Dois empreendedores, Sebastião Camargo e Sylvio Brand Corrêa, criaram um nome, em 1939,que se tornou uma marca na engenharia brasileira: Camargo Corrêa. A empresa, que este ano completa 70 anos de atividades, ajudou a modernizar o Brasil e se internacionalizou: uma história para a HistóriaA história começou muito antes, quando o nome Sebastião Camargo foi registrado em um cartório da cidade de Jaú, interior paulista. Ele nasceu em 1909 e, aos 17 anos, já transportava terra numa carrocinha puxada à tração animal. Ele iniciava, assim, a trajetória de "empreiteiro", uma situação que veio a consolidar em 1939, quando, com o advogado Sylvio Brand Corrêa, fundou a Camargo Corrêa & Cia. Ltda. Engenheiros Consultores, assim registrada na Junta Comercial de São Paulo. A época, naquela década de 1940, veio a proporcionar oportunidades aos empreendedores. Por conta da II Grande Guerra a indústria siderúrgica começou a enraizar-se no País, simultaneamente ao aumento das possibilidades do mercado de consumo interno, que aos poucos iniciou, embora de modo muito incipiente, o processo de substituição dos produtos importados. A empresa, que assinara o seu primeiro contrato de trabalho para fazer um trecho de 12 km da estrada Banhado Grande-Mina de Pescaria-Mina de Espírito Santo, em Apiaí (SP), não demoraria a projetar-se: logo assumiria a construção de estradas, leitos ferroviários, pistas de aeroportos e outras obras. O Brasil do pós-Guerra queria crescer. E a Camargo Corrêa era uma das empresas que se colocaram à disposição dessa vontade nacional de crescimento. Seis anos depois assumiria o nome que a projetaria para o futuro: Construções e Comércio Camargo Corrêa, atualmente, uma das empresas do Grupo Camargo Corrêa. Ao completar, em setembro último, 70 anos de atividades, a empresa tem uma configuração organizacional moderna e dinâmica e um portfólio de empreendimentos que a distinguem aqui, em outros países da América Latina e na África. Mantém 27 mil empregados; responde por 33% da receita bruta do grupo, correspondente a R$ 5,1 bilhões, apresentando uma taxa de crescimento de 59,2% em comparação ao ano anterior e uma carteira de negócios da ordem de R$ 13,2 bilhões, que já registra números crescentes de projetos ao longo deste ano. Por conta do que foi, da manutenção de seus valores de origem e pelas realização em favor da modernização brasileira, a Camargo Corrêa foi eleita, pela Revista O Empreiteiro, a Construtora do Ano.Uma trajetória ascendenteBasta olhar o mapa da engenharia. A leitura mostra a trajetória da empresa ao longo de sete décadas. Houve mudança de cenário político, econômico e social. Mudaram governos. A economia sofreu altos e baixos. Vieram os diversos planos econômicos, na tentativa de bloquear ou resolver as crises internas ou produzidas por fatores externos. Mas a empresa continuou, amoldandose aos cenários econômicos e às circunstâncias adversas, recriando-se e se reestruturando para crescer. Uma das fases de maior crescimento em suas atividades de origem - obras de infraestrutura - depois das experiências com a construção das usinas hidrelétricas Euclides da Cunha, Limoeiro e Graminha, em território paulista - veio com os aproveitamentos hidrelétricos da década de 1960 no rio Paraná.Ela construiu o Complexo Urubupungá, incluindo a hidrelétrica de Jupiá (l.400 MW de potência instalada) e Ilha Solteira (3.200 MW de potência instalada), inaugurando, nessas obras, conceitos e técnicas absolutamente inovadores na área da construção de grandes barragens, tais como: o desvio do rio pela casa de força; utilização de stop-logs flutuantes; lançamento de concreto a baixas temperaturas e outras técnicas executivas posteriormente empregadas em outras grandes obras que assumiu: as hidrelétricas Porto Primavera, Água Vermelha, Nova Avanhandava, Rosana, Salto Santiago, Segredo, Salto Osório, Itaipu e Tucuruí (primeira e segunda fase). Mais recentemente passou a construir as hidrelétricas de Serra da Mesa, Barra Grande, Campos Novos, Serra do Facão, Salto do Pilão, Batalha, Foz do Chapecó e iniciou os trabalhos para um dos maiores empreendimentos dessa área, atualmente, no País: a hidrelétrica Jirau (3.450 MW de potência