Vamos falar um pouco de desigualdades. Há algum tempo comentávamos que um cidadão, formado em engenharia, preferia estudar mais um pouco e candidatar-se a um emprego, digamos assim, no Tribunal de Contas da União (TCU), para fiscalizar o andamento de obras públicas, do que seguir a carreira para a qual estudara. A escolha tem lá a sua lógica: ingressaria no serviço público ganhando R$ 12 mil, enquanto, como engenheiro, com disponibilidade para trabalhar no sertão ou na selva, mesmo na selva urbana, ganharia no máximo R$ 4 mil inicialmente.
Leio agora, em coluna de Gilberto Dimenstein, na FSP de domingo último, que nas empresas apontadas como as melhores para se trabalhar no País, o salário inicial, em média, é da ordem de R$ 3 mil. E, para se chegar até lá, a disputa não é nada fácil. O candidato concorre com cerca de 4 mil interessados. Já no Judiciário, os salários estariam em torno daquela média inicial do TCU: R$ 12 mil.
A disparidade – sem considerar vantagens de horários, estabilidade, e outras coisas mais – cria um reino à parte, que vai refletir-se, mais tarde, nas aposentadorias. O cidadão que se aposenta pelo INSS recebe cerca de 20% do valor que é recebido pela “elite econômica” de que fala Dimenstein. Uma elite enquistada no Poder Judiciário ou no Poder Executivo (federal). As desigualdades se ampliam entre os beneficiários dos reajustes que chegam para casta que está lá em cima e que empinam o nariz para os mortais comuns.
Jovens engenheiros, muitos dos quais com um conhecimento específico importante, vêem no concurso público a saída de emergência para ganhar mais. Contudo, estarão para sempre desviados de uma carreira profissional instigante. Com o sonho profissional mutilado, jamais serão os mesmos.
Fonte: Estadão