Cenário e senso políltico

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Pedem-me para ser menos pessimista. E eu tento. Mas a realidade não deixa. A cada tentativa para rir, talvez dar uma gargalhada no começo da manhã, lá vêm as notícias cotidianas. E elas não têm nada de engraçado.

 

Para o governo, as coisas aparentemente têm solução simples. Há escassez de energia? Tudo bem.  Ele inventa uma maneira de compensar a redução das taxas de luz, aumentando o preço. Vem aí, por exemplo, o aumento de até 83% no preço da bandeira tarifária. É um mecanismo automático, que repassa a alta do custo ao consumidor.

 

Para o consumidor, não há mesmo remédio. Nem rota de fuga. Quando o governo se vê apertado, sabe que deve espremer a população até lhe roubar o último centavo que acaso tenha no bolso. E, se há falta de água, a culpa não é do governo, que deixou de fazer o dever de casa, examinando planos, ativando equipes para buscar soluções técnicas de médio e longo prazo.  A culpa, primeiro, é do consumidor e, segundo, de São Pedro, que não cuidou de mobilizar nuvens pesadas sobre as represas e fazer chover a quantidade satisfatória para evitar o esgotamento.

 

Nesse cenário, vêm as notícias sobre a Petrobrás. Imagino o rosto do velho Lobato.  Um dia, numa carta ao escritor Godofredo Rangel, disse ele: “Meu plano é um só: dar ferro e petróleo ao Brasil”.  Dar ferro não foi fácil.  Mas o engenheiro Eliezer Batista contribuiu muito para que o plano de Lobato saísse da esfera do sonho e se transformasse em realidade. Nas duas vezes em que presidiu a então Companhia Vale do Rio Doce mostrou de que o País seria capaz no campo da mineração. Já quanto ao petróleo, tudo andou bem nos primórdios. A Petrobras cresceu, agigantou-se no mundo, até que, em especial no começo da década passada, o governo decidiu trocar os técnicos pelos políticos. E botou os políticos onde pontificavam os técnicos. O resultado foi esse que estamos vendo. Os políticos escangalharam a estatal e colocaram em risco o sonho de Lobato. As informações da responsabilidade de partidos políticos no desmanche da principal empresa brasileira é de provocar calafrios. Calafrios e ódio. Porque dói na consciência a falta de consciência de quem manipula o poder em favor unicamente do próprio bolso. Onde já se viu um partido político ser acusado de receber até 200 milhões de dólares de propina? O escândalo não é mais estadual ou nacional. É internacional.

 

Por isso, aos que me pedem que politicamente amanheça menos pessimista, lembro uma frase clássica do Nelson Rodrigues: “Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral”.  

 

 

 

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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