O colunista Alvaro Costa e Silva escreveu na Folha de São Paulo sua crítica que tem por título “Entre o buraco negro e o beco sem saída”, no dia 1º de fevereiro passado, indicando que as emendas parlamentares “sugaram mais de R$148,9 bilhões em cinco anos” (…). Segundo a coluna, “Em 2024, cada deputado teria levado ao menos R$ 38 milhões em emendas, a maioria de execução obrigatória aprovada pelo Congresso” (…). “Mais obras em redutos eleitorais, com transparência zero”, escreveu o colunista.
O editorial indica que o repórter Fabio Victor da Folha revelou em 2011 que R$ 2 milhões oriundos de emendas foram destinados para as obras do Teatro Municipal de Patos, no Sertão da Paraíba. O teatro teve construção paralisada várias vezes e finalmente foi abandonado.
O colunista apontou ainda que Campo Formos (BA), recebeu R$63 milhões para obras de pavimentação, com resultados a comprovar. Ele pergunta: “Com tanto dinheiro rolando, quantas histórias semelhantes existem Brasil afora?”
No extremo oposto deste cenário, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que tem 50 mil km de rodovias federais não concedidas para manter operando, sofre de cortes de verbas e carência de quadros técnicos há anos. Ainda em 2022, a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) publicou um estudo que projetou a demanda por investimentos para manutenção da rede rodoviária federal em R$ 11 bilhões a 12 bilhões nos anos de 2019 e 2020, contra o efetivamente executado pelo DNIT de R$ 7,4 bilhões. Para 2022, o orçamento necessário permaneceu no mesmo patamar, quando os recursos liberados somaram apenas R$ 6 bilhões, segundo a CNI.
A implosão do que sobrou da ponte JK em Tocantins é um exemplo chocante desse quadro. Construída há décadas vinha apresentando vibrações com o tráfego de caminhões. O DNIT realizou uma inspeção que detectou uma centena de anomalias na estrutura da ponte. Uma licitação foi programada para os reparos da ponte, mas o certame resultou “deserto”, porque todos os participantes foram desqualificados. O colapso da JK ocorreu em 22 de dezembro do ano passado, provocando 14 mortes entre os usuários. O restante da estrutura foi implodida e um consórcio foi contratado em regime emergencial para a reconstrução da ponte, a ser entregue até dezembro de 2025.
Na esfera municipal, nas 500 maiores cidades brasileiras, as carências da infraestrutura urbana são gigantescas.
São Paulo, a maior região metropolitana do País, sofre com as avenidas marginais alagadas com chuvas pesadas há cerca de 50 anos! O eleitorado precisa se mobilizar para exigir que esses alagamentos tenham fim, sem mais desculpas… É hora de retirar também as placas de “áreas sujeitas a inundação” espalhadas pela capital, que de tão velhas estão enferrujadas.
O governo paulista convocou os prefeitos para lançar um programa de projetos de drenagem nos municípios. Agora, os prefeitos contam com financiamento para licitar os estudos e projetos de drenagem. Eles ainda têm 4 anos pela frente, tempo suficiente para ter os projetos em mãos e licitar as obras na urgência ditada pelas chuvas. Será que finalmente os prefeitos conseguirão superar a estigma de que obras “enterradas” que não dão “IBOPE” e nem votos? Cabe aqui lembrar que as inundações alagam a casa dos seus eleitores…
