Guilherme Azevedo – Piracicaba (SP)
A unidade objetiva remanufaturar dez mil componentes por ano, atuando exclusivamente no mercado de reposição. No mesmo local, a empresa também instalou linha de montagem de mangueiras hidráulicas de baixa, média e alta pressão, com expectativa de entregar 1,5 milhão de unidades/ano, para consumo próprio, em seus equipamentos. O investimento anunciado é de R$ 20 milhões, com retorno esperado em dois ou três anos.
As instalações, com 10 mil m2 de área, vinham sendo ocupadas pela empresa de produtos automotivos Delphi e foram locadas pela Caterpillar. É um longo galpão retangular de alvenaria, de pé-direito alto, distante 1 km da fábrica de máquinas que a empresa mantém em Piracicaba desde 1976, onde concentra também suas operações administrativas no País — Campo Largo (PR) é a outra localidade brasileira com unidade fabril da empresa.
A remanufatura de componentes e a montagem de mangueiras empregam inicialmente 80 funcionários diretos, incluindo os encarregados da administração. Outros 15 devem chegar ainda este mês e mais 30 em março do ano que vem. No Brasil, a companhia emprega cerca de 6 mil funcionários.
Consumo menor
Durante a cerimônia de inauguração, o presidente da Caterpillar Brasil, Luiz Carlos Calil, destacou o valor da sustentabilidade dos componentes remanufaturados, uma vez que o processo de recuperação, ou salvamento, consumiria 85% menos energia, 90% menos água e 99% menos matéria-prima do que a fabricação de um componente novo. O processo de remanufatura, afirma Calil, difere do de retífica porque envolve uma série de processos industriais que devolve a utilidade ao componente como se novo fosse, com garantias de qualidade e desempenho iguais.
Conforme explica o analista de qualidade Almir Freitas Vieira, indicando cada uma das etapas num giro pelo chão da fábrica, o processo de remanufatura começa com a desmontagem completa do componente, peça por peça, parafuso por parafuso. Depois vem a fase de lavagem das peças, numa comprida máquina automatizada, para retirada de impurezas, como tinta e ferrugem. O teste com sistema magnaflux joga a seguir luz ultravioleta sobre as peças, para saber se há algum tipo de trinca nelas. Então, com um quadro claro em mão, se efetuam possíveis reparos, se remontam os conjuntos, que ganham outro número de série, e nova embalagem.
No revendedor
Mas como é que se compra um componente remanufaturado? Segundo José Eduardo Fonseca, gerente-geral de remanufaturados da empresa para o Brasil, tudo começa no atendimento ao cliente, feito por um revendedor Caterpillar. A compra é sempre efetuada ali, com o depósito do que chamam de casco, o componente usado que o cliente vai deixar para levar o remanufaturado no lugar. Esse casco vai ser avaliado pelos técnicos da unidade de Piracicaba e considerado como de aceitação total ou parcial; também poderá ser rejeitado, caso não tenha condições de ser salvo.
Com base nessa avaliação é que se calculará o desconto ao cliente. O fator preço é provavelmente o principal atrativo na aquisição de um remanufaturado, pois, segundo os executivos da Caterpillar, pode custar 40% a 60% menos que um novo. “A remanufatura é uma característica que é sempre interessante para o cliente, com vantagens econômicas para ele”, valoriza o presidente Calil, com sorriso de anfitrião que não sai do rosto, olhos miúdos por trás dos óculos de aro fino e bigode discreto, quase imperceptível.
O principal executivo da companhia no Brasil também avaliou o contexto econômico brasileiro e disse que os investimentos em infraestrutura ainda precisam de uma definição mais clara do governo. Considerando o momento “um pouco nebuloso”, entretanto, se mostrou otimista com as oportunidades de longo prazo no País. “Vai ser de muita demanda nos próximos anos.”
A nova fábrica em Piracicaba torna-se a 18a unidade no mundo da Caterpillar dedicada à recuperação de componentes, segmento que leva internamente o nome de CAT Reman. A remanufatura é uma das principais estratégias da empresa para o desenvolvimento sustentável dos negócios, conforme expresso no seu relatório de sustentabilidade.
Fonte: Revista O Empreiteiro