instalada). Simultaneamente àquelas hidrelétricas, ela também assumiu obras do gênero no exterior, dentre as quais Guri, na Venezuela, e Porce III, na Colômbia. Simultaneamente às obras na área energética, a construtora atuou, como continua a atuar, em outros segmentos da infraestrutura. Buscou e aprimorou técnicas avançadas na construção do metrô paulistano e dos metrôs do Rio de Janeiro, Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Salvador (BA) e Fortaleza; construiu obras de arte especiais e abriu estradas que se tornaram exemplos do desenvolvimento da engenharia rodoviária. São ícones, nesse sentido, a Rodovia dos Imigrantes e as rodovias Ayrton Senna e Bandeirantes.No capítulo de artes especiais cabe destacar, além da Ponte Rio-Niterói, a ponte que ela constrói atualmente sobre o rio Negro (ver matéria específica nesta edição), ligando aquela capital a outros municípios do Estado, abrindo a possibilidade de uma conexão regional com o Sul e o Sudeste, desde que venha a ser construída, proximamente, outra ponte sobre o Solimões e prossigam as obras de recuperação da rodovia Manaus-Porto Velho. A construtora acumulou apreciável experiência com a construção de aeroportos, incluindo o de Manaus e o de Guarulhos, e tem avançado muito nos segmentos de petróleo e gás, construindo ou modernizando refinarias ou fazendo gasodutos e oleodutos. Ela tem-se revelado apta a operar em todas as áreas da engenharia, abrangendo as obras off-shore. As obras, aos 70 anosA construtora vem informando que atualmente trabalha para tornar-se empresa global de construção, dedicandose a projetos de grande porte que não tenha foco apenas no Brasil, mas na América Latina e no sul da África. A empresa constrói a Linha 2 (Verde) do metrô paulistano, que interliga o Alto do Ipiranga à Vila Madaalena, com 3,4 km de extensão. As obras incluem o acabamento da Estação Sacomã e as obras civis do Pátio Tamanduateí e de suas vias de acesso, o acabamento das edificações, instalações hidráulicas e elétricas, o paisagismoe urbanização. Além disso, ela participa do consórcio que constrói a Linha 4 (Amarela), que ligará o centro à zona oeste da cidade e que terá função importante no esquema logístico previsto para a Copa do Mundo de 2014.Dentre outras obras muito significativas que a empresa vem fazendo no Brasil estão a construção da unidade de coqueamento retardada da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) em Araucária, no Paraná, e a construção do mineroduto Minas-Rio, conforme contrato assinado com a MMX Mineração e Metálicos.No exterior, ela vem desenvolvendo trabalhos em Moçambique (sudeste da África), participando do projeto e instalação da mina de carvão de Moatize, da Vale, que deverá ser uma das maiores do mundo e está desenvolvendo a usina hidrelétrica Mphanda Nkuwa, com potência instalada de 1,5 MW. Em Angola, já se tornou a terceira empresa brasileira em volume de contratos. Mantém, ali, três frentes de trabalho: cuida da reurbanização de Luanda e desenvolve obras de saneamento e estradas. Contudo, continua a manter raízes sólidas na América Latina. Na Venezuela, reconstruiu a barragem da represa de El Guapo, destinado ao restabelecimento do abastecimento de água para a população de Miranda, a cerca de 150 km de Caracas e assinou carta de intenções, com o Ministério do Meio Ambiente, para construir a barragem de Cuíra, reservatório estratégico para o abastecimento de água à região metropolitana daquela capital. Um dado a ser registrado é que a Camargo Corrêa foi a primeira construtora brasileira a atuar na Venezuela. Construiu a hidrelétrica de Guri, na década de 1970.Uma nova estruturaorganizacionalO crescimento da empresa e seus desdobramentos em um mercado globalizado e competitivo levaram suas lideranças a prepará-la para o futuro. A partir de setembro do ano passado, a área de construção do Grupo Camargo Corrêa, passou a concentrar negócios e atividades em projetos e obras de grandes estruturas, identificados com a busca e aperfeiçoamentos tecnológicos em todos os segmentos da engenharia.Unindo o passado ao presenteA rigor, a Camargo Corrêa de hoje, não lembraria, considerada a questão de escala, a Camargo Corrêa de seus primórdios. Vai longe o tempo em que ela assinou o contrato para fazer a terraplenagem e a pavimentação de pistas e pátios de manobra da Base Aérea de Santos. Ou dos trabalhos, em 1944, para construir um trecho de três quilômetros da Via Anchieta. Da mesma forma, vai longe o tempo em que ela adquiriu o seu primeiro trator - isso em 1946 - quando assumiu o nome que tem agora. E, na empresa, quem se lembra da época em que ela comprou um dos primeiros mainframes para gerenciar custos e incrementar a produtividade? Na paisagem interna tudo mudou. Mas alguma coisa não mudou: os valores deixados pelo fundador Sebastião Camargo. Sobre isso - e sobre a unificação de princípios que une a empresa de hoje àquela empresa do passado - a revista está publicando a entrevista que o presidente da Camargo Corrêa, engenheiro Antônio Miguel Marques, concedeu ao jornalista Nildo Carlos Oliveira.70 anos: um processo deaprendizado e renovaçãoNo ano em que a Camargo Corrêa completa sete décadas de atividades, o presidente da empresa, Antônio Miguel Marques, diz a Nildo Carlos Oliveira, da Revista O Empreiteiro, que a experiência até aqui acumulada, "é um processo eterno de aprendizado e renovação"Engenheiro formado em Engenharia de Minas pela tradicional Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto-MG, com expertise em diversas áreas de atuação, Antônio Miguel Marques está à frente da direção da Camargo Corrêa, convencido de que o futuro da empresa depende visceralmente de sua permanente capacidade de renovação. Esta renovação, segundo ele, está ligada aos valores que a Camargo Corrêa vem construindo desde a sua fundação, contribuindo, com notáveis obras de infraestrutura, realizadas aqui e no exterior, para o desenvolvimento e projeção da engenharia brasileira. A seguir, a íntegra da entrevista.O Empreiteiro: Aos 70 anos, como a Camargo Corrêa se organiza a fim de assegurar o futuro da organização?"Ela se organiza e se aprimora dando prioridade aos recursos técnicos e humanos que possui, sem desvincular-se um só momento de seu passado. Esse passado, construído tijolo a tijolo, é a base que a projeta para o futuro. Os valores que ela preserva são muito fortes dentro do espírito da organização. Deixados pelo fundador Sebastião Camargo, e preservados pelas gerações que foram se sucedendo, continuam presentes em todas as atividades da empresa. São os valores do empreendedorismo, das pessoas, de nossa capacidade de inovação, da ousadia das equipes e do empenho em buscar e desenvolver tecnologias."Mas o mundo mudou. E, nesse cenário, como a empresa se reinventa e se atualiza?"Obviamente o mundo se recicla. E, em razão disso, a Camargo vem-se atualizando para atender às necessidades crescentes de nossos clientes, nos mais diferentes nichos de mercado da engenharia. Ela é uma empresa que se especializa permanentemente em obras da maior complexidade, de que é exemplo, dentre outras de nossas obras, a construção da ponte sobre o rio Negro, em Manaus-AM. Especializamo-nos em obras que se distinguem por diferenciais os mais ousados, seja em termos de porte, de conteúdo tecnológico a ser aplicado nas diversas fases da construção ou do ponto de vista de logística, no Brasil ou no exterior. As áreas em que atuamos estão bastante claras. A Camargo Corrêa é líder mundial em obras de hidroeletricidade. Nessa área, nós temos participado, de uma maneira ou de outra, de alguns dos maiores projetos internacionais. Eu diria que dos cinco maiores projetos do mundo, estivemos em quatro: à exceção de Três Gargantas, participamos da construção de Itaipu, Guri (Venezuela), Tucuruí e Ilha Solteira. Agora, estamos em outra obra da maior relevância técnica e econômica: a usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia. Com esse currículo, a empresa é, hoje, reconhecidamente, líder no segmento da hidroeletricidade. Outro campo no qual ela registra uma série de vantagens comparativas, em termos de Brasil, é o setor de óleo e gás. Nós temos crescido nesse segmento. Temos investindo fortemente nele, tanto no upstream, que é a produção de petróleo, por intermédio da construção de embarcações, navios-sonda, plataformas de petróleo e equipamentos em cuja fabricação estamos