Todos os anos, invariavelmente nesse período, há dias em que a cidade fica submersa. E os cidadãos paulistanos sabem disso. Da mesma forma como não há administrador da cidade que não saiba disso.
O cronograma das ocorrências não sofre variações marcantes. Os tradicionais pontos de alagamento ficam intransitáveis. Árvores são arrancadas e projetadas no leito das ruas e avenidas. Congonhas é fechado para pouso e decolagem. Estações de trem e metrô deixam de funcionar. Perigo de deslizamento nas mesmas áreas de risco coloca em alerta a defesa civil. Contingentes de donas de casa ficam preparados para iniciar a remoção de lama e dejetos que arruínam mobílias e utensílios, quando não as residências. Barcos são improvisados para recolher náufragos. Há crianças que desaparecem nos bueiros. Carros ficam boiando nas enxurradas, nos rios e córregos. Os telefones param. Bairros ficam sem luz. E os semáforos, nos cruzamentos, deixam de piscar. Se é de noite, o medo dos cidadãos aumenta, pois estarão mais sujeitos aos arrastões. E quadrilhas se articulam para invadir lojas e domicílios.
No último episódio desse tipo, em que a cidade, ou parte da cidade, ficou submersa, até um clube social, no bairro paulistano mais rico, ficou submerso sob a lama que encobriu quadras de esporte e piscinas.
Fala-se que a solução para evitar as inundações, no período chuvoso, seria construir mais piscinões. Mas a cidade toda, nessa época, já não corre o risco de virar um grande piscinão?
Ironia à parte, caiamos na realidade: Se a administração sabe onde se encontram os tradicionais pontos de alagamento – e há jornais que até elaboram infográficos identificando-os um a um – por que previamente não se adotam soluções para resolver o problema ponto a ponto, pela raiz? Por que cruzar os braços e esperar que as tragédias não se repitam, quando elas, inevitavelmente, vão se repetir?
E os semáforos? A engenharia, nessa área, deveria ter evoluído, para que eles não dependessem da energia da rede convencional. Quando vêm as chuvas e, estas, provocam quedas de árvores e interrompem o fornecimento de energia, eles se transformam nos principais instrumentos da ampliação do caos.
Dizem que o prefeito Fernando Haddad vai dar um jeito nisso. Quem acompanha a vida da cidade ouve essa ladainha com ceticismo. Há décadas, com o tempo implacável pingando na ampulheta, promessa desse tipo é proclamada aos quatro ventos, a cada administração. Mas a cidade continua submersa.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira