Em fins da década de 1990, o escritor Mario Vargas Llosa, hoje Prêmio Nobel de Literatura, veio assistir ao Carnaval no Rio de Janeiro e escreveu artigo a respeito. A crise econômica estava braba, mexia com os humores de todas as bolsas de valores e instilava receio na sociedade.
Por aqui se falava, como sempre se falou, na necessidade da melhoria da infraestrutura, de ampliar e conservar estradas, colocar as ferrovias em ordem e cuidar do transporte público, essa eterna promessa que administração nenhuma jamais cumpriu em tempo algum. E, pelas ruas do Rio, aguçava-se o frenesi provocado pela expectativa em relação aos dias de folia.
Em outras áreas a conversa era sobre o processo de desindustrialização. Àquela altura já ficava claro, para muitos empreendedores, que era mais negócio implantar indústrias em regiões longe do País, do que industrializar aqui dentro. A moda estava pegando. E a Ásia, sobretudo a China, acenava com essas possibilidades. Tanto assim, que a indústria automobilística norte-americana encolhia em seu território de origem. Os carros poderiam ser produzidos lá fora a custos muito mais vantajosos. E o mesmo acontecia aqui no Brasil, para desgraça da indústria têxtil e da indústria de calçados, além de outras. No Nordeste, os artesãos que ganhavam o sustento fazendo alpercatas tratavam de aposentar as suas ferramentas. Produzir alpercatas para quê, se por lá chegavam as havaianas?
Mas, voltemos ao Vargas Llosa, que analisava a cidade, onde durante quatro dias tudo se metamorfoseava. A população renunciava às suas preocupações e angústias, preconceitos e expectativas, para abandonar-se aos excessos e extravagâncias.
Ao final, o escritor concluía, em seu artigo: “Os conservadores podem dormir tranquilos: enquanto existir o Carnaval, não haverá nenhuma revolução social no Brasil”. Acaso ele estava certo? Acaso estaria errado?
Fonte: Nildo Carlos Oliveira