envolvidos, quanto no que a gente chama de downstream, que é a parte de refino. Estamos participando da construção ou ampliação e reforma de grandes refinarias, sem nos esquecermos da questão do transporte de gás e de outros materiais , segundo as exigências logísticas. Construímos os pipelines - os grandes gasodutos, oleodutos, polidutos. Outro foco importante de nossas atividades são os mercados de mineração e metalurgia, onde há também obras de grande porte e de muita sofisticação técnica no processo de implantação. Compreendem a parte de infraestrutura e as demais interfaces. Um projeto de mineração requer ampla estratégia que invariavelmente inclui a necessidade da construção de cidades para as atividades de apoio logístico. Podem ser maiores ou menores, mas são cidades, com toda a carga de exigências para que possam funcionar autonomamente: urbanização, paisagismo, saneamento, redes de energia elétrica e de abastecimento de água, escolas, postos de saúde etc. Ao mesmo tempo, falando especificamente da obra - seja ela de mineração ou metalurgia - há a necessidade de se construir a infraestrutura, a montagem industrial e o desenvolvimento de processos para que o conjunto entre em operação. Hidroeletricidade, mineração e metalurgia - eis alguns dos nichos de mercado em que estamos atuando fortemente.E grandes obras que interferem e provocam transtornos no meio urbano?"Queremos enfatizar que obras urbanas de grande porte constituem outro segmento de muita importância para a Camargo. Obras de infraestrutura para transporte público de massa, por exemplo. Quando enfocamos esse tema, não podemos deixar de falar de metrôs e de nossa experiência nesse campo. Trata-se de um nicho muito complexo do mercado da engenharia. Mas é bom salientar que construir metrô, hoje, é muito diferente da construção de metrô, há algumas décadas. Essas obras perturbam muito menos do que perturbavam no passado, quando participamos da construção da Linha 1 do metrô paulistano. Atualmente participamos da construção da Linha 2 e a cidade, tenho certeza, às vezes nem se apercebe de que estamos trabalhando. Cuidados com o meio urbano, com os equipamentos utilizados, tudo contribui para que obra do gênero não se converta em transtorno para a população. A experiência da empresa vem sendo aplicada também nas obras da Linha 4 (Amarela). Assim como construímos metrôs, construímos ferrovias. Tanto ferrovias para transportar pessoas, quanto para o transporte de cargas. Afinados com as complexidades desse trabalho, estamos fazendo pesados investimentos nas mudanças tecnológicas necessárias para aprimorarmos a nossa capacitação e atendermos às exigências ferroviárias do País. Recentemente buscamos a associação com uma empresa da Inglaterra, líder na implantação de ferrovias no mundo, para proporcionar ao Brasil o que há de melhor em termos de tecnologia e conhecimento em projeto e execução de malha ferroviária. Acabamos de construir 70 km de ferrovia no complexo de bauxita da Alcoa em Juriti, no oeste do Pará, e estamos desenvolvendo, também, um projeto ferroviário desse tipo para a Vale." E a área de saneamento? Quais os passos da empresa depois do marco regulatório? "Temos uma rica tradição nessa área, na qual o Brasil passou por um grande dilema, até o advento do marco regulatório. A carência desse marco não permitia que tivéssemos muita clareza sobre o alcance dos poderes da União, estados e municípios em relação a concessões para obras de saneamento. Hoje, esse instrumento - Lei 11.455/2007 - está em vigência e, a partir dele, passamos a nos preparar para atuar plenamente no mercado do saneamento, segundo o conceito de projeto estruturado, desenvolvido pela empresa. A lei estabelece que estados e municípios atuem segundo a Política Federal de Saneamento e fixa controle social sobre a prestação de serviços, nessa área.Por conta de nossa experiência nesse campo, construímos atualmente uma das maiores obras de saneamento da América do Sul: uma estação de tratamento de esgoto que está sendo implantada na região da Grande Buenos Aires e que terá capacidade para tratar até 33 m³/s. Ela faz parte do Programa de Saneamento Integral do governo argentino, sendo comparável, pela