do projeto da construção da usina hidrelétrica no rio Xingu seria colocada no papel. A partir de então os ânimos se aceleraram e se acirraram. E a curva do rio Xingu passou a ser um ponto de interrogação e controvérsia. Como se todo o empenho em favor de novos aproveitamentos hídricos na região tivessem necessariamente de passar ou parar por ali. Em algumas áreas houve até quem pretendesse transformar Belo Monte numa enorme barreira contrária a outras iniciativas do gênero.
Hoje, no entanto, as coisas andaram. O consórcio, formado por Furnas Centrais Elétricas S. A., com 24,5%; a State Grid Brazil Holding S. A., estatal chinesa no Brasil desde 2010, com 51% e a Centrais Elétricas do Norte do Brasil S. A. (Eletronorte), com 24,5%), colocou-se na linha de frente e venceu o leilão. Ele ofereceu uma proposta de remuneração anual de R$ 434.647.038, – valor considerado 38% menor que o teto fixado pelo governo.
Possivelmente surgirão críticas aqui e acolá em torno do leilão, do qual participaram mais dois consórcios, o Abengoa Construção Brasil Ltda. e o Consórcio BMTE, formado pela Transmissora Aliança de Energia Elétrica e pela Alupar. Os posicionamentos, contudo, consideraram as regras previamente acordadas e divulgadas. Por elas, venceria o leilão o consórcio que aceitasse receber o menor valor pela construção e operação das linhas ao longo da concessão, cujo prazo é de 30 anos. E o cronograma é preciso: a linha deve começar a operar até 46 meses após a assinatura do contrato (grifo nosso).
Há um pormenor a ser destacado: o governo afirma que esta linha de transmissão será a primeira do País com tensão de 800 kv, que permite menor perda de energia durante o transporte. Ela terá capacidade de transmissão de 4 mil MW.
Embora, com a definição de consórcio e cronograma de construção da linha, os passos de Belo Monte devam ser apressados, o fato é que a hidrelétrica ainda tem uma ampla trajetória de serviços – e contrapartidas sociais – pela frente. Ela começará a funcionar em fevereiro do ano que vem, mas a conclusão total das obras só ocorrerá em 2019. É um empreendimento custoso – R$ 28,9 bilhões – com potência de 11.233 MW e que, quando em plena operação, deverá gerar 4.571 MW médios.
Até lá, no entanto, muita água estará correndo pelos vertedouros. E ela deverá estar preparada para novos obstáculos, pois os que a ela se contrapõem continuam acordados dia e noite. E com representantes de aldeias indígenas à frente.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira