Estamos no limiar de uma etapa em que um passo em falso ou indecisão pode comprometer as possibilidades do crescimento sustentável do País. Foi muito longo e penoso o caminho percorrido até aqui, a partir da década de 1980, que desaguou no Plano Real, na estabilização da economia, nas privatizações das telecomunicações e nas concessões da geração elétrica, rodovias e ferrovias. Para se avançar no rumo do crescimento sustentável, o governo dispõe, internamente, de estudos e propostas de empresários, economistas, políticos e de outros representantes dos setores mais diversos da sociedade. Conta, também, com os exemplos que chegam lá de fora, de países que já passaram por ciclos históricos e econômicos similares – e os superaram. Veja-se o ensinamento de uma nação, cuja economia vem crescendo a uma taxa de 10% ao ano, superior a das maiores economias do mundo e cujo PIB já superou o patamar de US$ 3,5 trilhões: a China. Passada a fase do maior líder político de sua história - Mao Tsé-Tung - Deng Xiaoping, cérebro da abertura de mercado, criou as zonas econômica especiais, e as políticas que alavancaram o processo de redução das diferenças sociais no imenso território. A China, movida pelo neocomunismo (o Estado mantém as rédeas do poder), aproveita competentemente o potencial do capitalismo para inversões nas suas indústrias, bem como na infra-estrutura. Da mesma forma, embora com nuanças diferentes, a Índia é hoje a 12ª maior economia do planeta, com um PIB da ordem de US$ 800 milhões (critério PPC – Paridade do Poder de Compra), embora o FMI a classifique na 135ª posição do ponto de vista de renda per capita. Ela rompeu o casulo de atraso milenar, desenvolve a indústria e faz a opção estratégica de atuar como um centro mundial de serviços para a Tecnologia da Informação. Liberou segmentos importantes da economia ao influxo dos investimentos externos, reduzindo as barreiras tarifárias à importação e modernizando as atividades financeiras, embora não se possa dizer que é um modelo em política fiscal. E, para falar em um exemplo mais próximo, está aí o Chile, que soube emergir da ditadura do general Pinochet, e se apoiou na estrutura de uma economia aberta e estável para atrair investimentos externos e dar soluções para a infra-estrutura necessária ao seu crescimento. Há exemplos, portanto, nos quais podemos nos espelhar, tanto agora, quanto em passado histórico. Lembramos que vêm de longa data, até mesmo do período romano, quando o Império soube construir – e legar à posteridade – uma malha de estradas, de que é ícone a Via Apia – mostrando a consciência de que a segurança do futuro se tece com os meios para a circulação de riquezas, gente e bens culturais. Nesta edição, 500 Grandes da Construção, que incorpora o Ranking da Engenharia Brasileira, o tema central é o crescimento sustentado. Há várias explicações para isso. Possivelmente porque as lições do passando recente – o êxito da privatização das telecomunicações e as concessões rodoviárias e em outras áreas da infra-estrutura, bem como a disseminação do desenvolvimento industrial na mineração, siderurgia, petroquímica e nos segmentos de papel e celulose, agronegócios e biocombustível entre outros – estejam a reclamar uma proposta articulada com o governo federal, para que o crescimento do País se sustente nas próximas décadas. E isso só ocorrerá com a estruturação de uma política de longo prazo, que não venha a se exaurir ao final de uma administração, mas na continuidade de todos os governos que venham a se suceder, independentemente das colorações políticas de cada um. É difícil fazer isso? É difícil, mas não impossível. Sigamos a filosofia do George Santayana, que dizia: “O difícil é o que se pode fazer imediatamente; o impossível é o que demora um pouco mais para ser feito”. Fonte: Estadão