ordem de grandeza, ao Sanegran, o plano de saneamento concebido, em São Paulo, durante a administração do governo Paulo Egydio. Agora que o Brasil já conta com o marco regulatório, essencial, nessa área, vamos propor soluções para resolver problemas de saneamento, sugerindo a execução de obras segundo o nosso conceito de projeto estruturado. Além daquela obra na Argentina, estamos executando a segunda maior obra de tratamento e abastecimento de água do Peru, a Huachipa, localizada na região metropolitana de Lima - um projeto da ordem de US$ 270 milhões. Um dado significativo é que nos mantemos fiéis as nossas conquistas técnicas de origem, quando construíamos rodovias, ferrovias e obras de arte especiais. Nesse sentido, estamos presentes em diversas obras, dentre as quais, as do Rodoanel".E o pré-sal. Como a Camargo está se estruturando para essa nova fase do desenvolvimento brasileiro?"É uma nova fase, sim. Estamos preparados para esse novo desafio brasileiro. A Camargo é proprietária do Estaleiro Atlântico Sul, o complexo industrial, em Suape-PE, hoje o mais apto para a produção dos equipamentos que essa nova etapa de extração e exploração de petróleo, no fundo do mar, passa a exigir. Adicionalmente ao conhecimento e à absorção de tecnologia própria, nessa área, buscamos outras estratégias para atender à demanda que as operações do présal venham a requerer. Tanto assim, que simultaneamente a essas iniciativas, estamos estabelecendo parcerias com empresas estrangeiras nessa área. A principal demanda do pré-sal na fase atual são equipamentos de navegação e perfuração, cujas primeiras licitações serão disputadas pelo Estaleiro Atlântico Sul. Para outros serviços previstos, tais como construção submarina e implementação de poços, também estamos nos capacitando tecnologicamente."Projetos estruturados.Como isso funciona? Qual o alcance dessa, digamos assim, estratégia de trabalho?"Com a experiência acumulada ao longo do tempo, a Camargo Corrêa tem plenas condições de desenvolver umaobra, por mais complexa e desafiadora que ela seja, em todas as suas etapas. Ela pode realizar um projeto a partir do zero, do primeiro traço do desenho, e implementá-lo - incluindo aí toda a engenharia financeira necessária - até que a obra seja finalizada, entregue e em operação. Já fizemos isso em uma série de projetos, nos mais diversos campos. A participação da Camargo Corrêa na construção da Rodovia Transoceânica, no Peru, se insere nesse concei to. A Transoceânica é uma estrada de 2,6 mil km ao longo da Floresta Amazônica e dos Andes, que ligará o Brasil ao Pacífico. A construção da usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, é outro exemplo dessa modalidade de trabalho.Estamos aparelhados para o desenvolvimento de obras segundo o modelo das concessões, PPPs ou outro qualquer modelo. O projeto estruturado funciona na área privada, com concessão ou sem concessão, e atende a todas as exigências que acaso nos sejam feitas."E o atual modelo de crescimento brasileiro? Como a Camargo se encaixa nesse processo?"Da melhor maneira. Temos tecnologia, estamos aparelhados do ponto de vista de possibilidades segundo os mais modernos métodos construtivos e temos buscado vantagens comparativas, compatíveis com as necessidades do País nos nichos aqui já mencionados: óleo e gás, mineração, metalurgia, hidroeletricidade etc. Somos, hoje, a empresa que mais desenvolve projetos no Brasil. Dentre outros, temos aí por exemplo, os projetos de Belo Monte, Marabá, São Luiz do Tapajós e Serra Quebrada.E não podemos esquecer, no conjunto de nossas estratégias, a importância que conferimos à questão da sustentabilidade ambiental. Ela é uma das preocupações da Camargo e as soluções que vimos adotando, visando à sustentabilidade ambiental, se torna visível em diversos canteiros de obras. Haja vista, as obras de Barra Grande, Salto do Pilão, Campos Novos, Foz do Chapecó e Batalha, onde, em parceria com Furnas Centrais Elétricas implantamos um programa de recuperação florestal e compensação do CO2, objeto de uma apresentação, este mês, num congresso internacional de grandes barragens, em Lyon, França. A propósito, com a usina hidrelétrica de Batalha, no rio São