Fenômeno de Campos Novos vira tema técnico de simpósio

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O 3º Simpósio sobre Barragens de Enrocamento com Face de Concreto, ocorrido entre os dias 25 e 27 deste mês (outubro) em Florianópolis (SC), com a participação da Construções e Comércio Camargo Corrêa e da Cnec Engenharia, incluiu as questões técnicas das hidrelétricas de Campos Novos e Barra Grande, cujas barragens estão entre as mais altas do mundo na modalidade.

A barragem de Campos Novos tem 202 m de altura e a de Barra Grande, 185 m. “Levamos para o simpósio o know-how de construção destas barragens”, disse Renato de Arruda Penteado, superintendente de projetos da diretoria de energia da construtora.

Inaugurada no início deste ano, a barragem da UHE Campos Novos está localizada no rio Canoas, estado de Santa Catarina, entre os municípios de Campos Novos e Celso Ramos, e tem capacidade instalada de 880 MW de energia. A obra apresenta volumes de 12.900.000 m³ de enrocamento, 405.000 m³ de transição processada e 49.500 m³ de concreto na laje de paramento da face da barrragem.

A construção do enrocamento da barragem principal da UHE foi considerada o maior desafio e caminho crítico para a execução da obra. A barragem exigiu a execução de volumes médios mensais de 700.000 m³ de enrocamento, durante um período de 18 meses. O planejamento e execução de um túnel de acesso na ombreira direita hidráulica da barragem facilitaram a logística. Campos Novos juntamente com Barra Grande foram as primeiras obras de usina hidrelétrica no Brasil a receber o certificado da ISO 14001.

A usina de Barra Grande está localizada entre os municípios de Anita Garibaldi em Santa Catarina e Pinhal da Serra, no Rio Grande do Sul. A obra possui três turbinas com capacidade para gerar 690 MW. A base da barragem de Barra Grande tem aproximadamente 500 metros e o topo 11 metros de largura.

Com a mesma quantidade de serviços de Campos Novos, Barra Grande destacou-se pelo arrojado planejamento da obra, com túneis de acesso aos condutos forçados, transição da tomada de água e túneis de desvio. A logística, criada pelos engenheiros da construtora, possibilitou adiantamentos ao cronograma do empreendimento através da execução de frentes de serviço simultâneas.

O Desastre de Campos Novos

A barragem de Campos Novos tem uma peculiaridade: um conjunto de fatores na estrutura de vedação do sistema de desvio chegou a mobilizar, em fins de 2005, técnicos do Brasil e do exterior, incluindo integrantes da equipe que resgatou o submarino nuclear russo Kursk. Em conseqüência desse desastre e dos reparos, a cargo do consórcio fornecedor de Campos Novos (Construções e Comércio Camargo Corrêa, Engevix Engenharia, CNEC e GE-Hydro Inepar do Brasil), a ocorrência se revelou amplo aprendizado para a engenharia de barragem.

O caso, objeto de reportagem de Nildo Carlos Oliveira, publicada na revista O Empreiteiro (edição 445 de agosto de 2006), chamou a atenção para um dos episódios mais interessantes da construção de barragem tipo enrocamento com face de concreto no mundo.

Conforme a reportagem, com a conclusão da barragem, tinham sido iniciadas as complexas operações para o fechamento das comportas e o enchimento do lago, o que começou a acontecer no dia 10 de outubro de 2005. Tudo transcorria tranqüilamente, quando a conjunção do efeito da deformação da estrutura com o efeito do vale confinado do rio Canoas sobre a barragem, provocou trincas na face de concreto. No túnel de desvio, fatores internos e externos ao projeto acabaram interagindo e concorrendo para o processo erosivo.

Especialistas em hidráulica e em comportamento de barragem de vários países, ao lado de técnicos do Centro Tecnológico de Hidráulica da Universidade de São Paulo e das universidades do Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro, participaram das análises do fenômeno ocorrido em Campos Novos. Dentre os consultores externos foram convocados também técnicos acostumados ao exame de obras em condições adversas em águas profundas, e consultores da Universidade de Berkley, Estados Unidos.

Do esforço conjunto resultou a solução indicada para vedar o fluxo do túnel 2, que era originalmente de 50 m³/s e foi reduzido para menos de 1 m³/s. A partir dessa patamar foram desenvolvidos os trabalhos para a construção do plug definitivo no túnel 2 de desvio.

Com as águas baixando, os técnicos mapearam as trincas na parede de concreto da barragem de enrocamento e as repararam, inclusive com a execução de trincas verticais, de modo a permitir a absorção das deformações ocasionadas pelo efeito da carga hidráulica nas condições de vale confinado.

O episódio de Campos Novos lembra os fatos ocorridos com a barragem de Angat, nas Filipinas. Ali, a estrutura que suporta a vedação se rompeu, liberando uma vazão cuja solução a engenharia de barragens buscou entre os técnicos mais reconhecidos nesse campo, com um pormenor: Angat tem 88 m de profundidade. Já em Campos Novos os trabalhos se desenvolveram a 150 m de profundidade.

Fonte: Estadão


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