O Grupo Imetame está construindo do zero um terminal portuário multiuso em Aracruz (ES), com objetivo de abrir uma nova rota de embarque de cargas na costa brasileira. A um custo de R$ 2,7 bilhões, o terminal começou a ser construído em 2021. Para a primeira fase de operação, prevista para o segundo semestre de 2026, o porto contará com estrutura de cais com dois berços de contêineres e capacidade de movimentar até 300 mil contêineres. O porto da Imetame Logística será um complexo de terminais privados com administração portuária própria, incluindo terminais para contêineres, grãos, carga geral e granéis líquidos.
Segundo a companhia, os investimentos foram iniciados com recursos próprios e por meio de parcerias firmadas que garantem o capital investido na maior parte da obra, visando que o projeto seja fully funded. R$ 500 milhões foram financiados pelo Banco do Nordeste (BNB), uma vez que a cidade de Aracruz faz parte da Sudene. Durante o pico das obras está prevista a geração de 650 empregos diretos e 300 indiretos. No início das operações, cerca de 350 diretos e, com o crescimento do volume de cargas e concluídas todas as etapas do terminal, com o porto alcançando sua capacidade máxima, a empresa estima 1.100 empregos diretos e e 1.000 postos de trabalho indiretos.
O terminal terá profundidade de 17 metros e poderá receber navios de longo curso, com calado de até 16,5 metros, permitindo a operação de embarcações de grande porte que hoje ainda não operam no Brasil, como a nova geração de navios conteineiros New Post Panamax, com capacidade de 14.000 TEUs (unidade equivalente ao tamanho de um contêiner de 20 pés), além de ter capacidade para receber navios Capesize, com até 180.000 toneladas de capacidade.
De acordo com Anderson Carvalho, diretor de operações do Imetame Logística Porto, as obras seguem avançando. “Já construímos o Quebra-mar Norte (com 1.100 m) e está sendo finalizada a primeira etapa do Quebra-mar Leste (com 2.300 m), que exige a movimentação de cerca de 5 milhões de toneladas de rochas”, afirma. “Além disso, está sendo feita a dragagem com equipamentos próprios, a 12 m de profundidade e avançando para os 17 m de profundidade de projeto. Também avançou a construção do cais do Terminal de Contêiner, que alcançou 350 m de estacas cravadas, com a previsão de que, no final deste ano, 450 m de cais estejam prontos para os primeiros testes de atracação no início de 2026”, completa.
Carvalho lembra que, além de contar com o apoio de consultores com experiência na realização de importantes obras de engenharia no Brasil e em outros países, a própria Imetame, por meio da sua principal subsidiária, a Metalmecânica, está conduzindo as obras do porto, subcontratando os serviços de engenharia quando necessário. Dada sua importância, o grupo criou ainda uma empresa específica de dragagem para desenvolver essa atividade durante a construção, como destaca Carvalho.
“Um porto greenfield realizando sua própria dragagem. Entendemos isso como um case de solução construtiva. Assim como, para a construção do cais, a fabricação das estacas e outras peças pré-moldadas in loco é executada pela própria Imetame. Toda rocha, pedras de diferentes tamanhos para utilização em drenagem, base de piso, concreto, também são produzidos pela Imetame. Todo material é transportado com caminhões próprios, dentre outras soluções desenvolvidas durante a realização das obras.”
Em termos de tecnologia, o porto foi concebido para operar com padrão mundial, frisa Carvalho, integrando soluções de hardware e software que maximizem a eficiência, reduzem custos e proporcionem um serviço de alta qualidade. “Entre as principais tecnologias destacam-se o uso de sistemas avançados de gerenciamento da operação, equipamentos eletrificados e automação de processos”, diz.
No âmbito de software, ele cita o Terminal Operating System (TOS) robusto, que será o coração da gestão operacional. “Esse sistema otimiza toda a cadeia logística do terminal, desde o planejamento do pátio e do cais até o agendamento inteligente de caminhões e a alocação de recursos. Com o TOS, será possível reduzir tempos de espera, maximizar a capacidade de movimentação e oferecer previsibilidade em tempo real para os clientes. Outro diferencial é a otimização das operações de pátio e cais, baseada em algoritmos avançados. Essa solução garante que cada movimentação de contêineres seja planejada com o menor consumo de tempo e recursos, maximizando o uso da infraestrutura disponível.”
Adicionalmente, o porto contará com portões automatizados, integrados ao TOS, que permitem o fluxo contínuo de veículos sem necessidade de intervenção manual. Segundo o diretor, esse sistema não apenas melhora a experiência do transportador, mas também reduz congestionamentos, diminuindo o tempo médio de entrada e saída de caminhões.
“Tais tecnologias não apenas posicionam nosso porto como um dos mais modernos do Brasil, mas também proporcionam benefícios tangíveis, como maior previsibilidade, redução de custos e uma operação segura e sustentável, alinhada às demandas do mercado global”, frisa.
Carvalho afirma que a empresa está investindo em equipamentos de alta performance e sustentabilidade. “Nossos guindastes de cais (STS cranes) e de pátio (RTG cranes) serão totalmente eletrificados e preparados para operação remota. Essa configuração, além de reduzir significativamente as emissões de carbono, diminui custos de manutenção e operação. O funcionamento remoto garante maior segurança, rastreabilidade e precisão, reduzindo erros, otimizando a produtividade e, principalmente, preservando a integridade física do operador”, explica.