Marcos, na divisa de Goiás e Minas Gerais, já conquistamos quatro certificados relacionados à questão da sustentabilidade ambiental."E como está se dando a inserção da empresa no mercado internacional?"Está se dando de forma cuidadosa. É feita a prospecção, conquistados os contratos e, a partir daí, há uma mobilização em toda a estrutura da empresa para apoiar a nossa presença nos países estrangeiros em que nos instalamos. O mercado internacional é diferente do mercado brasileiro. E temos aprendido, in loco, as especificidades desse mercado. Há países em que a inserção ocorre mais rapidamente, com a assimilação da cultura local; em outros, o processo é mais demorado. Mas em todos eles contabilizamos casos de sucesso. A internacionalização acontece de forma gradual e sustentada. A área internacional da Camargo Corrêa, nos países em que atuamos, já sustenta a operação, seus investimentos e crescimento. Esse crescimento pode se ampliar nos próximos anos."Caso a Camargo viesse a apontar, hoje, uma de suas vulnerabilidades, qual seria essa vulnerabilidade?"Uma vulnerabilidade que poderíamos apontar, não é da empresa, mas do mercado, de uma forma geral. Nesses últimos 20 anos houve um apagão na formação e treinamento dos novos profissionais da engenharia. Esse apagão é preocupante. O nosso crescimento, que no fundo reflete o crescimento do País, exige que criemos núcleos de especialização para capacitar as nossas equipes para cada tipo de obra que estamos construindo.Para enfrentar essa situação, criada em razão dos últimos 20 em que houve falta de obras e, portanto, deixou de haver formação de novos quadros na engenharia, mantemos um programa de recrutamento em diversos setores. Um programa de formação profissional nos permite admitir cerca de 120 novos engenheiros, em processo de formação, todo ano. Contamos, para esse fim, com o Programa Jovens Profissionais junto a algumas universidades. Depois de formados, esses jovens profissionais passam por um programa de formação e capacitação. Em seguida, são colocados nas obras. Resumindo: o primeiro ponto de nossa estratégia é formar pessoas para descentralizar decisões. O segundo é contar com uma área de apoio muito forte. Isso nos permite manter quadros altamente especializados para atender à engenharia de processo a fim de que possamos continuar a construir com melhor qualidade e com maior rapidez".A Camargo Corrêa hoje é setuagenária. O que significa, para uma empresa desse porte, ter ingressado na faixa dos 70 anos?"Significa que, para ela, chegou a fase do recomeço. A empresa está, a partir de hoje, recomeçando os seus próximos 70 anos."Crescimento e formação de pessoalA Camargo Corrêa mantém uma política pela qual procura compatibilizar o crescimento de recursos humanos, ao crescimento da empresa no mercado da engenharia. A empresa informa que de 2007 para cá praticamente dobrou o crescimento. Saiu de R$ 2,5 bilhões de faturamento para R$ 6 bilhões. A rigor, a capacidade de crescimento da empresa está diretamente ligada a sua capacidade de formação de pessoas, as quais estão capacitadas para assumir o nível de responsabilidade e complexidade dos projetos contratados.A Camargo Corrêa considera que o sistema atual de gestão que vem adotando, para fazer face ao seu processo de crescimento, é singular no mercado, proporcionando-lhe total condição de controle e confiança.Um dos pontos importantes do sistema adotado, é que o gestor se conscientiza de que as ferramentas de que necessita para aquele fim, são importantes para que exerça o completo domínio de negócio no dia-a-dia. As ferramentas fundamentais, colocadas nas mãos dele pela empresa, permitem que ele acompanhe todos os lances da obra. Monitore, por exemplo, a velocidade do volume de lançamento de concreto; o índice de consumo de material que será utilizado numa fôrma; o índice de produtividade do equipamento usado numa terraplenagem, e assim por diante. No conjunto, ele tem à vista, on line, o custo homem/hora, a produtividade e outros itens imprescindíveis ao acompanhamento diário. No final do mês, pode ter em mãos uma planilha detalhada que lhe permite avaliar a compatibilidade do serviço efetivamente executado, com aquilo que foi