Brasília completa 51 anos de fundação no dia 21. Vê-la hoje é ver a subversão de tudo o que ela foi ou deveria estar sendo. E pensar que, na simplicidade da linguagem de Lúcio Costa, que a planejou, ela nasceu de um gesto primário. Primário, sim. O poeta do planejamento urbano deixou o seguinte registro para a história: "… nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz".
A partir dessas premissas, o planejamento foi concebido. A cidade adquiriu a identidade de uma cruz ou de um homem com os braços abertos. Ela começou a ser construída em "correta adaptação à topografia local, ao escoamento natural das águas, à melhor orientação, arqueando-se um dos eixos a fim de contê-lo no triângulo eqüilátero que define a área urbanizada".
Brasília foi um começo e um meio. Pioneira, em sua concepção, desenvolveu-se de acordo com a genialidade de Niemeyer, na previsão de sua funcionalidade. Depois, extrapolou. Hoje, a luta que se trava ali é para que não perca os seus limites, preserve-se como um bem do pensamento, da técnica urbanística e da capacidade de sugerir soluções para os seus mil e um problemas de cidade grande. Mas, como é difícil. Brasília chega aos 51 anos procurando proteger-se das agressões de toda ordem contra a orientação urbanística que a distingue internacionalmente. Está ferida e subvertida.
A aventura humana da criação e construção de Brasília é a história de uma utopia. A utopia resistirá aos próximos 51 anos?
Aldo Rebouças
Nossa homenagem ao professor Aldo Rebouças, do Instituto de Geociências da USP, um pioneiro nos estudos das águas subterrâneas no País. Nos anos 1960 ele dirigiu uma diretoria da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e considerava que boa parte da água subterrânea local, protegida da evaporação, poderia resolver o problema secular da seca nos nove estados da região. O professor Aldo Rebouças morreu ontem, aos 73 anos, em São Paulo-SP.
Fonte: Estadão