Estamos assim: o cidadão vai à procura de notícias políticas e não encontra outro assunto senão notícias policiais.
A campanha à Presidência desanda e desequilibra os ânimos. No Rio, o candidato é xingado e atingido por bolinhas de papel e rolo de adesivo. Em Curitiba, jogam balões de água na candidata. E, na retaguarda do candidato, os adversários se chocam, partem para o corpo-a-corpo aos socos e pauladas.
Evidentemente o cidadão caça outros temas. Mas, em outra página, lá está um jornalista acusado de haver obtido, por meios ilícitos, dados de pessoas do campo político que seus contratados pretenderiam prejudicar. Enquanto isso, os dois lados da campanha se acusam de montarem farsa. E o presidente da República, de quem sempre se espera uma atitude no mínimo, “republicana”, não adota uma posição reflexiva, ponderada, que estimule o retorno à velha arte de fazer política.
O jeito é procurar outro noticiário. Mas é colocado de frente para a situação dos hospitais. As filas continuam crescendo. O atendimento é precário. Há gente morrendo antes de chegar à sala de espera ou aos corredores. Ao lado dessas misérias há outras, pipocando ao seu lado. É a insegurança generalizada que hoje extravasa das ruas intensamente movimentadas, se esparrama pelas alas feéricas dos shopping centers, e chega à Cidade Universitária, onde os furtos de carros se multiplicam. O aluno deixa o seu veículo no estacionamento, vai para a aula e, quando volta, se descobre absolutamente a pé.
Mas, há uma esperança. Leio que moradores de Santa Cecília, no centro paulistano, redescobrem a importância de se associarem, discutir as questões do bairro e partir para a mobilização para cobrar do poder público coisas miúdas, mas vitais à convivência e ao dia-a-dia: cestos de lixo, pontos de ônibus, limpeza, rampas de acesso nas calçadas. Eles apuraram que, se não agirem coletivamente, continuarão entregues à própria sorte.
Fonte: Estadão