planejado, podendo corrigir eventuais desvios. Outro instrumento de trabalho da empresa é a possibilidade de ter em mãos uma análise de risco pormenorizada de cada projeto, do mais simples ao mais complexo, já na fase em que ele pôde ser conquistado. Elaborado o contrato, faz-se a análise de risco e se chega à possibilidade de mitigá-lo - seja ele um risco construtivo, financeiro, ambiental, geológico, logístico ou trabalhista. o. A part ir dessa análise, a empresa dispõe do instrumento de controle de cada etapa do contrato. Isso lhe proporciona a garantia que a obra contratada é rigorosamente aquela que foi planejada. Segundo a empresa, essa orientação vem tendo reflexos muito positivos na política voltada para a questão da sustentabilidade ambiental, social e econômica que vem adotando. Crescimento e formação de pessoal Campos Novos, maior racionalidade em canteiroLogística e experiênciaSem uma engenharia de logística cuidadosamente elaborada, e sem a capacitação que somente a experiência consegue proporcionar, muitas complexas obras de engenharia não sairiam sequer do papel. Imagina-se que o gasoduto Urucu-Manaus seria uma dessas obras. Logística e experiência. Com esses dois valores profissionais, conquistados no dia-a-dia de trabalho, a Camargo Corrêa pôde, integrando o consórcio de que participou com a Skanska, construir 330 km daquele gasoduto, superando os obstáculos técnicos da obra, somados aos obstáculos naturais da selva, a topografia local e as condições dos rios amazônicos. O engenheiro Celso Ferreira de Oliveira, diretor de operações da Camargo Corrêa, lembra alguns dos episódios vividos na fase de construção da obra - um gasoduto de 670 km de extensão, destinado ao transporte de 4,7 milhões de m³ de gás natural por dia. Ela foi dividida em três trechos, cabendo ao consórcio da Camargo Corrêa o que vai de Anamã a Manaus. "Foi em plena selva amazônica. Passamos por vários cursos d´água e o principal deles foi a execução de tubulação concretada no fundo do lago Manacapuru. Somente o transporte das peças, que depois teriam de ser concretadas, significou uma desafiadora operação logística", diz Celso Ferreira. Para executar essa operação - transporte, lançamento e concretagem dos tubos - foi necessário montar um canteiro móvel, dotado da mesma tecnologia utilizada pelos Estados Unidos na invasão do Kwait. A empresa levou para a área dos trabalhos canteiros infláveis, adquiridos nos EUA, dotados de todas as condições de conforto: alojamento, banheiro e tratamento de esgoto. E todo o lixo produzido durante os dias de trabalho teve, depois, de ser tratado e levado a local previamente escolhido para esse fim, em obediência à legislação referente à preservação ambiental. "De modo que, quando deixamos o traçado ao longo do qual colocamos a tubulação do gasoduto, ficou ali apenas a faixa de domínio. Não ficou nenhum vestígio da presença humana, exceto o resultado de nosso trabalho e da técnica usada para executá-lo.", diz Celso Ferreira. Ele informa que a Camargo Corrêa adota uma técnica própria para transportar e colocar seus recursos humanos e técnicos em obras situadas em regiões remotas. A empresa consegue mobilizar e transportar até 7 mil pessoas, seguindo a orientação de uma logística cuidadosamente planejada, a exemplo do projeto de Juruti. E há um pormenor: ela consegue triplicar a capacidade de formação de pessoal, a partir do momento em que sai de um empreendimento para outro. Se há originalmente 100 soldadores, esse número sobe para 300 ou mais, na medida em que há um processo dinâmico de aprendizado no canteiro. Da mesma forma, há os que começam como soldadores e, depois, saem como encarregados ou para o exercício de outras funções. Invariavelmente, a empresa emprega pessoas da região onde a obra se realiza, a fim de aproveitar a mão-de-obra local. "Em nosso processo de treinamento", explica o diretor, "mantemos uma unidade de produção, que chamamos célula de trabalho. É composta de um encarregado e de 20 profissionais". No dia-a-dia, as equipes vão se aperfeiçoando, num processo contínuo de aperfeiçoamento e qualificação. Assim, logística e experiência, não são apenas palavras; tornam-se ações. Fonte: Estadão