Enfrentando estresse e situações de perigo

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A Petrobras conta hoje com 103 plataformas no País. Fixas, auto-eleváveis, com pernas atirantadas, semi-submersíveis, navios-sonda e tipo Floating, Production, Storage and Offloading (FPSO). Não importa os tipos utilizados, a curiosidade é sempre saber como vive um trabalhador de plataforma, como atua, quais são os perigos e os principais diferenciais entre as mais modernas e as plataformas do passado. O engenheiro civil e de petróleo Eduardo Uêta exerceu atividade offshore na Bacia de Campos entre 1978 e 1984, trabalhando como engenheiro fiscal na área de completação de poços. Por causa disso, embarcou na maioria das plataformas existentes na época e navios-sondas. Uêta conta que no início do desenvolvimento da produção da Bacia de Campos, o sistema de trabalho era de sobreaviso, ou seja, o trabalhador ficava à disposição da empresa 24 h por dia. “Tínhamos diversas funções e a principal era realizar testes de formação de poço aberto ou revestido, para caracterização das propriedades dos fluídos e dos reservatórios e, posteriormente, completá-los com coluna de produção e árvore natal molhada (conjunto de válvulas submarinas de controle do poço, também chamadas ANM), disponibilizando o poço para a produção”, diz. Uma época, relembra Uêta, em que era normal trocar idéias com funcionários das plataformas vizinhas para solução de problemas que ocorriam nos poços em intervenção. Tudo isso num período em que o sistema de comunicação era via freqüência de rádio e o contato com a base era feito somente durante o dia. “Qualquer desvio de programação do poço durante o período noturno era o fiscal quem tomava a decisão por si próprio”, conta. Depressão técnica As maiores tensões, relata Uêta, que atualmente é consultor de Engenharia de Poço na Unidade de Negócios da Bacia de Campos, ocorriam em situações de iminência de perigo, fadiga devida à falta de descanso vinculada à ocorrência de problemas em poço sem solução imediata. “Isso nos fazia entrar em depressão técnica”. Não foram poucas as situações de perigo. A que mais o emocionou ocorreu em uma madrugada em que as condições do mar estavam péssimas e associadas a ventos de alta intensidade. “Duas amarras do sistema de ancoragem se romperam, fazendo a sonda SS-1 (Zephy II) derivar rapidamente. Ela se deslocou e ficou com alta inclinação, comprometendo sua estabilidade. Foi lastreada para ser colocada no nível de segurança”, relembra. Porém, o que a equipe não contava é que a sonda estava sendo sustentada pelas âncoras remanescentes e, principalmente, pela coluna de risers de completação, a qual que estava conectada à ANM e à cabeça do poço. Para evitar a ruptura do poço, o que poderia poluir o mar, a decisão foi liberar a coluna de risers na ANM. “Mas essa ação motivou outro desespero na tripulação, pois a sonda derivou novamente, transmitindo a sensação de afundamento”. A primeira solução seria lançar ao mar o sino de mergulho com quatro mergulhadores saturados com reservas de gás limitadas a 20 h de respiração. “Mas aconselhei o encarregado de mergulho a não fazer isso, porque esses mergulhadores não teriam chance de sobrevivência. Por sorte, um rebocador conseguiu se aproximar e segurar a sonda, trazendo paz novamente ao ambiente”, afirma Uêta.
Fonte: Estadão


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