A produtora de celulose Bracell anunciou recentemente investimentos de R$ 5 bilhões em suas operações em Lençóis Paulista (SP). Metade desse aporte será repassada para a construção de uma nova fábrica de papel tissue, que está sendo construída ao lado da planta de celulose. A outra parte do valor será destinada a uma unidade de produção de clorato de sódio e peróxido de hidrogênio, componentes químicos utilizados no processo produtivo de celulose.
Nos últimos quatro anos, a operação de celulose da empresa representou um investimento de mais de R$ 15 bilhões no País. Segundo a Bracell, pertencente ao grupo asiático Royal Golden Eagle (RGE), líder global na produção de celulose solúvel, a nova operação de papel tissue – material usado em guardanapos, papel higiênico, papel toalha, lenços de papel etc. – será a maior do gênero da América Latina. As obras civis começaram em abril e a previsão é de que a fábrica esteja operando em 2024. Já a unidade de clorato de sódio e peróxido de hidrogênio ainda não tem definição do início da construção.
A nova fábrica contará com quatro linhas para produção de papel tissue, que serão convertidos em dois produtos: papel higiênico e papel toalha. Com capacidade produtiva de 240 mil toneladas por ano, a fábrica será, segundo a empresa, “uma das mais modernas e sustentáveis, 100% automatizada e irá a operar totalmente livre de combustíveis fósseis”. “Nossa nova fábrica de papel tissue será a unidade mais produtiva do Brasil.
Esse projeto reforça nosso comprometimento de investir no País, contribuindo com a produtividade e sustentabilidade de maneira transversal ao negócio. É um marco que nos deixa bastante otimistas com as perspectivas de desenvolvimento, pois queremos agregar valor e expandir ainda mais as operações downstream de papel tissue”, afirma Praveen Singhavi, presidente da Bracell. Para Eduardo M. Aron, diretor Unidade Negócios de Tissue, a expectativa é que a simbiose industrial integre não apenas a atividade econômica, como também os esforços da Bracell para o meio ambiente e bem-estar da comunidade. “Por meio do intercâmbio de matéria- -prima, energia e água, reduziremos os impactos resultantes da nossa atividade industrial, além de custos operacionais”, promete.
Na fase de construção, é esperada a geração de mais de 2.000 postos de trabalho e, para a operação, serão 550 empregos permanentes. Em Lençóis Paulista, município distante 250 km da capital paulista, a Bracell afirma ter a fábrica de celulose “mais verde e moderna do mundo”.
A operação é livre do uso de combustíveis fósseis, capaz de produzir fibras renováveis a partir do plantio sustentável de eucalipto. A planta dispõe de uma caldeira de biomassa que utiliza resíduos do próprio eucalipto e de outras substâncias originadas no processo produtivo da celulose, incluindo licor negro, para gerar energia renovável.
A fábrica, que tem duas linhas que operam de forma flexível, podendo produzir celulose solúvel e kraft, é um esforço da Bracell para expansão da sua capacidade de produção das atuais 250 mil toneladas/ ano de celulose kraft, para 1,5 milhão de toneladas/ano de celulose solúvel ou até 3 milhões de toneladas/ano de celulose kraft, e representa “o maior investimento privado no Estado de São Paulo nos últimos 20 anos”, conforme afirma a companhia em comunicado.
FERROVIA VAI LIGAR FÁBRICA A PEDERNEIRAS
Para melhorar a logística de produção, a Bracell se prepara para a construção de um ramal ferroviário conectando a sua fábrica de Lençóis Paulista ao terminal intermodal de Pederneiras (SP).
Os investimentos previstos são da ordem de R$ 250 milhões. De acordo com os estudos, a ferrovia terá 19,5 km de extensão. Segundo a empresa, a engenharia básica já foi concluída e agora estão sendo finalizados os estudos de impacto ambiental (EIA-Rima). Atualmente, a celulose produzida em Lençóis Paulista segue por rodovia até o terminal intermodal de Pederneiras, em um trajeto de 35 quilômetros de distância, vencido por uma frota de 130 caminhões.
