Diálogo mantido há algum tempo, entre os escritores Moacyr Scliar e Ana Maria Machado, na Academia Brasileira de Letras, resultou na feitura e publicação do livro Amor em texto, amor em contexto, lançamento da Papirus 7 Mares. Os dois se estenderam sobre questões da criação literária, condições do escritor e da realidade brasileira.
A conversa, transcrita, resume experiências de dois profissionais na arte de produzir romances, contos e histórias infantis, o que acaba derivando para problemas comuns que ambos enfrentam ao longo dos anos.
O que chama a atenção, nesse tipo de iniciativa, é que o diálogo se torna produtivo. Abre campo para a convergência de ideias e mostra que profissionais de outras atividades têm ali um exemplo de como intercambiar experiências em proveito de outros interessados.
É possível imaginar diálogo semelhante entre dois arquitetos. Ou entre engenheiros que calculam estruturas. Ou entre dois engenheiros com experiência em campos de atividades absolutamente opostos. Esses profissionais costumam se ver em almoços, seminários, encontros no Instituto de Engenharia, na Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), na festa dos 500 Grandes da Construção ou em outros eventos invariavelmente solenes, invariavelmente com tempo marcado no relógio para começar e terminar.
No geral, eles nunca se encontram sem tempo definido e com a finalidade apenas de conversar sobre o que os identificam ou o que os separam. Imagine-se um diálogo dessa natureza entre dois calculistas. Quem sabe, talvez uma conversa desse tipo haja acontecido entre Sérgio Marques de Souza e Joaquim Cardozo. Se ocorreu, que pena não ter sido registrada. O conteúdo daria um livro, que hoje outros profissionais estariam lendo e se enriquecendo com os pensamentos expostos.
Penso numa conversa descontraída entre o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos e outro profissional da mesma estatura. Ou entre dois engenheiros sanitaristas, cada um com uma carga de experiência vivida e aplicada. Que riqueza não teria sido, para o desenvolvimento da geografia, um diálogo semelhante entre os mestres Aziz Ab´Saber e Milton Santos.
No fundo, Moacyr Scliar e Ana Maria Machado deixaram a semente de uma ideia. Quem sabe outros profissionais, em outras áreas de atividades e do conhecimento geral, podem aproveitá-la em favor da vivência humana, que às vezes parece pobre, mas que é invariavelmente rica.
Fonte: Estadão