Nildo Carlos Oliveira
As chuvas continuam. E as mortes também. O drama só muda de semana para semana, ou de um mês para outro, embora aconteça inevitavelmente todos os anos. Mudam também as vítimas. Mas as tragédias são análogas e, as regiões, invariavelmente as mesmas. Varia o número de óbitos. Às vezes para menos, às vezes para mais. É uma sequência traumática, que não chega a ser monótona, porque ainda há os que se surpreendem e se revoltam. Mas a revolta não vai além dos limites da impotência e do conformismo.
As chuvas castigam o Rio de Janeiro, sobretudo a região serrana; e São Paulo, nos pontos reconhecimentos identificados da Capital, não deixando de bordejar Minas Gerais, onde empurram mais vítimas para rios e enxurradas. Na região serrana as vítimas são soterradas por terra, árvores e pedras. Eventualmente atingem famílias inteiras, que não têm para onde correr nem a quem apelar. Nessas últimas ocorrências as sirenes de socorro revelaram-se ineficazes. Serviram apenas para a propaganda do governo do Estado e das prefeituras. Segundo as mensagens de enganação, finalmente os moradores poderiam contar com um instrumento que os avisaria, por antecipação, que poderiam correr a tempo. Mentira. Os sinais sonoros foram acionados de madrugada, mas não houve quem os escutasse ou tentasse fazer alguma coisa. A alegação era de que as equipes de socorro não conseguiriam chegar aos locais atingidos.
Nessa história de chuva e morte, o que tem ocorrido, sucintamente, é o seguinte: o administrador público, seja ele municipal, estadual ou federal, promete mundos e fundos. Se possível, promete até que vai mudar o rumo dos ventos e das chuvas. No fundo, apenas aguarda a passagem da tormenta e espera que os sobreviventes esqueçam-se das promessas e até da tragédia que viveram. Apostam na falta de memória da população para não gastar um mísero centavo com obras de contenção de encostas, drenagem, construção de moradias, etc. As vítimas da tragédia na região serrana, no ano passado – e de anos anteriores – estão aguardando até hoje, as casas que lhes foram prometidas. E sempre vem a surrada alegação de que, este ano, choveu mais na região do que em todos os anos anteriores. Mas, prestem atenção: sempre existirá uma desculpa para quem não quer fazer nada em favor da população desvalida e que não tem onde ficar, senão ficar permanentemente nas áreas de risco.
Fonte: Padrão