Em Pederneiras, a Bracell, em parceria com a MRS, construiu um terminal e um ramal dedicados ao transporte de celulose, um investimento de R$ 58,5 milhões. O espaço dispõe de armazém com 9,6 mil m², destinado à recepção, estocagem, manuseio e expedição da produção. Para além de construir fábricas do zero, a estratégia de expansão dos negócios do grupo RGE no Brasil sempre incluiu aquisições de empresas consolidadas.
As operações do grupo no Brasil começaram, em 2003, com a aquisição da Bahia Specialty Cellulose (BSC) e da Copener Florestal, na Bahia. Em agosto de 2018, a atuação da empresa foi ampliada com a incorporação da Lwarcel Celulose, em São Paulo. RGE foi fundado em 1973 e seus ativos atualmente ultrapassam US$ 30 bilhões.
Com mais de 60 mil funcionários, o grupo tem operações na Indonésia, China, Brasil, Espanha e Canadá. Em janeiro deste ano, o grupo, por meio da Bracell, assinou acordo para aquisição da OL Papéis para reforçar sua entrada no mercado de papel tissue. A presença das marcas da OL está concentrada na região Nordeste, com fábricas na Bahia, em Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos, e em Pernambuco, no município de Pombos.
Em maio, após a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), os ativos da OL Papéis passam a fazer parte da empresa. De acordo com Aron, a aquisição das operações, tanto de fabricação quanto de marcas, é um elemento-chave no plano de tissue da Bracell no País. “A atuação da OL Papéis, aliada à nossa expertise e tecnologia, vai fortalecer nossa visão de desenvolver produtos cada vez melhores e competitivos para o setor de tissue”, afirma. Fundada em 2007, a OL Papéis detém a segunda posição em market share de papel higiênico no Nordeste – região que concentra cerca de 1/5 do volume do mercado total nacional. Suas operações abrangem cinco marcas de papel higiênico, outras cinco marcas de papel toalha para cozinha e guardanapos, além de uma para fraldas.
Bracell já opera no Nordeste, tendo atuação em 36 municípios do litoral norte, agreste e recôncavo da Bahia, incluindo uma fábrica no Polo Industrial de Camaçari. Com capacidade instalada para produzir anualmente 500 mil toneladas de especialidades de celulose, a companhia é a única fabricante desta matéria-prima no Estado, atendendo aos mercados nacional e internacional com componentes para as indústrias de alimentos, cosméticos, medicamentos, tecidos, pneus, tintas e eletrônicos.
Nova fábrica em números
A nova unidade de papel tissue da Bracell em Lençóis Paulista contará com estrutura moderna e sustentável, garante a empresa. Isso inclui o tratamento de efluentes. Mas, segundo a empresa, o detalhamento desse processo será apresentado após a finalização das obras civis.
O diretor Unidade Negócios de Tissue assegura que a fábrica apresentará zero emissão de dióxido de carbono para atmosfera e consumo de água. “Com tecnologia de ponta, terá muitos diferenciais que contribuem com a preservação do meio ambiente, um dos maiores compromissos da Bracell”, ressalta Eduardo M. Aron, destacando que a fábrica será totalmente integrada à produção de celulose da Bracell. “A sinergia entre as unidades de produção de celulose e a fábrica de tissue otimizará o uso de matéria-prima, energia e água, reduzindo os impactos resultantes da atividade industrial, além de custos operacionais”.
O terreno onde a nova unidade está sendo erguida ocupa um espaço de 250 mil m², sendo que 90 mil m² será de área construída. Para a estrutura da planta, que terá 3.800 pilastras, serão consumidos 55.300 m³ de concreto e 5 mil toneladas de aço. Cerca de 100 km de cabos elétricos serão instalados na unidade. Atualmente, a construção está nas fundações, sendo que as empresas responsáveis pelas obras civis são as construtoras Afonso França, Diase, Cava e Barbieri. A previsão de finalização das obras