Entre os principais equipamentos que serão incorporados ao porto, estão os MHCs (Mobile Harbour Crane), para movimentação de cargas diversas, STSs (ship to shore/portainers – guindastes especializados para movimentação de contêineres nos navios), E-RTGs (Electrified Rubber-Tired Gantry – guindastes elétricos especializados para movimentação de contêineres no pátio, e Reach Stackers (empilhadeiras multiuso para movimentação de cargas no pátio), além de caminhões para transporte interno de carga e contêineres e empilhadeiras diversas para movimentação de carga desconsolidada no armazém. Em relação aos fornecedores e ao cronograma de entrega e montagem desses equipamentos, o diretor diz que eles “ainda estão em negociação, e as informações quanto à instalação depende do fechamento do processo de compra e assinatura dos contratos”.
O terminal de contêineres entrará em operação com capacidade de movimentação anual de 300 mil TEUs e quando operar em capacidade total terá condições operacionais para movimentar cerca de 1,6 milhão de TEUs. Já o terminal de carga geral e granéis sólidos (soja, milho e farelo) terá capacidade para 1,2 milhão de toneladas/ano mais 10 milhões de toneladas/ano, respectivamente, podendo ser maior, dependendo do tipo de carga a ser movimentada.
O terminal de granéis líquidos terá três berços de atracação, sendo dois berços para operação de navios tipo Suezmax/VLCC, na modalidade ship to ship, com capacidade para 1.000.000 de barris/dia e um terminal de bunker (para abastecimento de navios), suportado por dois sistemas de dutos e um parque de tancagem de 110.000 m³.
Com localização privilegiada, às margens da ES-010, ligação para a BR-101 e a 80 km ao norte de Vitória, o porto terá conexão ferroviária com a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), com um ramal ferroviário de aproximadamente 7 km, viabilizando um novo corredor logístico centro-leste. Ele será vizinho do estaleiro Jurong e do porto de Barra do Riacho, onde está localizado o Portocel, terminal privado da Suzano e Cenibra, especializado na operação de papel e celulose, como também de carga geral.
Segundo a Imetame, a região tem potencial para se transformar em um forte polo de desenvolvimento social e econômico. A demanda por capacidade portuária e solução logística moderna na região é crescente, principalmente em função da atividade industrial e tradings no Espírito Santo, além do avanço da agricultura, pecuária e agroindústria no Centro-Oeste e em Minas Gerais, que fazem parte da área de influência direta do porto.
“Essa condição operacional permitirá ao terminal da Imetame a possibilidade de ser um porto concentrador (Hub), principalmente para os serviços da Ásia, conectando os mega navios que atuam nas rotas internacionais com os navios de cabotagem/feeder, que farão a distribuição dos contêineres para os portos no Norte, Nordeste, Sul do Brasil e do Mercosul”, afirma Anderson Carvalho.
Transpetro contrata dois berços de atracação no Complexo Portuário da Imetame
O Complexo Portuário de Aracruz deve receber a primeira operação de transbordo entre navios (ship to ship) da Transpetro, subsidiária da Petrobras, realizada no Espírito Santo. A Imetame assinou com a Transpetro memorando de entendimentos para avaliar o arrendamento de dois berços de atracação. Segundo fontes das empresas, o acordo deve ser confirmado ainda neste semestre.
“Essa parceria está alinhada à nossa expectativa de iniciar as operações com alta performance, de forma segura e sustentável. Acreditamos na consolidação deste acordo, e para isso, envidaremos todo esforço necessário para que a Imetame Logística Porto agregue valor a toda a cadeia de óleo e gás”, afirmou, em nota, o CEO da Imetame Logística Porto, Gilson Pereira.
Já o gerente executivo de Desenvolvimento de Novos Negócios e Comercialização da Transpetro, Gustavo Rosindo, destacou que a empresa avalia a parceria para expandir as soluções logísticas no Espírito Santo, atendendo às demandas do setor de óleo e gás. “O Estado tem localização estratégica, favorecendo rotas de embarcações e fluxo de produtos. A partir da concretização do acordo com a Imetame, poderemos ampliar nosso alcance estratégico, especialmente no Sudeste, próximo às Bacias de Campos e de Santos e ao Espírito Santo”, destacou o executivo, em nota.
Fundador do grupo foi torneiro mecânico da Aracruz Florestal
O grupo Imetame tem 44 anos de existência, sendo composto por um conjunto de empresas com mais de 5.000 colaboradores, com sede em Aracruz e que atua na área de metalmecânica, exploração de O&G e geração de energia, com termelétricas e campos de gás próprios, e na mineração, por meio da exploração e beneficiamento de rochas ornamentais para exportação e atendimento ao mercado interno e externo.
Seu fundador e principal acionista, Etore Selvatici Cavallieri, trabalhou como torneiro mecânico na Aracruz Florestal. Em 1980, ele deixou a empresa e resolveu apostar em um negócio próprio, percebendo a oportunidade nos serviços excedentes de usinagem e soldagem, que eram terceirizados. Com isso, fundou a Imetame Metalmecânica em um pequeno galpão de 50 m². Atualmente, o grupo compreende diversas empresas e tem faturamento anual na casa de R$ 2 bilhões.